Manuel A. Fernández Montecelo

 

 3 de Novembro de 2003 

 

 

      É comum pensar na Galiza e norte de Portugal como regiões periféricas, ambas estão longe das rotas comerciais europeias e geograficamente afastadas dos territórios mais dinâmicos e poderosos economicamente. Reparemos: utilizam-se as expressões "longe das rotas" e "geograficamente", que implicam que estão a maior distância/tempo da zona ou zonas consideradas centrais.

 

 

 

      Ainda há uma outra forma de ver a periferia, como a "distância tecnológica", nas telecomunicações e o que com eles se relaciona. Já hoje uma escola secundária não é privilegiada por estar perto duma boa biblioteca, se existir material electrónico disponível de qualidade comparável na rede; nem seria necessário morar perto de zonas onde realizar tarefas administrativas se houvesse uma administração electrónica que funcionasse bem. Se sou matemático ou tradutor de livros, que importa onde moro se posso enviar o meu trabalho aonde quiser em poucos segundos?

 

 

 

      Mas mais do que as vantagens concretas que se obtêm, podíamos reparar no contrário: que se passa com as pessoas leigas nos novos métodos de comunicação e de obtenção de informação? É difícil fazer comparações com problemas modernos parecidos, porque ainda não sabemos bem de todo o impacto que pode ter isto na sociedade, mas quiçá não erramos muito se pensarmos na situação dos camponeses que trabalhavam com métodos tradicionais, com a chegada de maquinaria especializada, ou uma pessoa na área administrativa duma empresa que não soubesse utilizar telefone, fax e aparelhos do género. Quem é que pode estar num posto administrativo hoje sem saber utilizar um computador? Quantas áreas mais podemos acrescentar? É possível a sobrevivência laboral à margem

 

destas tecnologias por uns anos, e muitas pessoas agora activas nos seus trabalhos continuarão a tê-los (ainda que perdendo competitividade) sabendo pouco ou nada, mas isto já não é possível para quem começa agora.

 

 

 

      Ainda falta o mais grave, porque não é apenas algo profissional: é algo integral na formação das pessoas. Se ainda restam dúvidas, então pensemos no futuro sócio-económico das áreas onde hoje há serviço de telefone ou electricidade deficientes e comparemos com o que se pode passar com estas tecnologias ainda mais recentes. Não só faltam empresas onde trabalhar, como também não se tem acesso (ou é muito mais restrito) a eventos culturais e serviços.

 

 

 

      Na Galiza existe muita menor percentagem de gente com acesso a computadores e à Internet que em outras zonas, sempre esteve marginalizada no campo das comunicações (de transporte, telefone e de todo o género) e também agora da tecnologia, com o cabo que só existe em algumas zonas urbanas, rede de telefone básica que não permite ligar-se mediante banda larga e a telefone rural, que não permite ligar-se a Internet de nenhuma maneira. São semelhantes os problemas com a rede eléctrica em muitas zonas. E o principal é que no ensino também não se está a fazer nada, em parte pela própria obsolescência de quem dirige e de quem tem de ministrar as aulas. Suspeito que o

 

mesmo problema acontece no norte de Portugal (salvo Porto, e talvez nos últimos tempos no resto das cidades), pela distribuição demográfica e outras características comuns desta nossa euro-região.

 

 

 

      É importante portanto não esquecermos que a formação (por outra parte nada simples, pôr diante dos alunos um computador sem mais não serve) nestas novas tecnologias é peça fulcral, pelo que podemos intuir, nas novas gerações das nossas sociedades ocidentais. Pode ser muito mais importante para uma zona periférica uma adequada actualização

 

tecnológica que uma estradinha mais ou menos rápida com ligação à cidade mais próxima.

 

 

      Não deixemos que, já estando na periferia no passado e presente, isto faça com que fiquemos também na periferia do futuro.

Ângelo Cristóvão

Secretário da Associação de Amizade Galiza-Portugal

Janeiro de 2004

 

Recentemente publicou-se na internet a página web das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal (IFGP) no endereço www.lusografia.org/ifgp, página onde está também a web da Associação de Amizade Galiza-Portugal. A IFGP está registada e legalizada no Reino da Espanha (1981) e na República Portuguesa (1991).

Das suas atividades salientamos a organização de congressos de língua, literatura e culturas lusófonas; a publicação de revistas (Nós, Cadernos do Povo, Temas de O Ensino e O Ensino) e livros de diversos temas (ensaio, poesia, teatro...).

Uma das suas atividades é a edição de livros e revistas. Durante os últimos 20 anos foi capaz de produzir mais de 60 títulos que acreditam a sua constância, dão fé da sua aportaçao à república das letras em português e demonstra a vontade da Galiza de fazer parte dessa comunidade que chamamos lusofonia. Presentemente esta associação está integrada por personalidades de diversos países, não sendo estritamente galega mas lusófona.

Foram também as Irmandades da Fala uma das primeiras entidades a empregar coerentemente o conceito de lusofonia, hoje de uso corrente. Foi no Encontro de 1988 em Madrid, com presença de intervenientes de todos os países lusófonos, na sa do Brasil e com presença do embaixador deste país.

 

Outro aspeto relevante a comentar é o facto de ter sido a principal associação promotora da participação galega nos Acordos Ortográficos de 1986 (Rio de Janeiro) e 1990 (Lisboa) através da Comissão Galega do Acordo Ortográfico. Sabemos que esta participaçao foi contestada por inteletuais como Vasco Graça Moura (In: Novo Acordo Ortográfico: afinal, o que vai mudar?). Mas negar a língua portuguesa à Galiza é negá-la a uma parte substancial da velha Gallaecia, onde nasceu a língua.

 

Uma forma de defender a língua é promover a unidade da escrita. E esta é uma caraterística dos lusófonos galegos: a defesa da unidade ortográfica faz parte do discurso da necessidade, enquanto se admitem os regionalismos léxicos, que enriquecem o conjunto do léxico português.

O Acordo Ortográfico de 1990 ficou in suspenso, não foi vigorado. Infelizmente há uma tradição portuguesa de intervenção política nos assuntos da norma linguística, o que tem vindo a prejudicar a autoridade das Academias. Tenho para mim que esta intervenção tem sido prejudicial e, no futuro, deveria situar-se no plano estritamente académico, como acontede no caso do espanhol. Melhor seria aos linguistas fazer o seu trabalho e manter os políticos longe destas questões. Um acordo ortográfico, por mínimo que seja, só pode ter consequências beneficiosas para todos. Esta foi e será a linha defendida pelas Irmandades da Fala e outras associações lusófonas da Galiza.

 

Poucas entidades públicas e/ou privadas podem apresentar este currículo tão valioso. Por todos os motivos expostos parece conveniente conhecer o que têm feito e atender ao que podem fazer no futuro. O endereço para contactos é: Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Ângelo Cristóvão

Secretário da Associação de Amizade Galiza-Portugal

 

          Estão os catalães e, em geral, muitas personalidades e instituições da língua catalã, seriamente preocupados com os projetos de secessão linguística do valenciano. O tema tem interesse pelos paralelismos evidentes com a política que, na Galiza, partidos políticos espanhóis (P.P. e P.S.O.E.) e instituições folclórico-linguísticas como o Instituto da Lingua Galega e a Real Academia Galega têm praticado para promover o “galego”, quer dizer, para afastá-lo do português.

          Já logo no início da transição política da ditadura de Franco à actual democracia, se tinha acrescentado o debate –desigual, desleal e até imoral- respeito da unidade do galego e o português, do valenciano e o catalão, e a pertinência do euskara batua (basco unificado). Nestes debates sempre os nacionalistas espanhóis defenderam a cultura local procurando a desagregação das “outras línguas”.

          O caso do Estado Espanhol contra o catalão resume-se na seguinte estratégia:

 1.- Criam instituições folclóricas com aparência académica (como a “Acadèmia Valenciana de la Llengua”) controladas pelo poder político (a presidente é Ascensió Figueres, (ex)vice-presidente do Partido Popular regional), à que outorgam a autoridade linguística oficial. Estas instituições recebem grandes quantidades de dinheiro que é utilizado para fomentar na população atitudes contrárias ao catalão. São beneficiadas também com toda a publicidade institucional possível, o que faz com que a população suponha que, na verdade, esse governo está a defender a cultura local.

 2.- Inventam nas universidades a “filologia valenciana” e começam a negar o reconhecimento administrativo aos licenciados em filologia catalã para leccionar essa língua na Comunidade Valenciana. Destarte reduzem o espaço económico e laboral desta língua. Na Galiza separaram em dois o curso de filologia galego-portuguesa. Os licenciados em português já não podem ministrar aulas de galego.

 3.- Probições: Promovem a utilização exclusiva de uma listagem de 200 termos “autenticamente valencianos”, obrigatórios na televisão valenciana e nos livros de uso escolar. Os termos catalães equivalentes são proibidos. Também na literatura escolar ficam excluídos os autores não nascidos no território da Comunidade Autónoma Valenciana, com alguma excepção como Ramon Lull e Maragall. O governo do P.P. só aprova os textos adatados a estes critérios. Na Galiza isto acontecia já a começos da década de 80, aprovando só os textos escolares que excluirem autores tão importantes como Camões

 4.- No nível mais prático há outros exemplos: a Biblioteca Nacional espanhola separa os livros valenciano/catalão, e galego/português. Quanto às escolas oficiais de idiomas, a ministra de cultura do governo de Madrid, Pilar del Castillo confirmou que, no próximo curso, poderá estudar-se “valenciano” e “também catalão”. Reparemos em que os poderes do Estado Espanhol têm boa disposição para gastar milhares de contos na divisão das outras línguas, enquanto reforçam a unidade do espanhol. No caso da Galiza o governo do P. P. nunca dá dinheiro para as publicações das associações lusófonas, enquanto o seu presidente, Manuel Fraga, publica livros em português, cheios de gralhas, com dinheiro público.

 5.- Uma parte dos intelectuais que anteriormente defendiam a unidade da língua catalã já não se importam com dizer só “valenciano”, e justificam a exclusão de léxico catalão a favor de expressões locais. Algum partido político da esquerda colabora na legitimação da secessão linguística com a escusa de, assim, “se aproximar mais do povo” e facilitar a sua difusão. Também na Galiza muitos supostos inteletuais se recusam a chamar português à nossa língua, com parecidos argumentos falaciosos.

          No fundo o que estão a fazer com o catalão na região de Valência é aplicar a ‘solução final’ que já levam duas décadas a aplicar contra o português na Galiza.

          Data de Publicação: 07/03/2004


 

Ângelo Cristóvão

Secretário da Associação de Amizade Galiza-Portugal

 

          Um problema tradicional na agricultura galega foi –e continua a ser- o minifundismo, originado no sistema de heranças e nas circunstâncias económicas dos concelhos mais próximos do mar. Tratava-se de um sistema de transmissão do património que produzia a subdivisão sucessiva dos terrenos até ficarem na mínima expressão numérica. Só a administração pública podia pôr remédio a este problema, e começou a corrigi-lo através dos planos de “concentração parcelar” iniciados na década de 70 e acelerados desde a posta em andamento da autonomia política da Galiza (1980). Em certos concelhos ainda não se tem iniciado pela oposição dos proprietátios mas, onde se tem levado a termo, os resultados têm sido bons. O minifundismo está associado a uma agricultura de subsistência e é incompatível com a rentabilidade. Para garantir o futuro das explorações agrícolas é precisa uma superfície mínima.  

          Outro dos instrumentos de uma política agrícola é a inspecção dos alimentos, de modo a garantir a saúde dos consumidores e a estabilidade dos mercados. Na situação atual do governo autónomo galego observo dois problemas: primeiramente é preciso reunir num só departamento as funções de inspecção que até ao momento são exercidas pelas Conselharias de Sanidade e Agricultura -por vezes nem se sabe a quem corresponde a jurisdição sobre a saúde dos produtos agrícolas- em segundo lugar é preciso acrescentar o número de funcionários dedicados a esta tarefa.

          Assumimos ser imprescindível uma ação de controle preventivo nos vários processos de produção, manipulação e comercialização dos alimentos. Este controle está a ser muito irregular: bom no relativo aos produtos cárnicos e nos ovos mas fraca nas produtos hortícolas. Esta carência não é devida a uma legislação insuficiente mas a uma incapacidade política. No caso dos inspectores de produtos fitossanitários o seu número está reduzido ao mínimo. Além do mais, sabemos que a sua função permanece inibida por ordens dos seus superiores. Temos visto como alguma associação de consumidores tem realizado análises de alimentos, dando como resultado a publicação de notícias relativas a resíduos de produtos químicos que nunca deveriam ter-se produzido. Mas as associações de consumidores não podem substituir os funcionários no seu dever.

          Mais um instrumento político infrautilizado na Galiza é a promoção das marcas originárias, as “denominações de origem”. Se bem que o nosso alvarinho (Rias Baixas) tem sido apoiado com relativo sucesso, o sector com maiores possibilidades e de mais fácil acesso para a população, a horticultura, fica sempre desatendido. Um exemplo desta falta zelo é a ausência, na feira agrícola mais importante (Semana Verde de Silheda), de produtos muito conhecidos como os Pimentos Padrão e de Arnoia. No primeiro caso as associações de produtores estão à espera, há 15 anos, do registo e regulamento da denominação de origem.

          Um outro caso evidente de desatenção à horticultura é o crescimento da superfície dedicada ao feijão verde nas províncias da Corunha e Ponte Vedra. A Conselharia de Agricultura da Junta da Galiza parece ignorar totalmente que esta cultura aporta, de maio a agosto, milhares de euros a muitas famílias e explorações profissionais tendo garantida a venda de toda a produção, pois é nesses meses que o clima da Galiza e Norte de Portugal permite competir com vantagem frente aos agricultures do Sul peninsular. Os comercializadores costumam dizer que qualquer quantidade produzida será automaticamente vendida nos mercados de Barcelona, Valência e Madrid, que preferem o nosso feijão sobre qualquer outro. O dever dos políticos é aproveitar estas vantagens competitivas através do fomento do cooperativismo, das “denominações de origem” e da promoção comercial nos mercados exteriores. Quando chegará o dia que possamos orgulhar-nos das nossas autoridades agrícolas?

Data de Publicação: 07/03/2004


 

Ângelo Cristóvão

Secretário da Associação de Amizade Galiza-Portugal

25 de Outubro de 2003

 

      Salientava o Transmontano na edição do 12 de setembro: “A agricultura portuguesa está em decadência”. O titular, em geral, pode ser aplicado igualmente à Galiza. Ao pensarmos nas causas desta situação, são mais importantes as perguntas do que as respostas. Estas derivam diretamente das primeiras, quer dizer, da forma em que compreendemos o problema.

 

      Oferecemos hoje a primeira descrição e análise dos problemas da agricultura galega. O tema tem interesse suficiente para lhe dedicar mais de um comentário, porque tem sido a atividade mais tradicional, a profissão a que se dedicou a maior parte da população até há poucas décadas, e porque continuará a ser sector estratégico no desenvolvimento económico da Galiza e do Norte de Portugal.

 

      A afirmação genérica “A agricultura está em crise” é discutível quando descemos a sectores concretos como a horticultura, em que a experiência demonstra as possibilidades reais de crescimento e rentabilidade na produção em estufas, além da comercialização. Não podemos afirmar que a crise é total nem geral; devemos estabelecer, primeiramente, uma diferença entre a agricultura de subsistência, de reduzida superfície, gerida por pessoas idosas e ligadas a umas técnicas tradicionais, e aquela perspetivada como atividade empresarial, empregando menos pessoas mas obtendo um maior rendimento. É esta a que realmente merece um esforço formativo e informativo, quer do ponto de vista dos média, quer da administração pública, que intervêm em diversos graus de responsabilidade no sucesso deste sector económico.

 

       Quanto aos poderes públicos, na Galiza, o governo autónomo tem amplas competências para desenvolver políticas favorecedoras deste sector. Um dos instrumentos de que dispõe são os gabinetes de orientação agrária mas, infelizmente, não estão a servir para o fim previsto. Infrautilizados e dedicados, quase exclusivamente, à “papelada” burocrática, muitos destes funcionários com formação universitária e vocação de ajuda ao desenvolvimento agrário, ficam desiludidos pela redução da sua atividade ao exercício dactilográfico e carimbador.

 

      Outros instrumentos são as feiras agrícolas. Se bem que foram criadas como fundações de gestão privada, continuam a ser controladas pelo poder político, a começar pela indigitação dos presidentes. A mais importante da Galiza é a “Semana Verde de Silheda”, está em baixa de expositores e público. Esta situação, semelhante às feiras agrícolas de Braga e Santarém, não pode explicar-se apenas pela tendência geral dos últimos anos, mas à intervenção e controle político da Junta da Galiza. Que podemos esperar de pessoas alheias a este sector e sem o mínimo interesse pela questão? A realidade é que os responsáveis pela feira agrícola de Silheda têm tanta relação e interesse pela agricultura como pela cosmologia.

 

      A miopia e o desinteresse do Partido Popular relativamente à horticultura galega é resultado, quer da sua ideologia política, quer da sua concepção do poder, cujo valor supremo é a subserviência permanente aos interesses espanhóis. Destarte, os fracassos na gestão são apresentados como resultado, quer da dinâmica interna do próprio sector, quer das políticas europeias, muitas vezes contraditórias com os interesses nacionais galegos. Os políticos do Partido Popular espanhol contemplam a agricultura como fonte de recursos, de impostos, multas e taxas de toda a espécie. As iniciativas e a resolução dos problemas costumam vir do próprio sector, que recebe apenas dos governantes regras e ordens coercitivas, talvez imprescindíveis numa política de ordenação, mas insuficientes, pela carência de uma política de promoção de novas alternativas, novas culturas, novas formas de exploração agrária.

 

      A horticultura oferece boas perspetivas de crescimento e rentabilidade, mas o meu conselho para os produtores é não esperar nada da administração pública, além de impostos, enquanto não mudar o partido governante.

Ângelo Cristóvão

Secretário da Associação de Amizade Galiza-Portugal

17 de Outubro de 2003

 

      Em 1988, durante a celebração de um seminário de sociolinguística em Ourense, explicava-nos o sociólogo catalão Lluís V. Aracil a parvoíce de explicar as causas do analfabetismo e dedicar grandes esforços a realizar estatísticas sobre a matéria.

Concisamente, ele dizia que a causa do analfabetismo era, simplesmente, a natalidade. O esforço deveria dedicar-se, então, a fomentar o que em inglês de chama “literacy” (saber de letra). O que faz sentido é pensar e construir um sistema eficaz de alfabetização, que é o aspeto positivo do problema. Isto implica falar em organização dos sistemas de ensino, pedagogia, etc. Pensar no analfabetismo é sintoma de uma inversão de valores culturais conduzente ao insucesso.

      Durante este ano começou-se a vender na Galiza a “Gran Enciclopedia Galega Silverio Cañada”, redigida no portunhol (mistura de português e espanhol) que constumam utilizar e promover instituições como a Junta da Galiza e a Universidade de Santiago. Em coerência com essa concepção da língua da Galiza, as matérias figuram ordenadas pelas letras do alfabeto castelhano, consequência de uma lógica política evidente. Reparámos num item relevante do segundo volume:

 

       “ANALFABETISMO, s.m.: 1. Estado ou condição de analfabeto. 2. Fenómeno social caracterizado pela existência de persoas analfabetas” (pág. 248), da autoria de Gonzalo Anaya Santos et al.

 

      A definição destes autores é circular e inútil porque nada explica. Além do mais esta enciclopédia não inclui ALFABETIZAÇÃO nem ALFABETO, que poderiam ajudar a compreender alguma coisa relativa a esse fenómeno citado. Estes conceitos, de valor universal, precisariam algum esforço no sentido de salientar a sua importância capital para a língua e a cultura, em geral, não restritamente galegos mas, antes, concebidos e difundidos como elementos comuns para toda a civilização. Porém, esta enciclopédia, que recebeu grande apoio económico da Junta da Galiza, não foi pensada para compreender o mundo. Foi redigida, principalmente, para transmitir uma percepção da Galiza como Galicia, região espanhola, com uma língua e cultura promovidas pelas instituições oficiais apenas no caso de se apresentarem como radicalmente diferentes da portuguesa e submetidas conceptual e legalmente à castelhana.

 

      Os dois primeiros volumes desta obra antecipam a concepção do conjunto, segundo a qual o caraterístico dos galegos não é aquilo que temos em comum com os outros povos, ou a interpretação que os galegos damos aos elementos comuns da civilização europeia. Não, o salientável, aquilo que merece ser publicado nesta obra é o peculiar, o específico, a “identidade”, o que no âmbito político espanhol chamam agora “facto diferencial”, definido em relação como o âmbito político e cultural espanhol, em que se insere explicitamente a “Enciclopedia Galega Silverio Cañada”.

 

      A definição do conceito de analfabetismo, a incluir em duas páginas várias estatísticas do castelhano na Galiza, reproduz e mascara a dominação política da Galiza que é apresentada, nesta como noutras obras, como a “realidade” social sem explicação alguma, sem fornecer as chaves para compreendermos a relação hierárquica e subsidiária, secularmente estabelecida, entre a língua e cultura da Galiza e a espanhola. Apesar de a Espanha ser um estado formalmente democrático, onde na Constituição se declara existir uma igualdade de direitos entre os cidadãos, apesar do denominado estado autonómico, de facto, mantém-se invariável o submetimento das comunidades linguísticas de origem não castelhana.

 

      Em contraposição com o representado por esta perniciosa enciclopédia regional espanhola, os lusófonos galegos assumimos o caminho da universalidade através da promoção do português como língua nacional da Galiza, o que não impede que o castelhano seja utilizado também, mas apenas como segunda língua instrumental, como também o inglês e o francês, que devem fazer parte do ensino logo nos primeiros anos da escolarização.

(Artigo publicado na edição impressa de 17 de Outubro, pág.18).

Carlos Durão

Londres

25 de Outubro de 2003

 

      A maior parte da comunidade galega na Inglaterra concentra-se em Londres, nos bairros mais centrais (Victoria, Hammersmith, Portobello...).  Tem-se calculado entre 10.000 (nos anos 70 do século passado) e 20.000 emigrantes, mas é impossível dar um número preciso, pois para o consulado espanhol só existem as cifras dos cidadãos espanhóis residentes num país da União Europeia, e nada sabe da chamada “Lei de galeguidade”.  (Além disso, como considerar os filhos de galegos nados aqui?  Para o Estado Espanhol são espanhóis se o pai é espanhol, mas não se só a mãe é espanhola.)

      Começou a chegar sobretudo a partir dos anos 1950, quando o mercado laboral britânico do após-guerra precisava absorver mão de obra barata para trabalhos que tendia a rejeitar o operário inglês mas aceitava o galego (ou o antilhano): hostelaria, hospitais, serviço doméstico, etc.; e em condições cívicas mínimas ou inexistentes: sem segurança social, sem permisso de trabalho ou até totalmente ilegais.  Hoje está bem integrada e estabilizada no país, com um certo envelhecimento, isso sim, e desfruta de certa soada de solidez e responsabilidade social diante das autoridades britânicas (p.ex. a polícia), que nunca têm tido queixa dos “galegos de Londres”.

      Abunda o nome “Galicia” em estabelecimentos comerciais galegos: Galicia Motor Services, Galicia Wines, Galicia Restaurant, Galicia Delicatessen, etc.; ou outros topónimos afins: Meson Coruña, Carniceria Coruña, Vigo Galleries, Vigo Press Ltd., restaurante Rias Baixas, Breogan Removals, etc.  (Também existem desde há muito tempo topónimos galegos nas ruas londrinas: Corunna Road, Corunna Terrace, Vigo Street.  O nome de Santiago está refletido doutro jeito: sob o apelativo de “The Court of Saint James’s”, que é o nome oficial da Corte Real britânica, e em St. James’s Palace, residência do herdeiro da Coroa; também em St. James’s St. e mais nos numerosos topónimos ingleses que o incorporaram na época em que tinha importância para os peregrinos ingleses o chamado “Caminho Inglês” a Santiago, por mar desde um porto inglês do sul e por terra desde o norte da Galiza; assim: Berwick St. James e outros, desde que o popularizara no século XII a Rainha Matilda, filha de Henrique I.)

      Tem um Centro Galego, fundado no 1967, que é o decano dos centros de emigrantes do EE na Inglaterra, e que chegou a ter 800 sócios nos seus melhores tempos, com o seu local próprio, embora modesto, e com atividades culturais diversas: o Dia da Pátria, o Dia das Letras Galegas, uma Comissão Cultural que tem participado nos preparativos do Ano Jacobeu; inclusive chegou a fazer edições próprias de livros e revistas.  Tem o seu Grupo de Gaitas e Danças e o seu Clube Desportivo de futebol.

      Também existiram em tempos o Grupo de Trabalho Galego de Londres e mailo Seminário de Estudos Galegos de Londres, e funcionam hoje Centros de Estudos Galegos nas universidades de Oxford e de Birmingham.  A emissora da BBC tinha depois da guerra uma emissão galega, na que colaboravam muitos “galeguistas históricos” do interior, como Otero Pedrayo, Florentino Cuevillas ou Plácido Castro; na seção espanhola colaboravam outros, como Salvador de Madariaga ou V. Paz Andrade.  Anos depois veio morar a Londres o ilustre poeta e professor galego Ernesto Guerra da Cal, exilado desde a guerra civil espanhola, em cujo lar tínhamos uma cálida acolhida os mais novos, e que foi o derradeiro duma brilhante presença galega na Inglaterra que inclui nos nossos tempos os escritores Rafael Dieste e Ricardo Palmás, e outrora o famoso Conde de Gondomar, D. Diogo Sarmento da Cunha, que fora embaixador na “Corte de Santiago” e que desde ali escrevia em galego às suas amizades na terra natal.

Carlos Durão

Londres

17 de Outubro de 2003 

 

      Acostuma dizer-se que, a norte da raia, “fala-se galego”.  De facto, “o galego” (“el gallego”) é hoje reconhecido pelas autoridades espanholas, que o consideram língua “própria” da Galiza (para elas “Galicia”), ao mesmo tempo que “lengua también española”, como p.ex. na Constituição espanhola ou no Estatuto de Autonomia da Galiza.  E as “autoridades” linguísticas espanholas têm feito os máximos esforços por “provar” que essa língua falada a N da raia, que é cooficial com o castelhano, não tem nada a ver com a que se fala a S da raia, que é oficial no Estado português.

 

      Ora, a realidade é que a verdadeira língua oficial da Galiza é a espanhola, que é a língua que abrange todo o Reino de Espanha.  E “o galego” são de facto “os galegos”, os falares, falas ou dialetos galegos da Galiza oficial (as quatro províncias da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte Vedra) e mais da Galiza chamada “exterior” (Návia, Berzo e Seabra, comarcas ocidentais das Astúrias e de Leão), ou seja os dialetos portugueses do N da raia, em geral tanto mais castelhanizados quanto mais distantes dela.  Para esses dialetos, as autoridades espanholas inventaram uma “ortografia” espanhola, que reflite uma “ortofonia” também quase espanhola (quer dizer adatada à fonética dos hispanófonos galegos), e tornaram-na obrigatória nos centros de ensino e nas edições subsidiadas, banindo a ortografia e ortofonia realmente próprias da língua, ou seja portuguesas: esta é a posição dita isolacionista, obediente às diretrizes dum partido político de âmbito estatal.

 

      Existem, claro, dissidências, grupos minoritários e independentes do oficialismo, que não estão dispostos a aceitar este “facto consumado” e que procuram falar e escrever bem o português, considerando que une e dá coesão a todos esses falares, e nos relaciona cabalmente com o resto da Lusofonia, quer dizer que é a norma culta da nossa língua.  Naturalmente esses grupos são sanhudamente perseguidos e banidos do ensino e dos subsídios oficiais (como, aliás, nos melhores tempos da ditadura franquista).  Mesmo assim, conseguem manter uma presença social muito superior ao seu número, publicando livros e revistas, celebrando congressos, seminários, etc., que nos derradeiros vinte anos têm alertado a sociedade galega para o perigo da espanholização e exercido certa pressão nas opções filológicas até dos próprios isolacionistas.

 

      Há ainda uma posição intermédia, digamos quase lusógrafa mas não lusófona, ainda muito dependente do espanhol na grafia, na fonética e na morfologia e sintaxe, que parece ter certas esperanças de ser aceite ou pelo menos tolerada pelo oficialismo.  Os seus utentes, embora digam que a sua posição é temporária e que está a caminho do alvo final português, de facto cada vez mais ficam estacados num imobilismo cómodo ou docilmente submetidos à política linguística dum partido, e ainda pretendem “exportar” os seus produtos ao mundo lusófono, sem reparar que estão a criar confusão entre as pessoas lusófonas de boa vontade que realmente querem ajudar a Galiza na recuperação da sua língua.

 

      O que fazer?  Certamente nós, a N da raia, temos muito que fazer para ampliar essas minorias críticas e continuar consciencializando as pessoas.  Mas a S da raia também os nossos irmãos transmontanos e minhotos muito poderiam fazer para alentar a língua portuguesa na Galiza e recusar tanto o isolacionismo oficial como essas meias-tintas gráficas e fonéticas, que afinal são mau português, e insistir num padrão correto para a nossa língua, seja ele o que se continua a empregar em Portugal ou o do ainda não ratificado Acordo da Ortografia Unificada de 1990, no que está explicitamente reconhecida a participação da Galiza.

(Artigo publicado na edição impressa de 17 de Outubro, pág.18).

Celso Álvarez Cáccamo 

3 de Novembro de 2003

 

 

    É notícia que o príncipe de Espanha, Felipe de Borbón, acaba de anunciar o seu próximo casamento com a jornalista Letizia Ortiz. Entrado o século XXI, o povo continua a ver-se sujeito a cerimónias medievais, adereçadas mediaticamente com o bombardeamento humanitário dos telejornais, magazines, e outros subprodutos. Entre os absurdos desta situação política e social está a necessária aprovação deste futuro casamento polas Cortes espanholas (as câmaras do Congresso e o Senado). O epígrafe 4 do artigo 57 do Título II da Constitución Española diz (intraduzo, porque as leis espanholas, espanholas devem ficar, não distorcidas polo falacioso exercício de pretender fazê-las galegas, bascas ou catalãs a traduzi-las): "4. Aquellas personas que teniendo derecho a la sucesión en el trono contrajeren matrimonio contra la expresa prohibición del Rey y de las Cortes Generales, quedarán excluídas en la sucesión a la Corona por si y sus descendientes". Quer dizer, se as Cortes espanholas não aprovarem este casamento, Felipe de Borbón não poderia ser rei de Espanha quando Juan Carlos morrer. Mas a hipótese é impensável. E, contudo, outro rei ou reina sofreríamos.

    Mas, que lhe deu a monarquia, esta monarquia, qualquer monarquia, à Galiza, a qualquer dos países do reino? Ignoro tanto os detalhes da história política da Galiza como a de Espanha, é um dos meus problemas mentais. Mas, como amostra, dos últimos fotogramas que mais ficam na minha retina é o do actual rei Juan Carlos a descer ex-machina à praia totalmente petroleada de Mugia, quando do inacabável desastre do Prestige, com os seus impecáveis sapatos pagos por nós, a fazer-se a foto enquanto criticava os políticos que se faziam a foto. Pura propaganda monárquica e direitista. Porque, não esqueçamos, o rei é o Chefe do Estado, do mesmo estado que leva décadas a mostrar negligência, desprezo e esquecimento polo bem-estar das gentes da Galiza. E o rei é o Chefe de Todos os Exércitos, dos mesmos exércitos que tardaram semanas em baixar a limpar o piche das nossas praias mas tardaram dous dias em ir a Iraque para matar humanitariamente ou repartir esmola ocidental a um povo que deveria ser deixado em paz. Portanto, o rei não é nem pode ser neutral: nem este, nem o vindeiro, nem nenhum. A monarquia é um jacobino resíduo sexista, classista e espanholista, num país de países envenenado por Gran Hermano. Porque, por qual razão que não for primitiva se herda patrilinearmente a representação política, o controlo de todos os exércitos, o privilégio de sancionar as leis, de nomear o presidente do governo eleito polo parlamento, etc. etc.? A monarquia é o maior obstáculo para o raciocínio humano numa Espanha politicamente esclerótica.

    E um parlamento inteiro de 350 pessoas terá de se pronunciar, de uma maneira ou outra, sobre se o sangue azul de Felipe se pode mesclar ou não com o sangue vermelho de Letizia! Se podem ou não os amantes legitimamente misturar os seus orgânicos humores nas noites em que os seus exércitos continuem a ocupar humanitariamente qualquer país! Será interessante ver que posição política sobre esta erótica ligação (ir)real tomam no parlamento espanhol os (poucos) representantes do nosso republicano Bloque (sic) Nacionalista Galego.

    Mas dizem as boas línguas que entre os inconfessados planos políticos deste principinho azul Felipe estaria, quando herdar a coroa, renunciar e submeter a monarquia a referendo. Ou algo assim. Seria o acto mais inteligente da sua vida. Espero viver para vê-lo, agora que o povo está desactivado para botar directamente a monarquia aos caimães do esquecimento, que é o que merece. Sim, seria inteligente, sobretudo porque Felipe poderia ganhar o referendo! Mas já sabemos que a inteligência está renhida com o Poder. E a Galiza, se na altura ainda existe, continuará a ter rei para um tempinho. Até anda outro nobre chamado de Bragança por aí a fazer-lhe as beiras à Galiza, como se um só pretendente não fosse suficiente. Vaites, vaites!, como enxotamos nós os maus agoiros. Saúde e república --diz o colega António Gil--, que é uma forma algo menos cavernícola de oprimir-nos.

 Celso Álvarez Cáccamo

 (Artigo publicado na edição impressa de 7de Novembro, pág. 4)

Celso Álvarez Cáccamo

 

24 de Setembro de 2003

 

 

 

                Pouco se sabe em geral nesse lugar que por convenção chamamos Portugal do que acontece em matéria de língua(s) (e de muitas outras cousas) nessoutro lugar que por convenção chamamos a Galiza: refiro-me à parte da Galiza na altura submetida (como todos os países naturais) aos efeitos dum Estado, o Reino de España, em cujo centro mora um enorme eñe imperial.  Na realidade, as cousas da língua na Galiza são tanto muito complicadas como muito singelas.  Tentarei resumi-las pobremente, para ver o comum no respeitante ao papel da língua na vida diária.

 

                É sabido, isso sim, que na Galiza se falam dous idiomas.  Do espanhol, nem direi muito: é uma forma de espanhol que não se pode identificar com o falado na Andaluzia ou na Bolívia, mas que, na mente de muitos (esse prodígio de catalogação da realidade), é “o mesmo”.  Da outra e primeira língua da Galiza, o português --que coloco em segundo lugar simplesmente para poder estender-me mais--, direi quase o mesmo: o português galego não se pode identificar plenamente com o alentejano ou o carioca; por isso (e aqui vem a diferença), na mente de muitos é “outra cousa”, “outra língua”.

 

                Qual é a fonte de tal divergência no tratamento destas duas línguas na Galiza? (a própria, que é o português, e a historicamente alheia e agora socialmente dominante, que é o espanhol).  Que faz o Estado espanhol para impor tal distinção nas mentes?  E que não faz o Estado português para restaurar o equilíbrio na visão das línguas na Galiza?

 

                Simplesmente, o Estado espanhol impõe sobre nós as letras: a palavra escrita, a cultura escrita, o sistema educativo em espanhol... enfim, a ignorância do próprio como método. Por meio do sistema educativo e doutros dispositivos criam-se os contrastes entre os falares “regionais” galegos (periféricos, quase atávicos, perdidos num recanto dessa tristíssima piel de toro, e portanto “tolerados” como curiosidade) e a letra impressa espanhola, que da sua ortografia até ao discurso vem embebida de ânsias nacionais espanholas, quer dizer, coloniais.

 

                Mas, por acaso não é isto o que faz o Estado português com os falares dos seus súbditos?  Não impõe o “ão” onde se diz o “om”, o “ou” onde se pronuncia “o”, o “v” onde se realiza o “b”, o “também não” onde existe o “tampouco”?   Por acaso não cria o Estado português miragem de unidade da mesma maneira?  Sim, e não.  Portugal estabelece estas diferenças (sempre de classe) entre falares e escrita, e portanto entre grupos sociais, sobre e contra a sua própria língua, o qual não deixa de ser um mecanismo de dominação dos estados tão comum que se torna, por obediência, em direito dos cidadãos ocidentais a serem correctamente disciplinados na Língua.

 

                É isto exactamente, nem mais nem menos, o que queremos muitos galegos e galegas (provavelmente muitos mais do que se pensa): que a nossa língua escrita, a que nos divide e classifica como sábios ou parvos, como pobres ou ricos, seja o mesmo instrumento que têm outros países de língua comum.  Não queremos escrever o galego em espanhol: queremos o direito a sermos dominados, como qualquer país ocidental normal, pola Língua própria, que no nosso caso é a portuguesa.  E nesta matéria Portugal inibe-se porque cai do outro lado dum rio inexistente.  Má sorte, ou má política de estado?

 

                Se as cousas fossem normais na Galiza, nem este textinho seria necessário: falaríamos dos assuntos que têm importância.

(Artigo publicado na edição impressa de 24 de Outubro, pág. 10).

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