António Gil Hernández (9)

António Gil

Da Associação de Amizade Galiza-Portugal

24 de Outubro de 2003

 

      Cara amiga, caro amigo, portugueses em todo o caso: Desde a outra parte da ‘raia' galega (da seca e da molhada) começo as minhas cartas que vos dirijo fundamentalmente a vós, amigos portugueses. Sem dúvida também os meus concidadãos galegos poderão aproveitar-se delas ou isso pretendo.

 

      Inicio-as com um tema que acho injusta e escassamente tratado nessa parte da ‘raia' e escondido e maltratado nestoutra, de toda a ‘raia' espanhola desde Tui até Ayamonte.
Hoje mal o apresento, com algum temor de ser pouco ou mal compreendido. Mas aí vai; ei-lo:

 

      Começo, a modo de pretexto, por uma nótula que publicou ‘Diario de Notícias' (Lisboa) o primeiro dia deste mês de Setembro. Coloco-a completa: «CIA reconhece diferendo de Olivença (C. A.) «Pela primeira vez no relatório anual sobre disputas internacionais, a CIA passou a incluir o contencioso de Olivença, território em que Portugal e Espanha continuam por delimitar os respectivos limites fronteiriços. Desde o início de Agosto que a CIA faz referência expressa a periódicas reclamações portuguesas sobre aquele território, há dois séculos ocupado pela Espanha à margem do direito dos tratados.

 

      «A disputa de Olivença é referida pela agência norte-americana, em separado e nos mesmos termos, tanto no índice de conflitos de Portugal como no de Espanha. Até agora, Portugal era dado como um país sem qualquer contencioso de carácter internacional, a contrastar com a apreciável lista de diferendos protagonizados por Espanha. «A listagem da CIA é usada como suporte de trabalho tanto pelos media como pelas chancelarias e, no que respeita aos EUA, não poupa referências a contenciosos territoriais com o Canadá, às reivindicações do Haiti sobre a ilha Navassa e das ilhas Marshall sobre a Wake, entre outros.»

      Ignoro quanto e como se discutiu esta notícia em Portugal. Sei que no Reino da Espanha foi mal transmitida e pior comentada, até com desprezo e em recantos da imprensa ou em momentos mínimos da rádio. Parece-me que nenhuma TV disse nada nem a favor nem em contra.

 

      Não obstante, não é a notícia em si que me interessa, mas o estado de opinião tão diverso que existe na República portuguesa perante uma "questão" semelhante duma que vem sendo estimada fundamental no Reino vizinho: Neste a "Questão de Gibraltar" esteve presente como reivindicação patriótica de todos os governos e sistemas políticos desde sempre, mas sobretudo durante o séc. XX: Monarquia absoluta e constitucional, ditaduras, Restauração monárquica. Todos os governos reclamam sistematicamente a devolução do reduzido território de Gibraltar, com toda a justiça espanhol, embora fosse cedido ao Reino Unido em Trtado de Paz.

 

      Assusta, ao comparar situações, o facto de na República portuguesa apenas um grupo muito escasso de cidadãos persistirem na reclamação dum território conquistado pela Espanha na "Guerra das Laranjas" (1801), guerra aliás injusta, e ulteriormente devolvido também por Tratado internacional. Essa devolução foi e é unicamente nominal: promessa incumprida. Sem procurar culpas nem novos "casus belli" entre os Estados vizinhos, sim vale a pena refletir um pouquecho no assunto: O Reino da Espanha não cumpre a promessa ou Tratado, aliás, bem conhecido dos portugueses, mas os portugueses, as autoridades portuguesas lembram, como "questão de Estado", a devolução de Olivença?


      Comentarei nalguma outra carta as "razões" que uns e outros formulam para não devolver e para não reclamar. São na realidade razões ou apenas, segundo acima escrevi, "razões" ou, antes, pretextos?

(Artigo publicado na edição impressa de 24 de Outubro, pág. 10).

António Gil

Da Associação de Amizade Galiza-Portugal

11 de Janeiro de 2004

 

   Depois de, serodiamente, felicitar o Ano Novo a todos os leitores do SEMANÁRIO TRANSMONTANO e às suas famílias e amigos, vou permitir-me interromper (é um falar!) as reflexões sobre Olivença, para tratar outro tema não menos ininteligível nestes tempos de correção “politicamente correta”. Espero que o título («Das cousas da língua portuguesa na Galiza (espanhola)») oriente um pouquecho o miolo deste artigo, mas nem sei...
Quase me limito a transcrever um intercâmbio de mensagens que achei num "portal". Dialogam duas pessoas.
1.- Pergunta a primeira: «E dado que a Galiza (espanhola, quer dizer, as ditas “Comunidades Autónomas” de “Galicia” + territórios de “Castilla y León” e do “Principado de Astúrias”) é considerada tão lusófona como os Países de Língua Oficial Portuguesa, por que não foi acordante de pleno direito no Rio (1986) e em Lisboa (1990)?»
Responde a segunda: «Nessa decisão de os responsáveis dos Acordos, tanto portugueses (Fernando Cristóvão, sobretudo) quanto brasileiros (Antônio Houaiss mormente), permitirem a presença de "observadores da Galiza", cabe distinguir duas faces processuais:
«1.1.- Uma é factual, por que validaram o facto de a Galiza (espanhola) ainda ser lusófona ou, pelo menos, o também facto de nela haver forte movimento associativo lusofónico. Acho que foi opção muito generosa, bem diverso dos comportamentos das instituições do Reino da Espanha.»
«1.2.- Outra face processual é a jurídica, inteligível no campo do Direito internacional, porquanto a Galiza, não como "Galiza", mas como “Comunidad Autónoma de Galicia”, apenas tem entidade administrativa perante os organismos internacionais, se o Reino da Espanha, quer dizer, o governo de Madrid, quer a representa quer dá autorização para participar neles. Assim sendo, só o estatuto de "observadores", membros de ONGes, podia ser juridicamente válido e aceite tanto para os Estados lusófonos quanto para o Reino de afim de a Galiza, nalguma medida, poder ter alguma presença nos Acordos».
2.- Interpela a primeira pessoa: «É obvio que as possibilidades de que o Acordo fosse oficializado na Galiza (pelo Reino de Espanha ou pelas suas insituições) eram nulas; mas isso afecta só ao segundo momento do Acordo (i.é., à oficialização), mas não ao
primeiro momento (i.é., às reuniões do Acordo)».
Explica a segunda: «Acho que não é assim. Cumpre também distinguir:
«2.1.- As condições jurídicas para a Galiza ser representada por delegados oficiais, de pleno direito, nos Acordos Ortográficos para a Lusofonia seriam equivalentes das preenchidas pelos delegados dos Estados lusófonos, salvo no dito em 1.2.
«2.2.- Porém, na Galiza a legalidade da ortografia é (deve ser) a comum no Reino para as denominadas "lenguas españolas" (castelhana, basca, catalã e galega). Como já se tem dito, as ortografias de todas essas "lenguas españolas" não são oficiais no Reino da Espanha, quer dizer, não são promulgadas como oficiais por Lei nem por Decreto nenhuns, de modo que o seu cumprimento seja, à partida, condição de eficácia administrativa. Porém, nos Estados de língua oficial portuguesa, até hoje, a ortografia é promulgada por lei ou por decreto de modo a ser, à partida, a única escrita administrativamente eficaz.
«2.3.- Por consequência, podemos dizer que a situação interior galaico-espanhola a respeito da ortografia "oficial" torna-se incompreensível e mesmo absurda. Com efeito, não sendo a ortografia do "galego" (ou português da Galiza) nem oficial nem oficializável no Reino da Espanha, é exigido, apesar de tudo, administrativamente o emprego do denominado "galego normativo" ("portunhol" por castelhanizado) aos cidadãos espanhóis, domiciliados na "Comunidad Autónoma de Galicia", sempre que optarem por usar a "lengua propia de Galicia"».
3.- Questiona a primeira pessoa: «Que impedia que a delegação da Galiza tivesse voto?»
Tenta razoar a segunda: «Está acima respondido: "A não autorização expressa do Reino da Espanha". Se o governo de Madrid os tivesse nomeado delegados, poderiam ter procedido oficialmente como tais. Mas não os nomeou. Cumpre lembrar um "pormenor" de interesse, para quem quiser entender um pouco como é que o bilinguísmo constitucional está argalhado no Reino e pelo Reino:
«a) Na "Constitución española" (1978) e no "Estatuto de Autonomía para Galicia" (1980) fixam-se como competências exclusivas da "Comunidad Autónoma" as referidas à língua própria ("o galego") e à cultura nela exprimida. Dessarte o Estado pôde deixar à decisão do governo autonómico a participação da Galiza nos Acordos internacioniais sobre a língua portuguesa.
«b) Pela sua parte, o governo autonómico pôde não tomar essa decisão escudando-se no facto de as relações internacionais serem competência exclusiva do Estado, quer dizer, do governo de Madrid.
«c) Para além disso, a tradição jurídica do Reino da Espanha exclui que a ortografia das "lenguas españolas" seja objeto de disposições legais que a oficializem. Quer dizer, a ortografia e os Acordos sobre ortografia não são competência declarada nem do Estado nem das Comunidades Autónomas.
«d) O enleio, como pode advertir-se, serve para paralisar qualquer atuação transfronteiriça séria; o enleio apenas parece procurar o encerramento, a clausura do "galego" dentro das fronteiras do Reino da Espanha, sem hipótese de transnacionalização.
4.- Redargui a primeira pessoa: «A sua delegação estava bem capacitada para defender os interesses da Galiza (segundo informa a "Comissão para a Integração da Galiza no Acordo Ortográfico")».
Responde a segunda: «A competência para entender nos assuntos sobre a língua da Galiza é reconhecida nos Estatutos das entidades privadas (ONGes) pertencentes à Comissão, a teor da legalidade espanhola e para as atividades desenvolvidas no Reino e fora dele; mas apenas são ONGes, entidades privadas. Para participar como membros de pleno direito em Acordos internacionais (= interestatais) precisava-se, como acima disse, que o Reino da Espanha, a meio do governo de Madrid, delegasse expressamente na Comissão ou nalguns dos seus integrantes a representação oficial do Estado e/ou da "Comunidad Autónoma».
5.- Conclui a primeira pessoa: «Daquela, por que podia defender esses interesses de palavra e não com o seu voto (sendo a Galiza tão lusófona como os outros países?)».
Conclui também a segunda pessoa: «Acho que a "Comissão para a Integração da Galiza nos Acordos da Lusofonia" e a subsequente "Delegação de Observadores da Galiza" bastante fizeram:
«a) Conseguiram participar como "observadores da Galiza" nos Acordos, convidados pelos respetivos responsáveis e organizadores.
«b) Assistiram às reuniões como tais.
«c) Lograram que se incluissem duas palavras "galegas" (lôstrego e brêtema).
«d) Informaram pormenorizadamente os governos de Madrid e da "Comunidad Autónoma" sobre os Acordos.
«e) Transmitiram em revistas e outras publicações a quem quiser ter alguma informação o que aconteceu nas reuniões dos Acordos».


AS MINHAS RAZÕES PARA ACREDITAR NA LUSOFONIA

António Gil Hernández

da Associação de Amizade Galiza-Portugal. 24 de Fevereiro de 2004

Permito-me, mais uma vez, dar a lume umas reflexões, velhas, muito velhas, neste mundo de imediatezes desacougadas, que atualizo levemente. Conservo o título que coloquei às primeiras: «As minhas razões para acreditar na Lusofonia». Pretendo que ecoe o do livro do saudoso Prof. Rodrigues Lapa 'As minhas razões. Memórias de um idealista que quis endireitar o mundo...' (Coimbra Editora, 1983).

 

No meu texto, que foi publicado em 'Cadernos do Povo. Revista Internacional da Lusofonia' (núms. 5-14, 1988-89, pp. 17-19), começava de expor a concepção de LUSOFONIA para delinear a seguir as tarefas que hão-de cumprir-se e as condições para a verificar.

1. Entendo por LUSOFONIA a Comunidade integrada por aquelas pessoas que podem exprimir-se na Língua Portuguesa e assim o fazem habitualmente. Porém, a LUSOFONIA pressupõe determinada concepção da unidade que anima os lusófonos e sobretudo acarreta um discurso a legitimar essa concepção unitária, à qual alguns lhe diriam "sentimento". É com a afirmação da unidade que se constrói a unidade; é com a procura de motivações unificantes e não precisamente uniformadoras que o processo de unidade acabará tomando corpo de firmeza.
Entendo que são condições terminantes para verificarmos a LUSOFONIA quer a vontade, também política, de a realizar, quer a assumpção generalizada do discurso da unidade. Caberia resumir ambas as faces numa expressão como «queremos ser lusófonos porque já o somos, apesar das diferenças e por elas mesmas».

2. Dentre as TAREFAS possíveis assinalo as de RECONHECIMENTO, as de IDEAÇÃO e as de ORGANIZAÇÃO.

2.1. Relativamente às TAREFAS DE RECONHECIMENTO, entendo que o património da LUSOFONIA assenta naqueles grupos que, independentemente da sua adscrição "nacional", quer dizer, estatal, profundizam e promovem os valores tradicionalmente transmitidos a meio da Língua Portuguesa, que, aliás, denomino "sentimentalidade intencionalmente eficaz", "universalidade sempre particularizada" e "persistência esperançadamente disponível". «Lirismo», «saudade», «descobertas», «retranca»... satisfazem esses valores.

2.2. Relativamente às TAREFAS DE IDEAÇÃO considero que, perante as tentações de eficácia imediata, de particularização individualista, de disponibilidade veleidosa, a cultura lusófona pode e deve incidir nos valores tradicionais e injetá-los (como vacina confortante por doses apropriadas) nas novas gerações, não apenas da LUSOFONIA, mas também nas pertencentes a outras Cmunidades Linguísticas.

2.3. Relativamente às TAREFAS DE ORGANIZAÇÃO, preciso que os cidadãos de Portugal e da Galiza hão-de compreender que, nas circunstâncias atuais, a condição de europeus (e, no caso dos galegos, também a de administrados do Reino da Espanha) não invalida a sua radical nacionalidade cultural lusófona. A comunicação consciente e medidamente procurada pelos cidadãos dos Sete (mais dous: Timor e a Galiza) e com eles e entre eles, o conhecimento ou reconhecimento da própria história e a ideação de tradições comuns e diversas, mas renovadas, libertarão da ignorância e da inconsciência, hoje generalizadas, os cidadãos da Galiza com a ajuda, sobretudo, dos cidadãos portugueses, os lusófonos "normais" mais próximos, como corresponde nestes tempos de rotura de fronteiras.

3. Reduzo a duas as CONDIÇÕES que possibilitarão o cumprimento dessas tarefas.

3.1. Uma é a atividade cívica, não justamente a institucional. Hoje as instituições e autoridades, enquanto tais, acham-se indecisas quando não confusas e até desacertadas. É a consciência cívica dos cidadãos, de todos e dos melhores, a construir e organizar plenamente a Lusofonia.

3.2. Outra condição consiste na definição do instrumento identificador da Comunidade Lusófona, que se manifesta na Ortografia unificada desde 1990 mercê do Acordo Ortográfico assinado em Lisboa, em 12 de Outubro, por representantes dos Sete países de Língua Oficial Portuguesa com a presença de observadores não governamentais da Galiza.

Datei a primeira redação deste escrito em Acrunha (Galiza-Spain) em Dezembro de 1988.

 

PROF. ANTÓNIO GIL HERNÁNDEZ

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA SELECTIVA:

UMA CLASSIFICAÇÃO POR CONTEÚDOS

 

 

 

 

 

 

 

APRESENTAÇÃO (DES)NECESSÁRIA

 

 

 

        O Prof. Dr. António Gil Hernández (Valladolid, 1941), tem-de destacado, nos últimos 20 anos, pela sua intensa tarefa inteletual em prol da sociolinguística galega. Esta atividade, brilhante e contínua, só é explicável, numa pessoa de origem castelhana e no contexto sociopolítico da Galiza, pelo seu compromisso ético e pela defesa da verdade por cima de qualquer outra consideração. O resultado deste labor, desenvolvido em congressos, seminários, encontros, revistas, e em diversas associações culturais, fica patenteado na bibliografia selecta que apresentamos.

 

 

 

 

 

        Gil tem recebido, pela sua coerência, o boicote dos adversários isolacionistas e, também por vezes, a incompreensão dos esperáveis colegas "reintegracionistas". O silêncio, como ausência de discussão e respostas aos problemas, que se acha na origem da frustração entre os interessados na lusofonia da Galiza, é o leitmotiv do seu Silêncio ergueito (1996). É um livro de denúncia e esperança em apelo constante ao leitor, onde analisa a partes iguais língua, literatura e notáveis, reproduzindo e comentando textos que já editara vários anos antes com uma clareza premonitória. Do seu prefácio (1992) reproduzo este parágrafo esclarecedor:

 

 

 

 

 

c. Tento explicar, em consequência, todos os silêncios dos mundos assentes na Galiza espanhola (e até na portuguesa) cujo imediato intuito exterminador (quero crer) alcança, não tanto o cidadão razoante, quanto os textos razoadores. Digo-o com a ingenuidade do democrata (pág. 24).

 

 

 

 

 

        É considerado, com muito, o mais importante investigador no âmbito da sociolinguística galega e, pela quantidade e profundidade das suas análises, comparável só com outros esclarecidos colegas, como o seu amigo Lluís V. Aracil. Esta afirmação fica demonstrada pelo grande número de alunos, hoje professores ou simples amadores desta disciplina, que nos temos introduzido no seu estudo através da leitura dos seus trabalhos, da sua comunicação epistolar e de longas conversas em diversos encontros. A sua obra e a sua dedicação pessoal constituem modelo e referente indispensáveis.

 

 

 

 

 

        Colaborador habitual das revistas Cadernos do Povo, Nós, O Ensino, Temas do Ensino e Agália (da qual tem sido, oficiosamente, diretor), tem participado em quase todos os mais importantes congressos e encontros, nacionais e internacionais, sobre a situação da língua portuguesa na Galiza. Juntamente com o Dr. José Luís Fontenla Rodrigues, integrou a  Delegação da Comissão Galega do Acordo Ortográfico, no encontro de unificação ortográfica de 1990 em Lisboa. É membro da Associação de Amizade Galiza-Portugal , das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, da Comissão Galega do Acordo Ortográfico e da Sociedad Española de Lingüística.

 

 

 

 

 

        Esta bibliografia, selectiva dos seus estudos sociolinguísticos, é o resultado das nossas leituras e não inclui, portanto, toda a sua produção mas sim aquela que consideramos mais relevante nesta disciplina. Contudo, não deve considerar-se definitiva; a sua classificação obedece ao interesse por orientar os possíveis leitores. Além da sociolinguística, Gil tem publicado também livros de poesia, artigos de ensaio literário e outros mais propriamente da linguística estrita.

 

 

 

 

 

Ângelo Cristóvão, da A.A.G.-P.     

 

Janeiro de 2003                              

 


 

 

 

TEORIZAÇÃO, FUNDAMENTOS E HISTÓRIA DA SOCIOLINGUÍSTICA

 

 

 

 

 

                1980: “Sobre o lusismo”, carta publicada em Man Común, nº1, p.56.

 

 

 

                1986: “Dimensões no processo normalizador de uma comunidade linguística:

 

                           Galiza. (Epílogo para galegos, portugueses, brasileiros e africanos de

 

                           expressom portuguesa)” in: Temas do Ensino, nº6/10, Vol. II, Ponte Vedra -

 

                           Braga, 36 págs.

 

 

 

                1988: “Dez pontos para a discussão sobre o galego”, in: Nós, nº 7-12, Ponte Vedra -

 

                            Braga, 4 págs.

 

 

 

 

 

                1988: “A língua escrita, enquanto símbolo identificador” in: O Ensino, nº 23-28, Ponte

 

                            Vedra - Braga, 5 págs.

 

 

 

 

 

                1988: “A Língua como facto social: Língua e nação” (segunda missiva), in:

 

                            Agália nº14, Verão, Ourense, 9 págs.

 

 

 

 

 

                1989: O conceito de diglossia segundo Ch. A. Ferguson, e a sua pertinência para a

 

                           Comunidade Lusófona  da Galiza. Um caso de diglossia por deslocação"

 

                           (artigo elaborado juntamente com o Prof. Dr. Henrique Rabunhal), in: Nós, núm.

 

                           13-18 (Janeiro-Dezembro), Ponte Vedra - Braga, 27 págs.

 

 

 

 

 

                1994: “Limiar ajoelhado e rouquenho a um “silêncio ergueito” e descontraído”,

 

                                      in: Nós nº 35-40, Ponte Vedra - Braga, 8 págs.

 

 

 

                1994: “Mais sobre língua literária da “galegofonia” in: Temas do Ensino,

 

                            27-38,  (Vol. VII-IX), Ponte Vedra - Braga, 8 págs.

 

 

 

 

 

 

 

ANÁLISE DO ORDENAMENTO JURÍDICO RELATIVO À LÍNGUA, NA GALIZA  

 

  

 

 

 

 

 

                1985: “A situação de direito no Estado Espanhol: desigualdade entre as

 

                            comunidades linguísticas. Uma opinião desde a Galiza” in: O Ensino

 

                            11-13, Ponte Vedra - Braga, 12 págs.

 

 

 

                1987: “Informe sobre a Sentença do Tribunal Constitucional no recurso de

 

                            inconstitucionalidade contra as Leis de Normalizaçom Linguística, in specie

 

                            a galega” (com o Prof. Doutor Xavier Vilhar Trilho), in: Agália nº10, verão,

 

                            Ourense, 11 págs.

 

 

 

                1988: “A língua como facto social (duas missivas)”, in: Agália nº14, verão, Ourense, 1ª

 

                             parte: 11 págs.

 

 

 

                1990: “Apontamentos sobre os direitos linguísticos na Galiza espanhola”,

 

                            comunicação apresentada ao III Congresso Internacional de

 

                            Lusitanistas, celebrado em Coimbra de 18 a 22 de Junho de 1990,

 

                                    23 págs. Publicado nas Actas.

 


 

 

 

ANÁLISE DO DISCURSO ISOLACIONISTA E COMENTÁRIOS SOBRE AS NORMAS DE CORREÇÃO IDIOMÁTICA EXISTENTES

 

    

 

 

 

                1986: “Aproximaçom à análise do(s) discurso(s) sobre a língua em textos da

 

                            filologia oficial na Galiza”, in: Actas do I Congresso Internacional da

 

                            língua galego-portuguesa na Galiza. AGAL, Ourense, 45 págs.

 

  

 

                1986: “Humildade e cortesia intelectual. Resposta aberta a X.F.R.”, in: Agália,

 

                            nº6, Verão, Ourense, 32 págs.

 

 

 

 

 

                1986: “Normativizaçom na Galiza”. Comunicação apresentada ao Hizkuntza

 

                            Minoritzaren Soziologi Biltzarrea, Congresso de Sociologia das Línguas

 

                            Minorizadas, celebrado em Getxo (País Basco) em 1986. Publicado nas

 

                            actas do congresso por Ttartalo, 25 págs.

 

 

 

 

 

                1987: “As normas de correção idiomática para o galego desde o ano 1970.

 

                            Análise do discurso legitimador” in: O Ensino, nº 18-22, Ponte Vedra - Braga,

 

                            21 págs.

 

 

 

                1987: “Sobre dicionarios galegos”, conversa (grafada) com Isaac Alonso estravís,

 

                            diretor e autor do Dicionário da Língua Galega comum”, in: Isaac Alonso

 

                            Estravís: Estudos filológicos galego-portugueses, Alhena Ed., Madrid, 45 págs.

 

 

 

                1991: “Isolacionismo e constrita desgaleguização da comunidade lusófona na

 

                           “Comunidade Autónoma Galicia”. Congruência do “autonomismo bien

 

                            entendido” com o Language Planning, dito “possível” e “realista”,

 

                            permitido pela legalidade fundamental espanhola”, in: Nós, nº 19-28, Ponte

 

                            Vedra - Braga, 22 págs.

 

 

 

                1991: “Corpus Planning/Status planning: correlacionamentos”, comunicação

 

                           apresentada ao I Seminario Internacional sobre Planificación Lingüística”

 

                           organizado pelo Consello da Cultura Galega em Santiago de Compostela

 

                           (texto ampliado), in: Nós, nº 19-28, Ponte Vedra - Braga, 14 págs.

 

 

 

                1996: Silêncio ergueito. Apontamentos sócio-políticos sobre questões

 

                           aparentemente idiomáticas (infelizmente certificados apenas dez anos

 

                           depois). Ed. do Castro, Corunha, 285 págs.

 

 

 

 

 

 

 

  

 

LÍNGUA E NACIONALISMO GALEGO. HISTÓRIA DAS “CONCÓRDIAS NORMATIVAS” E DAS ORGANIZAÇÕES NORMALIZADORAS

 

  

 

 

 

 

 

                1984: “Tese reintegracionista” in: AA.VV.: Que galego na escola?, I Encontros

 

                            Labaca, Ed. do Castro, Corunha.

 

 

 

 

 

                1985: “Normativização na Galiza: contra as regras de ortografia para a

 

                            desnormalização dos usos do galego”, in: Temas de O Ensino nº 4/5,

 

                            1985, Vol. I., Ponte Vedra - Braga (Parcialmente incluído no texto “Humildade

 

                             e cortesia intelectual”, in: Agália, nº 6, Verão, Ourense, 1986).

 

 

 

                1986: “Partidos políticos e estandardização do idioma na Galiza”, in: Agália,

 

                            7, Outono, Ourense, 14 págs.

 

 

 

                1990: “Da marginalidade à marginalização: cultura e democracia na

 

                            Comunidade Autónoma galega”, comunicação apresentada aos

 

                            Primeros Encuentros de la Sociología en Galicia. Santiago de

                            Compostela, 6-7 de dezembro. Inédito.

 

PROF. ANTÓNIO GIL HERNÁNDEZ

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA COMPLETA

(Dezembro 2005)

 

 

 

 

 

 

 

1.- LINGUÍSTICA («práxica») [L]

 

L-1980 a) «Sobre o lusismo» in Man Común (Corunha), núm. 1, p. 56.

 

L-1980 b) e c) «Sobre o normal e as normas» (I e II) in Man Común (Corunha), núms. 3, pp. 35-36, e 4, pp. 33-34. Recopilado em Silêncio ergueito, Eds. do Castro, Corunha, 1991.

 

L-1980 d) «Carta aberta a amigos (e inimigos) sobre a posível normativa ortográfica do galego in Man Común (Corunha), núm. 5, pp. 18, Dezembro.

 

L-1981) «Para unha ortografia axeitada do galego: «comer o caldo» ou «come-lo caldo»?» in O Ensino (Ourense), núm. 2 (Maio-Agosto), pp. 39-45.

 

L-1981-1982) «Apontamentos sobre a ortografia do galego» in A Nosa Terra (Vigo), núms. 164 (Novembro) a 178 (Março).

 

L-1982) «Observaciones sobre la lengua escrita. Acerca del uso de LH: 149-150) y NH en gallego según la Traducción gallega de la Crónica General y de la Crónica de Castilla (edición del Dr. Lorenzo Vázquez), comunicação apresentada ao IX Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (Oviedo,1981); resumo publicado na Revista Española de Lingüística (Madrid), vol. 12.1, pp. 149-150.

 

L-1982 a) «Ortografia, escrita correcta ou algo mais?» (I e II), in A Nosa Terra (Vigo), núm. 187, p. 16, e núm. 188, p. 19.

 

L-1982 b) A. Gil Hernández/X. R, Pena Sánchez/X. C. Rábade Castiñeira, Língua galega. 2, Everest Libros, León. Pode hoje servir de livro de texto para 2.o e 3.o de B.U.P.

 

L-1983) «Estatuto lingüístico del gallego y ortografía: breve recorrido por gramáticas y normas (desde el s. XIX)», resumo da comunicação redigida para o XII Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (1982), e finalmente não apresentada, mas publicada em J. Polo (1986), Epistemología del lenguaje e historia de la lingüística. Momentos de su desarrollo bibliográfico en el ámbito hispanohablan­te, Editorial Gredos, Biblioteca Romá­nica Hispánica, Madrid, pp. 113-114.

 

L-1983) Fazendo parte da «Comissom Lingüística» da Associaçom Galega da Língua

 

(AGAL), colabora na redação do Estudo Crítico das Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego (ILG- RAG, 1982).

 

 

 

L-1984) «Os princípios da última proposta normativizadora para o galego: consistência teórica», comunicação apresentada ao XIII Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (Madrid, Dezembro de 1983); resumo publicado na Revista Española de Lingüística (Madrid), vol. 14.1, pp. 157-158.

 

L-1985) Fazendo parte da «Comissom Lingüística» da Associaçom Galega da Língua

 

(AGAL), colabora na redação do Prontuário Ortográfico Galego.

 

 

 

L-1986) «Um «dicionário» escolar. Impressom primeira», sob o pseudónimo de Roi VALES DA OLIVEIRA, in Agália (Corunha), núm. 8 (Inverno), pp. 489-490.

 

L-1987 a) ««Lixeiros comentários sobre temas lingüísticos», de C. García», sob o pseudónimo de AGIL.ULFO (como o título diz, comentam-se criticamente as propostas do Professor asturiano em Follas da lingua), in Agália (Corunha), núm. 12 (Inverno), pp. 446-453.

 

L-1987 b) «Sobre dicionarios galegos e temas enleados. Conversa (grafada) com Isaac Alonso Estravís, diretor e autor do Dicionário da língua galega comum», epílogo a I. Alonso Estravís, Estudos filologicos galegoportugueses, Alhena Eds, Madrid, pp. 287-334.

 

L-1987 c) «As normas de correção idiomática propostas desde 1970 para o galego. Análise do discurso legitimador», comunicação apresentada ao XVI Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (Madrid, Dezembro de 1986); resumo publicado na Revista Española de Lingüística (Madrid), vol. 17.1, p. 170.

 

L-1987 d) «Sobre o Acordo Ortográfico desde a Galiza» in Temas de O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 11-13, monográfico sobre O Acordo Ortográfico e a Lusofonia, pp. 49-55. Texto da comunicação ao II Encontro Luso-Galaico de Escritores (Melgaço, Agosto de 1986).

 

L-1987 e) J. Angel de Francisco (coordinador do Grupo «Limen», em que estava incluido Gil), Lenguas modernas y latín, Cuaderno de trabajo núm. 1, Gandía; em especial, pp. 185-209.

 

L-1988 a) «Dez pontos para a discussão sobre o «galego» [texto ampliado das pontualizações à comunicação do Prof. Leodegário de Azevedo Filho, da Universidade do Rio de Janeiro, ao II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Santiago de Compostela-Ourense, Setembro de 1987), in Nós (Braga/ /Ponte Vedra), núms. 7-12, pp. 113-118.

 

L-1988 b) «A língua escrita enquanto símbolo identificador. Aos dez anos dos Estudos Galego-Portugueses. Por uma Galiza renovada (1979), do Prof. Rodrigues Lapa, in O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 23-28, pp. 199-203. Constitui, reelaborado, o texto de L-1989.

 

L-1988/1989) «La questione della lingua na Lusofonia: confusões, efusões e difusões. Um apontamentos com intuito de precisão» in Temas de O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 14-20, monográfico sobre A Lusofonia, unificação ortografica e politica linguisticocultural, pp. 29-31.

 

L-1989 a) «A língua escrita enquanto símbolo identificador. Aos dez anos dos Estudos Galego-Portugueses. Por uma Galiza renovada (1979), do Prof. Rodrigues Lapa», comunicação apresentada ao XVIII Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (Madrid, Dezembro de 1988); resumo publicado na Revista Española de Lin­güística (Madrid), vol. 19.1, p. 150-151.

 

L-1989 b) Fazendo parte da «Comissom Lingüística» da Associaçom Galega da Língua (AGAL), colabora na revisão e acrescentamento da segunda edição do Estudo Crítico das Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego (ILG- RAG, 1982).

 

 

 

L-1990) «Dos Estudos, do prof. Rodrigues Lapa, aos Problemas, do prof. Carvalho Calero», in Actas do III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Editadas em Ourense, 1992, pp. 561-567.

 

L 2002) «Temas sobre teimas. Comentários sobre um texto do Prof. José Enrique Gargallo Gil», in http://www.lusografia.org/antoniogil.htm.

 

 

 

 

 

2.- SOCIOLINGUÍSTICA [S]

 

S-1981) «Galicia y el idioma gallego: una situación de particular interés sociolingüístico», comunicação apresentada ao X Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (Madrid, Dezembro de 1980); resumo publicado na Revista Española de Lingüística (Madrid), vol. 11,1, pp. 201-202.

 

S-1986 a) «Aproximaçom à análise do[s] discurso[s] sobre a língua em textos da «filologia oficial» na Galiza. Traços fascistóides no discurso e na prática (dos) isolacionistas sobre o galego», texto muito ampliado da comunicação ao I Congresso Inter­nacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza (Ourense, Setembro de 1984), in Actas, Corunha, pp. 81-126.

 

S-1986 b) «Dimensões no processo normalizador de uma Comunidade Linguística: Galiza. (Epílogo para galegos, portugueses, brasileiros e africanos de «expressom portuguesa»), in Temas de O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 6-10, pp. 247-283.

 

S-1987) «As normas de correção idiomática para o galego desde o ano 1970. Análise do discurso legitimador» in O Ensino (Bra­ga/Ponte Vedra), núms. 18-22, Homenagem ao Prof. Carvalho Calero, pp. 243-263. Constitui o texto, reelaborado e muito ampliado, de L-1987 c).

 

S-1988) «A língua como facto social. Duas missivas» (nota-recesão a História da Língua, de X. I. Pérez Pascual e A. Reboleiro, e a Curs de Sociolingüística I, de A. Mollà e C. Palanca), in Agália (Corunha), núm. 14 (Verão), pp. 309-323.

 

S-1988/1989 a) «A lingua galegoportuguesa na Galiza. «Sobre o que se passa na Galiza (espanhola)». Conversa  -- reflexiva -- com lusofonos interessados» in Temas de O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 14-20, monográfico sobre A Lusofonia, unificação ortografica e politica linguisticocultural, pp. 117-122.

 

S-1988/1989 b) «As minhas razões para acreditar na Lusofonia» in Cadernos do Povo (Braga/Ponte Vedra), núms. 5-14, monográfico sobre O fenomeno literario nos paises lusofonos. Literatura galega, portuguesa, brasileira e africana, pp. 17-19.

 

S-1989 a) «Diglossia: conceito adequado à Galiza?» in Folhas de Cibrão (Santiago de Compostela), núm. 1, pp. 68-75.

 

S-1989 b) «A diglossia é condição de normalidade sociopolítica: sequência de «caminhos a seguir»» in Folhas de Cibrão (San­tiago de Compostela), núm. 2, pp. 49-52.

 

S-1989 c) «O correlacionamento diglóssico é condição de normalidade» (texto da comunicação ao III Congreso de Sociología da FASEE, no apartado «Sociología de la lengua»), Donostia, (a publicar nas Actas).

 

S-1989 d) A. Gil Hernández/H. M. Rabunhal Corgo, «O conceito de diglossia segundo Ch. A. Ferguson e a sua pertinência para a Comunidade Lusófona da Galiza. Um caso de diglossia por deslocação» (que agora subtitularia «um caso de diglossia deslocada»), in Nós (Braga/Ponte Vedra), núms. 13-18 (Janeiro-Dezembro), Home­nagem ao Prof. Guerra da Cal, pp. 361-388. Inclui a versão galego-portuguesa do artigo «Diglossia».

 

S-1990 a) «Anotações» a J. Schmidt-Radefelt» Aspectos da interferência linguística. O exemplo galego» (texto da comunicação ao XIX Congresso de Linguística e Filologia Românicas, Santiago de Compostela, Setembro de 1989, cuja publicação o Professor autorizou expressamente), in Agália (Corunha), núm. 22 (Ve­rão), pp. 143-159.

 

S-1990 b) «Propostas para um processo normalizador da comunidade linguistica galaico-portuguesa na Galiza: mais sobre o conceito de diglossia», comunicação apresentada ao XIX Simposio de la Sociedad Española de Lingüística (Salamanca, Dezembro de 1989); resumo publicado na Revista Española de Lingüística (Madrid), vol. 20.1, p. 182.

 

S-1990 c) «Da marginalidade à marginalização: Cultura e democracia na Comunidade Autonómica galega», comunicação apresentada aos Primeros Encuentros de la Sociología en Galicia, organizados pela Asociación Galega de Socioloxía, na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade de Santiago de Compostela (6-7 Dezembro de 1990). As Actas acham-se no prelo. Publicado em www.lusografia.org, 2006.

 

S- 2000) «Apontamentos desde a Galiza (espanhola) sobre o discurso da/de unidade para a lusofonia», in: Estudos dedicados a Carvalho Calero, reunidos e editados por José Luís Rodríguez, Tomo I, Lingüística. Parlamento de Galicia, Universidade de Santiago de Compostela, pp. 565-575.

 

 

 

3.- GLOTOPOLÍTICA [G]

 

G-1984) M.a D. Arribe Dopico/A. Gil Hernández/J. C. Rábade Castinheira, Que galego na escola? Anotaçons para umha proposta de planificaçom lingüística. Tese reintegracionista, in AA.VV., Que galego na escola? «Ponencias» ao I Encontros LABACA (Corunha, Junho de 1983), Eds. do Castro, Sada/Corunha, pp. 43-175 (a colaboração de Gil compreende as pp. 57-153).

 

G-1985 b) «Sobre discriminações «por razón de la lengua» na Comunidade Autónoma de «Galicia» (Spain)», comunicação, apresentada no apartado «Língua», ao III Colóquio Galaico-Minhoto (Viana do Castelo, Setembro), ainda não foram publicadas as Actas.

 

G-1986 a) «Normativizaçom na Galiza», texto (ampliado) da intervenção na «Mesa Redonda» sobre Normativização no I Congreso Internacional de Sociología de Línguas Minorizadas (Getxo/Badura, Outubro de 1984), publicado nas Actas, editadas por José-Agustín Ozamiz e José Ignacio Ruiz Olabuénaga, ttarttalo, San sebastián, pp. 199-224. «Normativizaçom na Galiza: contra as regras de ortografia para a desnormalizaçom dos

 

usos do galego», in Temas de O Ensino nº 4/5, Vol. I, Ponte Vedra – Braga, pp. 139-156.

 

 

 

G-1985 b) «A situaçom «de direito» no Estado espanhol: desigualdade entre as comunidades linguísticas. Uma opiniom desde a Galiza», texto revisto de G-1987, in O Ensino (Braga/Ponte Ve­dra), núms. 11-13, pp. 115-127.

 

G-1986 c) «Humildade e cortesia intelectual. Resposta aberta a X.F.R» (artigo que responde à «ponencia» de D. Xesús Ferro Rui­bal nos I Encontros Labaca, Corunha 1983), in Agália (Corunha), núm. 6 (Verão), pp. 127-160.

 

G-1986 d) «Partidos políticos e estandardizaçom do idioma na Galiza» (comunicação ao Encontro sobre o estado actual da normalización lingüística (análise da política oficial e alternativas), Compostela 18-20 de Abril de 1986), in Agália (Corunha), núm. 7 (Outono), pp. 309-323.

 

G-1986 e) «Usos e abusos «partidários» do Galego-Português na Galiza» in Nós (Braga/Ponte Vedra), núm. 1 (Janeiro-Abril), pp. 28-32.

 

G-1986 f) Fazendo parte da «Comissom Sociolingüística» da Associaçom Galega da Língua: «Um produto mais do «melhor» regionalismo: AA.VV., Aspectos sociolingüísticos do bilingüísmo en Galicia. Segundo os alumnos da 2.a etapa de E.X.B. (1986)» in Agália (Corunha), núm. 6 (Verão), pp. 197-203.

 

G-1987 a) A. Gil Hernández/X. Vilhar Trilho, «Informe sobre a Sentença do Tribunal Constitucional no recurso de inconstitucionalidade contra as Leis de Normalizaçom Lingüística, in specie a galega» in Agália (Corunha), núm. 10 (Verão), pp. 229-239.

 

G-1987 b) «Igualdad y desigualdad entre las Comunidades lingüísticas: una opinión desde la Comunidad Autónoma gallega», texto ampliado da intervenção na «Mesa Redonda sobre las lenguas del Estado español» no Sinposio para la Innovación en la enseñanza de la lengua y la literatura, organizado pela «Subdirección Gene­ral de Formación del Profesorado», Madrid, Junho de 1984, publicado nas Actas, Madrid, pp. 235-248.

 

G-1986.1989) «Reflexões de Castelão sobre a língua (contidas no Sempre em Galiza): da correlação entre o projeto político, o «modelo linguístico» e a porposta formalizadora» (texto da comunicação ao Congreso Castelao, Universidade de Santiago de Compostela, Novembro de 1986), in Actas do Congreso Castelao (Parte IV: «A lingua»), Universidade de Santiago de Compostela/«Xunta de Galicia»/Fundación Castelao, Vol. II, pp. 39-61.

 

G-1989) A. Brea Hernández/A. Gil Hernández/I. Rodrigues Aldrei, «A catástrofe, relato breve de Eça de Queiroz. Comentários» (inclui-se o texto do relato) in Agália (Corunha) núm. 20 (Inverno), pp. 459-477.

 

G-1991 a) «João V. Viqueira e a comunidade lusófona da Galiza» in Nós (Braga/Ponte Vedra), núms. 19-28 (Atas do I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas), pp. 51-58.

 

G-1991 b) ««Isolacionismo» e constrita desgaleguização da comunidade lusófona na «comunidad autónoma Galicia». Congruência do «autonomismo bien entendido» com o language Planning, dito «possível» e «realista», permitido pela legalidade fundamental espanhola» (nova redação da comunicação apresentada ao Seminar on Language Planning organizado pelo «Council of Galician Culture», Santiago de Compostela, Setembro de 1991), in Nós (Braga/ /Ponte Vedra), núms. 19-28 (Atas do I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas), pp. 368-382.

 

G-1991 c) «Apontamentos sobre os direitos linguísticos na Galiza espanhola. Por que é que se mudou a programação de Litera­tura Galega do ano 1980 para a do ano 1983», Agália (Corunha), núm. 27 (Outono), pp. 297-319. Nova redação de «A Literatura Portuguesa a ler na Galiza», comunicação ao Congresso Internacional de Lusitanistas (Coimbra, Junho), a aparecerem as Actas.

 

G-1991 d) «Isolacionismo e constrita desgaleguização da comunidade lusófona na “Comunidade Autónoma Galicia”. Congruência do “autonomismo bien entendido” com o Language Planning, dito “possível” e “realista”, permitido pela legalidade fundamental espanhola» in Nós, nº 19-28, Ponte Vedra - Braga, pp. 368-382.

 

 

 

G-1991 e) «Corpus Planning/Status planning: correlacionamentos», comunicação apresentada ao I Seminario Internacional sobre Planificación Lingüística” organizado pelo Consello da Cultura Galega em Santiago de Compostela (texto ampliado). 14 pp. Inédito.

 

 

 

G-1992 a) «A respeito de “La lengua de Cristóbal Colón”. Apontamentos ao “estudio” (194) de D. Ramón Menéndez», in Nós (Braga/Ponte Vedra), núms. 29-34, Atas do Congresso Internacional «A língua portuguesa no mundo, terceira língua de comunica­ção internacional, 200 milhões de lusófonos. Em homenagem aos Professores Lindley Cintra e Manuel Ferreira, pp. 103-112.

 

G- 1992  b) «Linhas gerais para a normalização da comunidade lusófona na Galiza (espanhola)», in Agália num. 30 (Verão), pp. 233-243.

 

 

 

G-1992.1993) «Apontamentos de “gineko-dialekto-polítika” a propósito duns textos de A. Brañas», in Actas do Simpósio Internacional Mulher e Cultura (Santiago de Compostela, 27-29 de Fevereiro de 1992). Departamento de Didáctica da Lingua e Literatura. Universidade de Santiago de Compostela, pp. 509-516.

 

G-1993.1994) «Limiar (1992) ajoelhado e rouquenho a um Silêncio ergueito e descontraído», in Nós (Braga/Ponte Vedra), núms. 35-40, Atas do II Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas (Santiago de Compostela, 23-25 de Setembro de 1993), pp. 161-168. Primeiras páginas do prólogo de Silêncio Ergueito.

 

G- 1993) Lluís V. Aracil/A. Gil Hernández: Para uma história de Iruinean Sortua. Cadernos do I.E. L.-G. Série “Documentos”. Volume I., 38 pp. Inclui «Uma após-história de “Iruinean Sortua”, pp. 19-34.

 

 

 

G-1994 a) «A impossível “democracia” (política) no reino da confusão (a Galiza espanhola)», in XI Semana Galega de Filosofia. Filosofia e Democrácia (Ponte Vedra,  4-8 de Abril), pp. 35-38.

 

G-1994 b) «Mais sobre Língua literária da “galegofonia”. Nem bio nem eco, mas apenas função social e símbolo nacional», in Temas de O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 27-38 (1991-1994), Atas do Congresso Internacional de Língua, Cultura e Literaturas Lusófonas (Santiago de Compostela, 15-17 de Setembro de 1994) em Homengem ao Professor Ernesto Guerra da Cal, pp. 206-213.

 

G- 1994 c) «Mais sobre língua literária da “galegofonia» in Temas do Ensino, nº 27-38, (Vol. VII-IX), Ponte Vedra - Braga, 8 pp.

 

 

 

G- 1996) Silêncio ergueito. Apontamentos sócio-políticos sobre questões aparentemente idiomáticas (infelizmente certificados apenas dez anos depois). Ed. do Castro, Corunha, 285 págs. O prefácio é acessível na internet: http://membres.lycos.fr/questione/perspectivas/prefacio.html

 

 

 

    G- 1999) «Reformação ortográfica na Galiza ou, mais uma vez, a montanha parirá um rato?, in Agália, núm. 59, pp. 315-332.

 

 

 

    G- 2006) No prelo: Temas de linguística política. Seguidos dum avanço de temas de política linguística. Leves Reflexões sobre política nacional "espanhola". Associação de Amizade Galiza-Portugal, 230 pp.

 

 

 

 

 

4. CRIAÇÃO LITERÁRIA (CLIT)

 

CLIT- 1985 a) Baralha de sonhos. Irmandades da Fala. Coleção Cadernos do Povo / poesia. Ponte Vedra - Braga.

 

CLIT- 1985 b) «Retalhos osbscœnos (Primeira entrega)», sob o pseudónimo Amado L. Caeiro, in Agália, num. 2 (Verão), pp. 211-2.

 

 

 

CLIT-1987) «Três poemas de Só para falar de amor», sob o pseudónimo de Amado L. CAEIRO, in: O Fenómeno Literário nos Países Lusófonos. Literaturas Galega, Portuguesa, Brasileira e Africana. Cadernos do Povo nº2-4, Ponte Vedra – Braga, p. 111.

 

CLIT- 1988/89) «Só para falar d’amor», poema in O fenómeno literário nos países lusófonos. Literatura galega, portuguesa, brasileira e africana. Cadernos do Povo. Revista Internacional da Lusofonia, núm. 5-14, Ponte Vedra-Braga, p. 178.

 

 

 

CLIT-1989) «De luzes e espinho» in Nós, Revista internacional galaicoportuguesa de cultura, núm. 13-18, p. 501.

 

 

 

CLIT- 1990) Luzes e espírito. Cadernos do Povo / Poesia. Ponte Vedra-Braga. 

 

 

 

CLIT- 2001) «Devassamento, mudança e reunião», in Agália num.20 (a), pp. 85-90

 

 

 

 

 

5.- LITERATURA: ASPETOS TEÓRICOS (LAT)

 

    LAT- 1982) «O conto popular. Aproximaçons à sua definiçom e análise (1), in O Ensino núm. 5, pp. 34-38.

 

LAT-1983/1986) «Introduçom» a A. Gil Hernández (editor): Comentário de textos literários, Alhena Eds. Madrid, pp. 11-37.

 

LAT-1987) «Algumas teses sobre literatura aplicadas à Galiza» in Cadernos do Povo. Revista Internacional da Lusofonia, núms. 2-4 (Maio-Dezembro), pp. 17-20.

 

LAT-1989 a) «A oficialite reinante, um beco sem saída?», comunicação, apresentada no apartado I «O escritor e o poder», aos Encontros Galeusca 1989 (Santiago de Compostela, Novembro). As Actas permanecem inéditas.

 

LAT-1989b) «Diglossia, normalidade e criação literária (vanguardista)», comunicação, apresentada no apartado II «Identidade nacional e vanguarda», aos Encontros Galeusca 1989 (Santiago de Compostela, Novembro). As Actas estão sem publicar.

 

LAT-1990 a) «Lingua e literatura no Ressurgimento da Galiza lusofona» in Temas de O Ensino (Braga/Ponte Vedra), núms. 21-26, monográfico sobre Ressurgimento galego, essa Lusofonia, pp. 21-30. Texto em homenagem ao P.e José-Martinho Montero Santalha.

 

LAT-1991) «É nacional a literatura galego-portuguesa na Galiza espanhola?» (nova redação de LAT-1989 a) in A.R.O. (Ordens) núm. 6, pp. 13-20.

 

 

 

6.- COMENTÁRIO DE TEXTOS LITERÁRIOS (CTL)

 

CTL-1974) Miguel Delibes, Cinco horas con Mario: expresión lingüística y configuración narrativa, «tesinha» apresentada na Faculdade (então) de Filosofia e Letras, da Universidade de Santiago de Compostela, no curso 1973-1974, dirigida pela Prof.a Dr.a D. Ma C. Bobes Naves; mereceu a qualificão de sobresaliente.

 

CTL-1977 a) «La obra literaria como integración dinámica» (reelaboração de alguns capítulos de C-1974, in M.a C. Bobes Naves (editora), Crítica semiológica (segunda edición), Cátedra de Crítica Literaria (Universidad de Oviedo)/Librería Ojanguren, Oviedo, pp. 163-203.

 

CTL-1977 b), «La cólera de Aquiles» in El Ideal Gallego (Corunha), «Suplemento dominical», 29/Abril.

 

CTL-1980) «A lírica medieval galego-portuguesa» in El Ideal Gallego (Corunha), «Suplemento dominical», 17/Maio.

 

CTL-1984) «A respeito e com (pré-) texto de um «poematinário». Carta )aberta( a Manuela Maria»; é a carta-prefácio a A luz ressuscitada, de Manuela Maria, A.Ga.L., Corunha, pp. 5-22. E em http://www.lusografia.org/antoniogil/manuelmaria.htm. Será reeditado no livro Temas de Linguística Política.

 

CTL-1983/1986) «Sobre a descriçom. Comentário a um parágrafo de Fábula, de X. Alcalá» in A. Gil Hernández (editor), Comentário de textos literários, Alhena Eds. Madrid, pp. 321-354. Referência: C- 1986 a).

 

CTL-1986) «Umha revista quase ibérica: Ventanal», sob o pseudónimo de AGIL.ULFO, in Agália (Corunha), núm. 8 (Inverno), p. 488.

 

CTL-1987 b) «Epistolário en catro tempos, de Henrique Manuel Rabunhal Corgo», sob o pseudónimo de AGIL.ULFO (recesão-comentário) in Agália (Corunha), núm. 9 (Primavera), pp. 111-113.

 

CTL-1987 a) «A Camilo Gonsar, com afecto, sobre Lonxe de nós e dentro e outras páxinas» (comentário), sob o pseudónimo de Roi VALES DA OLIVEIRA, in Agália (Corunha), núm. 9 (Primavera), pp. 115-117.

 

CTL-1986.1989) «Esboço para uma análise de Os dous de sempre» (texto da comunicação ao Congreso Castelao, Universidade de Santiago de Compostela, Novembro de 1986), in Actas do Congreso Castelao (Parte V: «Obra literaria»), Universidade de Santiago de Compostela/«Xunta de Galicia»/Fundación Castelao, Vol. II, pp. 317-342.

 

CTL-1987.1989) «Uma leitura de Os dous de sempre [de Castelão]» (texto da comunicação ao II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Santiago-Ourense, Setembro de 1987), in Actas do II Con­gresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, A.Ga.L., Corunha, 309-326.

 

CTL-1989) «Sagrada esperança, de Agostinho Neto: uma leitura desde a Galiza» (texto da comunicação ao Simpósio Internacional sobre Cultura Angolana, Porto, Maio de 1989), in A voz igual. Ensaios sobre Agostinho Neto, tomo I das Actas do I Simpósio Internacional sobre Cultura Angolana, Fundação Eng. António de Almeida, Angolê, Porto, pp. 225-256.

 

CTL-1989.1991) «Sobre «Horas de invierno», da Mariano J. de Larra: para uma didáctica da literatura castelhana que não desnacionalize a Galiza espanhola» (texto da comunicação ao I Simposio Internacional de Didáctica da Língua e a Literatura, Corunha, De­zembro de 1989), in Actas do I Simposio Internacional de Didácti­ca da Língua e a Literatura, Universidade de Snatiago de Compostela, pp. 423-430.

 

CTL – 2001 «Impressões de leitura: Herba do Tempo». Comentários ao poemário do mesmo título do prof. Xosé Abeal. Publicado em www.lusografia.org, Dezembro 2005.

 

 

 

7.- LITERATURA COMPARADA (LC)

 

LC-1991) «Três (mais uma) reflexões literário-políticas sobre duas (apenas) concepções nacionais: Mariano J. de Larra, «Horas de Invierno»; Emilia Pardo Bazán, «Idioma ó dialecto»; José M.a Eça de Queiroz, A catástrofe; Fernando Pessoa, Portugal, Sebastianismo, Quinto Império», texto da comunicação ao I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas (Santiago de Compostela, Setembro de 1991), in Nós (Braga/ Ponte Vedra), núms. 19-28 (Atas do I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas), pp. 172-199.

 

 

 

8.- «LAPELA», seção de crítica de livros.

 

«SUPLEMENTO DOMINICAL» EL IDEAL GALLEGO (Corunha):

 

8.1.- Ano 1979:

 

 1.  «Literatura gallega y escolarización» (28/Janeiro).

 

 2.  «O raposo pillabán» (11/Fevereiro).

 

 3.  «Fala, escritura e ortografia. Sobre os métodos didácticos de Picariños e O castelo de Irás [...]» (18/Fevereiro).

 

 4.  «Literatura, escola, vida (I)» (4/Março).

 

 5.  «Literatura, escola, vida (II). Ciclo preparatorio gallego-castellano. Presupostos deficientes e confusos dun traballo do MEC» (11/Março).

 

 6.  «Literatura, escola, vida (III). Vieiros de solución: mais sobre a normalización do galego» (18/Março).

 

 7.  «Literatura, escola, vida (e IV). O galego, problema político» (25/Março).

 

 8.  «Do Faro ó Miño» (1/Abril).

 

 9.  «Contubernio catro de Tomé S., de Alfredo Conde» (8/ Abril).

 

10.  «A cultura da Galiza. Sobre a exposición «O libro galego onte e hoxe»» (15/Abril).

 

11.  «O texto teatral» [sobre F. Ruiz Ramón, Estudios de teatro español clásico y contemporáneo] (22/Abril).

 

12.  «Tempo de Compostela, de Salvador García Bodaño, Premio Nacional de la Crítica 1978» (29/Abril).

 

13.  «Homes de ningures, de X. I. Taibo, Premio Nacional de la Crítica 1978» (6/ Maio).

 

14.  «Reflexions dun home da rua: Dia das Letras Galegas» (15/Maio).

 

16.  «Dia das Letras Galegas. Exposición «O libro galego onte e hoxe»» (20/Maio).

 

17.  «Nau enfeitizada, claroescuros corunheses, de Xosé De­vesa» (27/Maio).

 

18.  «Os outros feirantes, Premio da Crítica de Galiza 1979» (3/Junho).

 

19.  «O estatuto literario. Apontamentos a Antoloxía da poe­sía galega actual (I)» (10/­Junho).

 

20.  «O estatuto literario. Apontamentos a Antoloxía da poesía galega actual (e II)» (17/Junho).

 

21.  «Historias do canizo, de Anxel Sevillano» (24/ Junho).

 

22.  «Co motivo dunha homenaxe. Recordo de Luis Seoane» (1/ Julho/ 1979).

 

23.  «Dous relatos de Manuel Catoira: Intento de fuga de la prisión central» (8/Julho).

 

24.  «Un libriño polemizado: Estudos galego-portugueses, de M. Rodrigues Lapa (I)» (15/Julho).

 

25.  «Un libriño polemizado: Estudos galego-portugueses, de M. Rodrigues Lapa (e II)» (22/Julho).

 

26.  «Nova alternativa cultural galega do Colectivo Equipo LIMBO» (29/Julho).

 

27.  «Un decreto chamado de «bilingüismo». Apontamentos de urgéncia (lea-se «urxéncia»)» (19/Agosto).

 

28.  «Manoel-António, poeta nacionalista (I). Correspondencia, volume terceiro da Obra Completa (a)» (26/Agosto).

 

29.  «Manoel-António, poeta nacionalista (II). Correspondencia, volume terceiro da Obra Completa (b)» (2/Setembro).

 

30.  «Manoel-António, poeta nacionalista (III). Correspondencia, volume terceiro da Obra Completa (c)» (16/Setembro).

 

31.  «Manoel-António, poeta nacionalista (IV). Correspondencia, volume terceiro da Obra Completa (d)» (30/Setembro).

 

32.  «Manoel-António, poeta nacionalista (V). Mais alá!» (7/ Outubro).

 

33.  «Manoel-António, poeta nacionalista (VI). A poesia de Manuel-António (a)» (14/ Outubro).

 

34.  «Manoel-António, poeta nacionalista (e VII). A poesia de Manuel-António (b)» (21/Outubro).

 

35.  «Lembranza de Celso-Emílio» (9/Setembro).

 

36.  «A question do ensino galego: unha decison da «Comisión Mixta».- O Vocabulario Castellano-Gallego, de Fernández del Riego» (28/Outubro).

 

37.  «A question do ensino galego: serve para algo a «Comisión Mixta»?» (11/Novem­bro).

 

38.  «A question do ensino galego: xa se sabe para que serve a «Comisión Mixta»?» (18/Novembro).

 

39.  «Cen chaves de sombra, de V. Paz-Andrade.- La vela y el viento» (4/Novembro).

 

40.  «Teatro Nós, de Carballo Calero (Clásicos do estudante galego).- As ruas do vento ceibe, de Manuel Maria» (25/Novembro).

 

41.  «Dos conflitos culturais da Galiza. A Galiza, país de contrastes: feitos contrapostos.- Adral, de Xosé Filgueira Val­verde» (2/Dezembro).

 

42.  «Recordo de Eduardo Blanco-Amor» (9/Dezembro).

 

43.  «Un opúsculo xeitoso. Directrices para a reintegración lingüística galego-portuguesa, de Xosé-Martiño Montero Santalla» (16/Dezembro).

 

 

 

8.2.- Ano 1980:

 

44.  «O teatro galego, de M. Lourenzo e F. Pillado Mayor» (13/Ja­neiro).

 

45.  «A negra e outras narracións, traballos premiados no 4.o Concurso de narracións curtas «Modesto R. Figueiredo», do Pedrón de Ouro» (20/Janeiro).

 

46.  «Dous livros de poemas: O libro dos mortos, de E. Mo­reiras. Soldada mínima, de M. Rodríguez López» (27/Janeiro).

 

47. ««La literatura gallega» por Xesús Alonso Montero» (3/ Fevereiro).

 

48.  «Silva de varia lección.- Sociología del lenguaje, de Joshua Fishman» (10/Feve­reiro).

 

49.  «Ensino e cultura galega (I). Unha obra do Prof. Carballo Calero.- Sociología de la comunicación, de B. Badura» (17/Fevereiro).

 

50.  «Ensino e cultura galega (II). Quizá o galego sexa problema político, quizá non...- «Programación de lingua galega pró ensino básico»» (24/Fevereiro).

 

51.  «Catro livros», sob o pseudónimo de AGIL.ULFO [A.C. «O Facho», Contos pra nenos; R. Carballo Calero, Estudos rosalianos. Aspectos da vida e da obra de Rosalia de Castro e Libros e autores galegos. Dos trovadores a Valle-Inclán; A. Suárez, Luaña] (13/Abril).

 

52.  «Catro livros», sob o pseudónimo de AGIL.ULFO [M.a C. Novoa González, La gaita y la cornamusa en Galicia y en Francia; J.-S. Grespo Pozo, Contribución a un vocabulario Castellano-Gallego; X. Neira Vilas, Cartas a Lelo e Galegos no Golfo de Méxi­co] (20/Abril).

 

53.  «Cantigas de Santa Maria. Escolma, prólogo e versión moderna de Alvaro Cunqueiro.- Ritos e creencias galegas, de X. Taboada Chivite» (15/Junho/1980).

 

54.  «Dous livros de Carlos Casares [Curros Enríquez e Ilus­trísima; J. Donoso, La misteriosa desaparición de la marquesita de Loria; O. L. Abad Flores, Estampas do meu amigo Pepiño; Camp de l'arpa núm. 75 sobre literatura galega contemporânea] (6/ Julho).

 

55.  «O primeiro dicionário básico da língua galega, do I.L.G.» (13/Julho).

 

56.  «As normas ortgoráficas do idioma galego, da «Xunta».- P. Pallarés, Entre lusco e fusco.- Aontoniorrobles, A meiga dona Paz» (20/Julho).

 

57.  «A unidade da língua, problema de fundo.- Normas ortográficas do idioma galego [comentários de X. C. Rábade].- V. F. Freixanes, «O Fresco». Memorias dun fuxido.-  Os arroutos de Rompente» (10/Agosto).

 

59.  «Textos escolares.- R. Villares Paz, Historia de Galiza.- A. Pérez Alberti, Xeografía de Galiza» (17/Agosto).

 

60.  «Irmandade galego-portuguesa.- Retábulo do amor profano sobre farsas de Blanco Amor.- Orientacións para a escrita do noso idioma.- X. L. Rei Núñez, Trobas donceles.- X. M. Alvarez Cáccamo, Galego Cero» (24/Agosto).

 

61.  «Novoneyra em «Cuadernos da Gadaña».- X. Vaz, O muiño de antrasaugas.- A revista mensal Man Común.- O arco da vella, boletim de «O Facho».- Poemários de B. Graña [Se o noso amor e os peixes...] e de X. L. Méndez Ferrín [Poesía entenria de Heriberto Bens]» (7/Setembro).

 

62.  «Se o noso amor e os peixes...- X. Alcalá, A nosa cinza.- L. Prieto, Contos vianeses» (14/Setembro).

 

63.  «Tres livros e um folleto» [X. Neira Vilas Memorias dun neno labrego; L. Moure-Mariño, Arredor da lareiara; X. L. Méndez Ferrín, Poesía enteira de Heriberto Bens; C. P. «Elviña», O noso traballo] (28/Setembro).

 

64.  «Língua. Método para o aprendizado do idioma galego. Cum prólogo do Prof. Carballo Calero» (12/Outubro).

 

65.  «A nosa felicitazóm ao Profesor Santamarina.- Língua (continua da semana precedente).- L. Cochón Touriño/J. M. García Iglesias, Arte e cultura de Galiza» (19/Outubro).

 

66.  «Um folleto. As Bases.- O noso traballo» (26/Outubro).

 

67.  «Sobre as Bases» (2/Novembro).

 

68.  «Língua galega» (23/Novembro).

 

69.  «Agromar 1.o e 2.o.- «Programación de lingua e literatura galegas pra BUP.- Juntanzas Luso-Galaicas em Vila Real.- Bendado núm. 4.» (30/Novembro).

 

70.  «Un ano e un día, de X. M. Martínez Oca.- Temos normas ortográficas (outras)» (7/Dezembro).

 

71.  «Galiza, un pobo, unha língua e outros temas» (21/De­zembro).

 

72.  «Felicidade a todos os leitores.- O «Simposio da SEL.- J. Trilho/C. Villanueva, Vilancicos galegos da Catedral de Santiago» (28/Dezembro).

 

7.3.- Ano 1981:

 

73.  «Algumhas revistas galegas.- O Ensino, La barandilla, Nordés» (4/Janeiro).

 

 

 

9.- VÁRIOS (V)

 

    V- 1986) «De quem isola a quem e de mortos que resuscitam ao dia seguinte» in: Agália núm. 6 (Verão), pp. 237-240.

 

    V- 1988) Edição do livro de João Vicente Biqueira (1886-1924): Obra selecta (poesia e ensaio). Cadernos do Povo. Revista Internacional da Lusofonia. Ponte Vedra - Braga, núm. 43-45.

 

V- 1990 a) «Lá vai, lá vai, o  burro trás de sua mãe». Carta aos reponsáveisi pela revista A Trabe de Ouro. Corunha, 25 de Julho.

 

 

V- 1990 b) Carta ao editor Olegário Sotelo Blanco, 20 de Novembro.

Prof. Dr. António Gil Hernández, da A.A.G-P.

2 de Maio de 2001 (2ª Versão)

   

Há tempo que mais cada vez observo (e cada vez menos quereria observar) o facto de a poesia, aparentemente intimista, de qualquer autor galego rebordar do indivíduo para o social, quer dizer, para o político: é tendência espontânea, mesmo negada, mas evidente ao observador agudo.

*******

Em Herba do tempo (por que não «Erva do tempo»?), poemário de que é autor o Prof. Xosé Abeal, oferece-se-me essa hipótese desde o primeiro poema, «Camiños incontables percorrín»: “camiños”, “mundo”, “realidade”, “cousas” exprimem o chamado do outro, antes de mais humano e vivente (apesar, por vezes, da letra em contrário). Mas é sobretudo “acougo” (“dorme no remol do acougo”) a sublimar o desejo (ou mais bem anelo) de convivência feliz que (a meu ver) inspira, procuradamente sem sucesso em muitas, cada uma das sequências do poemário. “Arestora paxaro son voando / pola nudez das cousas en delicia” compendia à partida a minha impressão: A primazia do presente (“arestora”), a idealização da saudade (“paxaro”, “voando”), a procura da identidade não mista (“nudez das cousas”), o gosto de viver, de conviver (“en delicia”), porquanto dificilmente os humanos somos como pessoas o que não nos fornece o grupo.

Firma-me nesta impressão o segundo poema «Xa veñen as palabras, as palabras». O poeta repete o substantivo “palabras”, plural, como se tentasse ainda mais socializá-lo, e encavalga o segundo, o reiterado, ao adjetivo “acesas”, como lhes (a “palabras”) atribuindo as notas de “luz” e de “fogo”, assemade: Esclarecimento recíproco, social; aquecimento de relações humanas entre os galegos, antes de mais. As outras imagens do poema intensificam essa impressão: “trades”, “[semente]”/”froito”, “enxendrar vidas intactas” /”candor das inocencias”. A última estrofe preludia os anelos ou arelas angustiadas que os sucessivos poemas exprimem numa colusão irresoluta de esperança ou de vida ou de plenitude, por um lado, e, por outro, de morte ou desparecimento ou do nada a ameaçar não tanto a pessoa indivisa quanto a sociedade esfarelada da Galiza (já “Galicia” para muitos galeguistas). O poeta sente-se “voando no impreciso dos recendos”, “xardíns da miña alma”, que neutraliza a meio das precisões “tremendo no frío”, “carne rabuñada”, embora afinal (último verso) tente corrigir, em paradoxo, as expressões citadas mercê da construção sintaticamente anfibológica: “cos dedos das súas [das palavras?; da alma?...] mans de sol tan plenas [mãos plenas...?; palavras plenas...?; alma e carne plenas...?]”.

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Se os dous poemas introdutórios me induzem a comentar destarte, os dous conclusivos confirmam-me na hipótese de partida.

«A corrente levoume por enriba» é poema que se “produz” no passado, nesse passado ideal que nunca deveria ter desaparecido (talvez nunca atingiu a existência que se lhe costuma atribuir).

Contudo, apesar dos desejos em contrário, todo ele, o seu cotexto (ou contexto interior), procura convencer-nos da inexistência (ou da existência esmorescente, tanto tem) das “cousas” apontadas: da “area”, aliás “invisible”, das “pingas”, aliás “de imposible transparencia”, das “pálpebras do vento” (não dos “olhos”, mas do ‘pano’ que os esconde, quando os houver...), do “mariñeiro”, mas “de serodios soños” e ainda “nas estrelas”, etc., etc. Parece como se o poeta aspirasse a verificar a concordantia oppositorum que tivesse de patentear, intencionalmente, a coexistência de monstros e maravilhas, mas o que de facto evidencia é a inconsistência das entidades contraditas. A última estrofe deste poema (“A corrente levoume por enriba / das criaturas...”) confirma-me mais uma vez na impressão suscitada: Passividade, levidade ascética; mas atividade, fruição vitalista; “celeiros” a esconderem “luces daquelas vivas cores”: Para que serve a luz oculta, a luz que não ilumina a casa?

O derradeiro poema («Das árbores contemplo as follas novas») encerra o livro, mas (suspeito), sobretudo, encerra a história pessoal e social do poeta ou, o que vale igual, a história da Galiza encerrada na história pessoal de cada galego, de que o poeta, à partida, se tornou em porta-voz (apesar de tudo e contra todas as aparências que se quiserem).

Deixo de lado os paradoxos manifestos (reincidentes) de “follas novas... tenras... alegres e vizosas” e “murchas e secas podrecendo” definidores, segundo declara o poeta, da sua vida. Fico no que diz ficar: “xa só queda a materia insensible, o impalpable po cego, sen memoria polo vento.” Ainda que “memoria” nos debruça no cerne do povo (galego), no miolo do seu ser, que constitui não tanto a história (de que Castelão, lembro, abominava por ter mantido o povo na escravidão), quanto a tradição, a popular (em que Castelão baseia o futuro da Galiza), apenas reparo nos adjetivos “insensible”, “impalpable”, “cego” e infiro, impressionisticamente, que apontam para a morte, não apenas da pessoa, mas da sociedade em que a pessoa se conforma como tal: ‘insensibilidade’, ‘impalpabilidade’, ‘impossibilidade de ser vista’... porque já não lhe aparece ao poeta: Porque já não existe? Não é tão simples.

Com efeito, sinto nos quatro últimos versos um grito ou berro, articulado mas desesperado, à esperança: “Mais o que amei nalgún lugar un día / quizais ha de vivir nas fondas fragas, / nas augas claras, no frescor das herbas, / nos antigos carballos do meu val.” Digo que é ‘berro’ ‘articulado e desesperado’, porque a sua leitura me dita essa imagem distinta de desconfiança: ‘Não quero que desapareça nem a minha vida nem a vida da minha gente, mas, perante a evolução inescusável das “cousas”, refugio-me sob o sentimento que vem integrando a minha gente e a minha própria, quer dizer, a comunhão de humanos e natureza. Se aqueles desaparecem, esta perviverá’. Fé sensitiva, ou sensorial, ou sensual, lhe diria: Nada justifica que assim aconteça no futuro, mas o poeta cinge ser e tempo pessoais ao ser e tempo das “cousas” que sem dúvida continuarão sendo, apesar de tudo e sob qualquer aparência possível. Não é a eternidade transtemporal; é a pervivência intratemporal, aquela que ultrapassa o tempo e as “cousas”, sempre vivas, sempre dotadas de algum jeito de vida; porque o poeta e a sua gente se acham encarnados sensorialmente nele e nelas: Nascem da morte, que deveras nem sabem se é morte.

*******

Continuo (é outro dia) com umas breves observações sobre as duas partes em que o Professor Abeal (já poeta) divide o poemário.

A primeira está presidida por «Os ollos voan cara ós horizontes» e encerrada por «Á mañanciña vin o teu vigor»; a segunda, respetivamente, por «O tempo aniña lene entre as cousas» e por «Aqueles fondos vales van comigo». Deixo-me levar do autor no entendimento de, como em qualquer período bem elaborado, o início marcar a sequência, enquanto o fim a acaba, de modo que o exprimido ao longo dela fica transido e manifesto pelo dado nesses dous momentos definitórios.

Seja como for, a leitura conduziu-me a estimar ambas as partes do poemário não apenas complementares, mas, por isso mesmo, contrapostas:

Na primeira prevalece a alegria de viver, sustida, nem exuberante nem tímida só. Diria que, por classicizante, a recebemos natural, sem excessos; já o assinalei: sustida.

Na segunda, porém, evidenciam-se os conflitos por que decorre a existência, qualquer existência, a pessoal, a interpessoal, a social, a política. Lembro o acima apontado: por o existir humano se achar sempre ensumido em convivência com os outros, sempre outros apesar de tudo, o poetizar sobre tal existir (embora não o pretender o poeta, mesmo que o procure dissimular —não digo ocultar) sempre aparece co-existente, «socializado», quer dizer politizado (também no sentido clássico do termo). E se o existir socializado, politizado de referência é o da Galiza/Galicia...

Portanto, concluo: alegria de viver, de nadar no tempo como se em lagoa catúlica nos topássemos onde quer, mas sofrer ou, antes, tomar consciência do sofrimento de viver. Eis os dous pólos que, desde as minhas impressões de leitor, transitam (e são transidas) as duas partes do poemário.

Antes de passar a rever os poemas citados, ouso afirmar que o poemário, sendo radicalmente de amor ou, melhor, de amores, se acha redigido com tal delicadeza e recato que o amor fica como lenizado ou acaso disperso ... ou asperso: todos os versos podem ler-se em chave amorosa, mas... são como aroma leve e levitante que é percebido sem se deprecatar a pessoa submersa nessa atmosfera de segredos suaves apenas acenados.

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Examino já o poema que abre a primeira parte, «Os ollos voan cara ós horizontes».

O sentido do verbo que se lhes atribui, “voan”, é verificado na metáfora, “son paxaros”, em paradoxo (lembre-se o assinalado nas primeiras seções destas notas impressivas) com a imediata “dondos vagalumes”, mas recuperado no símil “cal andoriñas”. Portanto, a meu ver, no poema prevalece o hálito enobrecedor, significativamente dado em vocábulos ou expressões definidos pelo sema ‘luz’, complementada nalguns deles por ‘altura’: além de “vagalumes”, de “ollos” e “voan”, recolho “harmonia azul”, “[ascenden no] silencio claro”, “cumes”, “aguias”, “[fondais sacros da] luz”, “estrelas”.

Essa mensagem de esperança arredonda-se no último poema desta primeira parte: «Á mañanciña vin o teu vigor». A atmosfera enobrecedora igualmente predomina não sob a perspetiva da visão (mormente), mas da fruição, embora lenizada (segundo precisei): “vin” (“escuridade” excluída), “ollos”, “fermosura”, sim, mas “vigor”, “desvestir”, “plenitude” “apreixar”, “tremía”, “paixón” (explicado por “tolería”), “extenuarse”. É o mundo pessoal a consumar-se sem se consumir: tras o rapto que inicia o primeiro poema, o poeta frui a alegria estranha (ou alienante?) de viver em companhia. O ‘tu’, como o ‘eu’, ficam fixos, mas sem limites precisos. Já não é o “solpor”, a queda do dia, que apresentava o primeiro poema; é a “mañanciña”, esse momento em que as raiolas tímidas do sol anunciam esperanças e alvores. Mais uma vez, se considero o início e o fim do poema, topo o paradoxo indicial: “mañanciña” (de todos, tua?) e “miña” (“intemperie”, cultificação do popular “ventimperio”, como âmbito que possibilita o “extenuarse”...).

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A segunda parte abre-se por «O tempo aniña lene entre as cousas», aliás, quase ritornello no poema.

Decorre entre “consumir”, “esvair”, “desfazer” (na realidade ‘fazer-se solpor, noite escura sem luar’), face a “ferver (a vida)”, e a seguir “guardar (a vida no silêncio gris da eternidade)”. Mais uma vez advirto a concordantia oppositorum, sem solução de continuidade.

Coroa-se essa percepção (ou acaso a própria concordantia) na rede metaforizante dos versos finais: “silencio [ou morte] gris [sem cores, sem alegria, mergulhamento na tristura] da eternidade [gaveta ou caixão a quardar o tempo, já morto]: / cantiga [a quebrar aquele silêncio da morte] sempre bébeda [rapinada de excessos, contrários, portanto, à mesura no viver esmorescente ou apenas à mesura do morrer...] no vento [nem sei se o poeta pretende aqui ecoar aquela manifestação excelente da divindade?: ‘Deus só se manifesta nas epifanias suaves de vida e movimento’]”.

Em definitivo, é a saudade a que acaba por se impor. Assim o vejo no último poema desta parte, «Aqueles fondos vales van comigo».

De novo o paradoxo: ‘Tu’ é pessoa ou apenas ‘vida’, transpessoal (mais do que abstrata)? Se aquilo, aparece-me como que o poeta situa a pessoa na Natureza toda sem lhe assinalar um tempo ou lugar determinados, apenas “dondísimo horizonte de cores de agarimo”, “mol melodía”. Mas se, à partida, ‘tu’ fica identificado com ‘vida’, então esta acaba reduzida ou expandida no referido “dondísimo horizonte”, que, por sua vez, acaso aninhe quer no “agarimo pola miña ... pel”, quer apenas nesta, decerto “inviolable”. Prefiro, pela letra e pelo sentido, esta segunda hipótese.

Desse ponto de vista entendo que o poeta neste poema (e em toda a parte segunda) procure ensumir o leitor numa esperança agridoce e acaso por isso sem perfis últimos.

A metaforização (ou simbolização?) “vida”/”gaivota peregrina” é grandemente expressiva tanto pela anfibologia do adjetivo “peregrina”, quanto pelas origens que lhe são atribuídas: “mares máis lonxanos”, “fontes [próximas?]”, “estrelas da fermosa noite” [espaços tão longíncuos quanto ilimitados], que fica corroborado pelo “non o sei” com que o autor quebra liricamente a sequência transpessoal do poema. Aliás, “gaivota” orna-se da “frescura dos abeneiros e do orballo na herba”: o vegetal (“abeneiro” e “herba”) e o meteoro atmosférico (“orballo”) caraterizam a nota distintiva de ‘gaivota-vida’ que afinal se torna em “mol melodía”: evolução, que ninguém pretenderá explicar cientificamente, salvo na alquímia, mercê da qual a concreção inicial da “vida”, “gaivota”, sucessivamente se subtiliza em “frescura”, em “horizonte”, em “melodía”.

Está o poeta a tentar sublimar-nos, como Mestre Mateu da palavra, até nos introduzir nas esferas harmoniosas dos vinte e quatro anciãos, das suas melodias que acabam tecendo-se sensuais na melodia única de um Pantocrator-amendoeira em primavera sem tempo florescida?

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Foi tudo. Em definitivo, a lírica vale por transcendência mas sensível, frutivamente sensual. Honra ao poeta e Professor Abeal!

CULTURA E DEMOCRACIA NA «COMUNIDAD AUTÓNOMA DE GALICIA»

 

    Prof. Dr. António Gil Hernández, da A.A.G-P.

 

Comunicação[1] apresentada aos Primeros Encuentros de la Sociología en Galicia

Santiago de Compostela, 6-7 de Dezembro de 1990.

 

0. ESTADO DA QUESTÃO

Nestas linhas apenas pretendo expor umas breves reflexões sobre a condição marginalizada que de antigo a Comunidade Cultural galega vem suportando: tome-se «suportar» nas acepções ativa e passiva já que assisadamente não cabe atribuir a situação atual só à «potência colonizadora», que é o Reino da Espanha, mas também, com não escassa responsabilidade, aos estamentos dirigentes naturais da Galiza.

Dado que o tema merece ser tratado por uma pessoa mais especializada ca mim e de jeito muito mais generoso do que numa comunicação perbreve, permito-me só apontar algumas dimensões da marginalização nacional galega, hoje procurada institucionalmente sob pretexto de verificar um processo dito normalizador de usos linguísticos.

Advirto que desenvolvo as minhas reflexões como singelo observador de comportamentos glo­topolíticos tanto de instituições, quanto de particulares qualificados, que numa situação menos conflituosa se denominariam paladinamente notáveis.

Advirto também que a marginalização nacional galega vem sendo, desde o princípio, conditio sine qua non da centralização nacional espanhola. Por outras palavras: parece que o processo nacionalizador da Espanha implica a desvalorização e mesmo degradação, institucionalmente pro­curadas, de possíveis projetos nacionais não espanhóis, dado que aquele fica definido e estatuído como uninacional, cuja soberania não compartilham diferentes 'pueblos españoles' (art. 1.E § 2 da CE), mas uno, de «indisoluble unidad», «común e indivisible» (art. 2.E da CE).

1. ELABORAÇÃO DA GALEGUIDADE.

Tenho-me referido noutro lugar à consideração de que «as ideologias são sistemas simbólicos 'racionais' enquanto têm uma 'estrutura profunda'[...] que requer 'a unidade de teoria e prática'» (A. Gouldner 1976.1978: 85; veja-se G. Lightheim 1972: 93-99). Nessa hipótese vale também consi­deramos que é ideologia aquela concepção da Nação a que os cidadãos notáveis aderem, cujos traços racionais delimitam com eficácia e cuja implementação estendem ativamente entre o Povo.

O facto de assim acontecer verifica o estado eminentemente cultural e artificioso, já não natural, mas racionalizado quanto ao político sobretudo, a que a Humanidade tem atingido (Cl.Rosset 1973.1974: 209-224).

Convém lembrarmos, ao abrigo das reflexões hobbesianas, de que «ao direito natural ilimitado, o Leviathan sobrepõe o Contrato, o direito político limitado, limitativo. A natureza humana é paixão; o Império é Razão, a Razão é essa limitação política da paixão» (Sousa Dias 1981: 99-100). Esse mesmo facto também evidencia que na presente altura não lhe é possível a qualquer humano, sobretudo ao pretensamente notável de Comunidades Culturais subordinadas, usufruir com dignidade aquele estado cultural e artificioso porque «o imperium [de que os notaveis da Comunidade dominadora, legitimando-a, participam] já não limita a potentia: exprime-a, maximiza a potentia dos dominadores, minimiza a potentia dos dominados» (Sousa Dias 1981: 100).

Desde essa perspectiva política é que estimamos la questione della lingua e, em geral, os processos de normalização cultural segundo se desenvolvem nesta parte do território espanhol.

Aquela, velha já, definição martinetiana que situa a linguagem entre as instituições humanas (Martinet 1960.1970: 13-15) recolhe decerto uma teorização antigamente tradicional, muito mais explicadora do que outras «estritamente» linguisticas. Na realidade, se «esta maneira de ver oferece vantagens indubitáveis porque as instituições humanas surgem da vida em sociedade» (14), deve-se ao facto de a linguagem se conceber «essencialmente como instrumento de comunicação» (ib.) e justamente é a organização comunicacional a que diferencia entre si as comunidades, tam­bém e sobretudo do ponto de vista político.

1.1.

Caraterizam portanto as ideologias quer a racionalidade do discurso, embora limitada pelo «objetivismo» (Gouldner 1976.1978: 74), quer a procura de uma transformação efetiva da sociedade.

Ouso identificar, em linhas gerais, a racionalidade objetivista, a que se refere Gouldner, com as valorizações não subjetivas, não subjetivizadas, tão frequentemente emitidas nos diversos meios de informação, nos massivos, nos institucionais, nos académicos, mercê das quais os sujeitos humanos, notáveis nos âmbitos a que os meios alcançam, tendem a exprimir-se sobre o mundo com voz omnisciente, «como se o próprio mundo se exprimisse e não os homens» (ibidem). Aliás, enquanto a procura de transformação social acompanha sempre aquela racionalidade, também a le­gitima, sobretudo pondo-a em evidência. Com efeito:

1.E Por um lado, a ideologia, em virtude do elemento racional, pode ligar-se com a ciência, particularmente com as denominadas ciências da sociedade, em cujo âmbito estamos a desenvolver estas reflexões: «tanto as ideologias quanto as ciências sociais são intrinsecamente não dogmáticas, a teor das gramáticas ou regras a que afirma se submeter» (Gouldner 1976.1978:87).

De facto, a ciência, enquanto conhecimento racional reflexo ou intencionalmente não limitado, pode contribuir a racionalizar, nem sempre subsidiariamente, a ideologia na medida em que fundamenta a racionalidade própria destas. Não obstante, ambas diferem entre si tanto pela diversa índole da comunidade dos sujeitos que as elaboram, quanto pelo método, pelos objetivos e decerto pelo fundo formal, pelo fundo específico e pelo fundo de conhecimento acumulado (M. Bunge 1985: 28.125-133.136-144).

2.E Por outro lado, a ideologia pode ligar-se à tecnologia, enquanto esta, como à sua maneira toda a ideologia, «se ocupa em desenhar artefactos e planear a sua verificação» (M. Bunge 1985: 35; o itálico é meu) na sociedade a teor de critérios e objetivos eminentemente valorizadores.

Cumpre salientar essa dimensão prática, e pragmática, da ideologia que a aproxima da tecnologia; contudo, não hão de urgir-se as semelhanças. Com efeito, a atividade ideológica procura socialmente muito mais e especificamente bastante menos do que qualquer procedimento tecnológico, já que, por um lado, as ideologias tentam instaurar os humanos como pessoas «enquanto seres socialmente definidos» (A. W. Gouldner 1976.1978:99) e, por outro, esse próprio facto implica a necessária tarefa de os «preparar» adequadamente a integrar-se na sociedade e, mesmo, a contribuírem à transformação congruente do mundo «natural».

Acho preciso apontar uma consequência imediata que mereceria melhor tratamento. O denominado nacionalismo galego ainda nem alcançou a condição de ideologia política porquanto, não redefinindo nem as fontes, nem a proporção de poder atuante no seu território, também não parece tentar a «preparação» do homem galego à nova sociedade. Menos ainda parece procurar a transformação do mundo nacional; quer dizer, ainda não parece ter concebido que para lograr politicamente a Galiza cumpre mudar desde hoje «Galicia».

Continuemos. Um determinado tipo de previsão tecnológica decerto subsidia qualquer atividade ideológica, de maneira que, como fica dito, tanto no campo tecnológico quanto no ideológico o conhecimento se estima meio para conseguir os fins práticos que os caraterizam (M. Bunge 1976: 702). Ainda mais, «o seu uso adequado orienta-se quer a controlar as cousas ou os homens mediante a mudança do curso dos acontecimentos, talvez até o deter totalmente, quer a forçar o curso predito dos factos, embora interfiram nele acontecimentos impredizíveis» (M. Bunge 1976: 704).

Em todo o caso, tanto dos técnicos que manuseiam os objetos das ciências da sociedade, quanto dos ideólogos, pode dizer-se que sempre julgam sobre a base dalgum conhecimento especial, embora este não seja sempre nem explícito nem articulado.

Por consequência, pode sem erro afirmar-se que «é conhecimento que não aprende dos fracassos e que se torna dificilmente contrastável» (M. Bunge 1976: 707).

1.2.

O nacionalismo é toto facto et toto iure ideologia. Será defensiva ou ofensiva e, cada uma dessas vitualidades, por sua vez, estará conformada como primariamente biológica (ou étnica), económica, cultural e política, segundo classificação recolhida em M. Bunge (1985: 150-151)[2].

Cumpre assim reconhecê-lo e mesmo cumpre reconhecer que nesta altura da História é a ideologia nacional a que se torna em fundamento de ulteriores saberes, sobretudo para aqueles cidadãos qualificados que, por isto mesmo, dirigem factual e necessariamente a comunidade nacional e, constituidos em dirigentes, interpretam com autoridade os acontecimentos atinentes à Nação; ainda mais, é mercê dessa autoridade que mesmo os acontecimentos existem enquanto nacionais. E tudo isso, apesar das frequentes retóricas em contrário.

1.E  Entre outros, dependem da ideologia nacional os saberes relativos à língua; a própria da Nação/Estado será definitivamente nacional e portanto primeira e fundamental, enquanto outras, quando incluidas no território da Nação, se estimarão «regionais» (ou simplesmente «dialetos») e como tais funcionarão, mas, quando exteriores a esse território, serão apenas estrangeiras e portanto administrativamente excluídas. De facto nos Centros escolares (dependentes ou não das instituições, por exemplo, da Nação espanhola) as línguas são assim estudadas.

Acrescento que essa organização funcional deriva da situação factual ou singelamente política que o Lebrixano, na sequência de uma já longa tradição, definia no «Prólogo» à sua Gramática (1492):

Quando bien comigo pienso [...], i pongo delante los ojos el antiguedad de todas las cosas: que para recordacion i memoria quedaron escriptas: una cosa hállo i saco por conclusion mui cierta: que siempre la lengua fue compañera del imperio: i de tal manera lo siguió: que junta mente començaron, crecieron, i florecieron, i despues junta fue la caida de entrambos (A. Quilis 1980: 97).

Segundo é manifesto, estou a refletir sobre o nacionalismo cultural atuante por estas partes da Europa. À partida pode ser definido fraca ou fortemente:

") A definição fraca da nacionalidade «outra», a galega, promana do pensamento forte da espanholidade (com que se identifica o pensamento fraco da galeguidade) enquanto «compreende» o facto diferencial galego até ao ponto de que lhe «reconoce y garantiza el derecho a la autonomía [...] y la solidaridad entre todas [as nacionalidades e regiões] (CE art. 2.E).

Eis o antigo pensamento de um galeguista histórico plenamente integrado:

O desenvolvemento da cultura galega tamén vai esa mesma trascendencia comunicativa do noso ser espiritoal. Pódense percibir amplas e sutilísimas zonas da nosa intimidade reflexadas na obra dos poetas, dos escritores, dos artistas, pois gran parte desta obra está feita con sustancia «entrañable» de todos nós. Por algo o pobo se apropia, fai súa a obra dos grandes creadores como algo que lle pertence de maneira natural. Entre os que chegaron a plasmar unha imaxen total de Galicia, agora imos escoller somentes tres: Rosalía, Valle-Inclán e Otero Pedrayo (R. Piñeiro 1954.1974: 68).

$) A definição forte da espanholidade alicerça decerto nas instituições da Nação/Estado e cumpre esperar que estas a publicitem. Em particular, a definição de «cultura española» dá-se por solidamente estabelecida, apesar de racionalmente ser ainda lábil e escorregadiça. Assim se exprimia um dos teóricos do nacionalismo (cultural) espanhol:

El dolor de la España única y eterna, entrañado en todos los espíritus que se elevan a una consideración histórica por cima de tantas convulsiones pasadas, traerá la necesaria reintegración, a pesar de la tremenda borrasca de antagonismos inconciliables que azota al mundo. La normalización de la vida exigirá, mañana mismo, ideas de convivencia por las que cada español, movido de fecunda simpatía hacia su hermano, deje agitarse dentro de sí las dos tendencias, tradición y renovación, las dos fuerzas que siempre han de contender y compenetrarse, impulsando los más beneficiosos aciertos, las dos almas contradictorias que siente dentro de sí todo el que pugna en los altos problemas y aspiraciones de la vida (zwei eelen vohnen, ach! in meiner Brust), las dos almas que decía Unamuno llevar en su pecho, de un tradicionalista y de un liberal en inacabable y siempre fructífera discusión, los dos impulsos que hacían a Menéndez Pelayo exaltar la intolerancia de espada y hoguera, y rectificar después, teniendo por verdaderamente cristiano el 'no matar a nadie'» (R. Menéndez 1951.1971: 230-231).

2.E Aquela condição factual que distingue a atividade dos Notáveis nacionais (ideólogos, cientistas ou tecnólogos) explica que, para o serem com adequação, precisem exprimir (embora as não publicitem) as premissas de valor relativas à definição da nacionalidade e motivadoras das respetivas tarefas, ações e empresas (compare-se com G. Myrdal 1967.1976: 63-70). Se essas premissas de valor não se puderem tornar explícitas, a racionalidade, essencial a toda a elaboração ideológica, não apenas ficará reduzida, mas mesmo será caótica e ineficaz a prática subsequente, na qual, em definitivo, se resolve aquela. Aconteceu grandemente com o nacionalismo espanhol que surgiu eivado de irracionalidade, compadecida de indolência crônica. É também o que, sobre o modelo de aquele, está a acontecer com os denominados «nacionalismos galegos», supostamente diversos. Com efeito, todos eles reincidem em evitar a racionalização dos discursos que sustentam sobre a Galiza relativamente

[1.E] à delimitação do território e da história nacionais e

[2.E] à normalização cultural e linguística; portanto,

[3.E] nem projetam

[4.E] nem logicamente executam «estratégias» e «táticas» pertinentes.

O início do processo nacionalizador da Galiza haveria de consistir em esclarecer, com suficiência, sem ambiguidades, esses pontos fulcrais.

3.E Na realidade, uma ideologia nacional, enquanto é visão do mundo não adscrita a uma determinada classe social, 'coincide com os limites que o conhecimento e o pensamento formados e desenvolvidos no interior da Nação, enquanto conjunto de âmbitos comunicacionais, não podem exceder, sem entrarem em contradição com os interesses nacionais [dos Notáveis da Nação] que lhes serve de quadro e de suporte' (vide A. Sedas Nunes 1971.1987: 66-67; também 69-88).

O máximo de consciência possível que o conjunto dos Notáveis da Nação se pode permitir não apenas consente e promove a mitificação dos factos históricos a legitimar exemplarmente as premissas de valor a respeito da existência da Nação, mas sobretudo impede a todos os nacionais as submeterem a análise e crítica profunda e só transige com a expressão de valorizações negativas muito genéricas que, por sua vez, nunca se transladarão às camadas populares. Decerto,

os limites da consciência possível [...] não se projetam somente sobre o conhecimento es­pontâneo, vulgar, não teórico, ou pré-teórico. Também se manifestam, embora doutro modo, ao nível das teorias científicas e das correntes teóricas, pelo menos nos domínios das Ciências do Homem. (Sedas Nunes 1971. 1987: 67-68; itálico do autor).

Os notáveis espanhois estão a efetivar na Galiza, a respeito da «língua galega», um processo que de facto parodia grotescamente o seriamente verificado com a sua língua nacional:

a) têm quebrado a racionalidade no que atinge ao idioma galego, até hoje pacificamente rece­bida nas Ciências da Linguagem;

b) têm aberto uma controlada prática «social» contraditória com a prevalecente entre os culto­res das línguas de cultura;

c) estão a argalhar assim perigosas e arbitrárias fragmentações «teóricas», que, aplicadas a outras situações que a galega, destruiriam a ordem estabelecida e por eles sustentadas.

Apesar de tudo, esses «ideólogos» (com os seus adictos) permitem-se estender esse «estado de opinião» [doxa] que, no início e de facto entre a gente galega, ulteriormente de iure também pe­rante os seus nacionais, «legitima» soluções de continuidade que hão-de afetar tanto à ideologia [sem aspas], quanto à prática social [também sem aspas] (Veja-se H. Kliemt 1978.1983, passim).

Quando esses limites forem excessivos, também ficarão reduzidas as possibilidades de confrontar os textos, entre eles, e os respetivos contextos, como com certeza também estarão distorcidas in extenso as condutas dos inter-comunicantes.

Nalguma medida, mesmo em situações de normalidade, todos os cidadãos, enquanto agentes de âmbitos comunicacionais diversificados, acham-se incursos naquela situação que Bateson (1969) descreveu modelicamente na sua teoria da dupla ligação (vide A. Wilden 1972.1979: 111-129).

Contudo, como faz o sociólogo valenciano-catalão Lluis Aracil (1983: 108), vale referir essa teoria da dupla ligação às situações em que «convivem» cidadãos pertencentes a duas Comunidades Linguísticas, uma conflituosamente minorizada e outra «pacificamente maiorizada».

Hão-de cumprir em tais situações três condição:

«a) una relació estable, intensa i important, típicament familiar;

b) dues normes contradictòries que obliguen um membre de la relació;

c) una tercera norma que fixa els límits del joc i prohibeix d'eixir-ne de cap manera».

É de facto essa terceira norma, aplicada muito estritamente, mesmo repressoramente, a que põe

       «l'individu[3] en una situació desesperada tot condemnant-lo a viure-la intensamente sense veure-la mai clarament. És un veto categòric que posa fora de la qüestió aquells recursos que poden transcendir la situació i alliberar l'individu» (ibidem).

Assim, a situação descrita torna-se esquizofrenizante não apenas dos cidadãos pertencentes às duas Comunidades (bilingues portanto), mas inclusivamente de aqueles «maiorizados» (procuradamente unilingues) que, não fazendo parte da Comunidade minorizada, por razão de função pública ou política, têm de tratar com os primeiros. Em qualquer dos supostos:

a) os «maiorizados» excluem a ironia e a crítica, secundados pelos minorizados, numa procura doente de alcançar unanimidades cada vez mais inânimes e anónimas. Quer dizer, é proibido negar quaisquer dos pontos da propaganda oficial sobre a «língua própria», assim como submeter a qualquer tipo de análise racional os achados do saber oficialmente estabelecido sobre essa língua e temas afins; é simultaneamente vetado questionar a «certeza» dos princípios e atuações, sociais e políticos, que levam adiante os partidaristas e outros notáveis minorizados.

b) «maiorizados» e minorizados minimizam qualquer processo de aprendizado socializador até nulificarem, obedientes à rotina, a normalização cultural da Comunidade minorizada, adiada sempre ad kalendas graecas, já que a classe dirigente, que por definição pertence à Comunidade «maiorizada», só «permite» sucessivas e definhadas experiências nunca acabadas e frustrantes.

Repasse-se a política de subsídios à cultura autóctone levada adiante por qualquer das «Xuntas» governantes na Comunidade Autonómica galega, desde o início da democracia, e comprove-se quantas delas contribuiriam na realidade à normalização; por outro lado, repasse-se, por exem­plo, o número das publicações periódicas aparecidas na Galiza nestes dez últimos anos e comprove-se quantas delas chegou ao número 3.

c) «Al limit, cal optar [por ambas as bandas] entre la violència cega i desesperada, i l'accepta­ció fatalista de la confusió i la impotència» (Ll. V. Aracil 1983: 109). Não se precisa comentar mais; basta com olhar para os «nacionalismos periféricos» no Estado espanhol, nomeadamente os atuantes na Galiza.

2. MARGINALIZAÇÃO APÓS MARGINALIDADE

A elaboração de uma orthographia, enquanto «língua graficamente formalizada», constitui de facto o objeto de um preciso e peculiar processo (quase) tecnológico.

Talvez convenha nesta altura lembrar que, segundo tem teorizado o Prof. Coseriu, «os modos linguísticos que se comprovam no falar concreto patenteiam [...] o 'saber linguístico' dos falantes [em geral, dos utentes]» (1973:57) que o adquirem continuamente de outros utentes, situados nomeadamente nos meios institucionais e para-institucionais.

Continuava o Professor, «o saber linguístico é um saber fazer, isto é, um saber técnico» (1973: 58; vide passim).

Ora, o processo (quase) tecnológico por que, em última instância, se torna distinto/adequado (ibidem) aquele saber técnico, acha-se em qualquer caso submetido aos limites que as premissas de valor definidoras da ideologia nacional impõem, como igualmente se acha submetida a essas premissas a atividade científica correspondente[4]. Ainda mais, o «produto gráfico» não esgota os objetivos desse processo (quase) tecnológico; imbrica-se nele, embora se não procure sempre de modo explícito, um determinado modelo de usos[5] que com certeza se tentará efetivar.

2.1.

Convém insistir no facto de a orthographia, enquanto instrumento eficiente, verificar a comu­nicação entre os seus usuários para além de os identificar simbolicamente do ponto de vista individual e social. Nas presentes circunstâncias civilizacionais, a orthographia é instrumento sempre eficiente, com independência da pessoal competência dos agentes para o utilizarem, de maneira que é o facto de o utilizarem em processos comunicativos, juridicamente regrados, o que identifica os cidadãos como tais nas sociedades.

Basta com acudir à experiência do que acontece na Galiza espanhola para evidenciar esta observação sem necessidade de recorrer a outro tipo de argumentação. Ainda mais, contra o que se vem proclamando, o Povo não legitima os seus presumíveis Notáveis enquanto utentes de uma de­terminada formalização da língua nacional (?) da Galiza.

Acontece, pelo contrário, que são tais membros qualificados da sociedade, já organizada em Estado/não-Nação-galega, os que estão já a autorizar os textos (e os seus emissores) enquanto que efetivam e explicam o âmbito comunicacional que, uns e outros (os uns pelos outros), denominam Nação espanhola.

Com efeito, as decisões administrativas, atinentes ao uso da língua não nacional da Espanha, chame-se esta galega ou portuguesa da Galiza, cumprem na estrita literalidade essa doutrina, segundo patenteiam, verbi gratia, os pronunciamentos dos magistrados da «Sala de lo Contencioso-Administrativo del Tribunal Superior de Justicia de Galicia» quando implicadamente baseiam o «Fundamento jurídico primero» da sentença 826/1989 numa condição que identifique como na­cional a língua graficamente formalizada:

Apreciando que los escritos de interposición del recurso y demanda ni ortográfica ni morfológicamente adoptan alguna de las modalidades en uso de la lengua gallega [etc.]» (Agália núm. 20 (Inverno de 1989), p. 511; veja-se Agália núms. 19, pp. 387-393, e 20, pp. 505-511).

Cumpre advertir ao caso que os «escritos» a que a «Sala» se refere estão redigidos, como a presente comunicação, em «alguna de las modalidades en uso de la lengua gallega»:

a) a que, como ortografia nacional, é 'modalidade' de uso habitual e oficial tanto em Portugal quanto no Brasil;

b) porém, nestes assuntos uso há de ser entendido na Galiza na acepção de «acción y efecto de usar» ou «hacer servir una cosa para algo» (veja-se no Diccionario de la Real Academia Española as vozes «uso» e «usar») dado que nenhuma das «modalidades [...] de la lengua gallega» foi decla­rada de uso oficial, como evidencia a literalidade da sentença, nem cabe estimar «ejercicio o práctica general» a utilização do idioma galego na Administração e mesmo na sociedade.

Acrescento o facto de a Orthographia ser instrumento em cuja configuação, mais que na de qualquer outro tipo de instrumentos, se incluem as circunstâncias e caraterísticas dos processos, comunicacionais, em que se emprega. Quer dizer, na formalização gráfica, considerada em globo, acha-se ínsita a modelização das condições que conformam os processos comunicacionais a que aquela se diz destinada. Parece coerente presumir que os modelizadores da língua graficamente formalizada, enquanto instrumento linguístico eficaz, mormente nos âmbitos institucionais (e para-institucionai), a concebam atendendo:

a) ao tipo de agentes comunicadores que hão-de o utilizar;

b) à condição dos textos que esses agentes hão de elaborar;

c) à configuração dos âmbitos em os agentes hão de comunicar-se;

d) sobretudo à eficiência que pelo uso desse instrumento esses agentes têm de verificar nuns determinados âmbitos.

É por isso e nesse senso que dizíamos se achar ínsita na formalização do instrumento gráfico a própria modelização dos factores ou elementos intervenientes na comunicação previsível e segundo as coordenadas previsíveis.

2.2.

Se a teorização não isolacionista da Comunidade galega tiver de emarcar-se nalgum dos tipos de ideologia nacional dentre os acima apontados é nomeadamente no cultural, antes que no biológico (ou etnico) e mesmo antes que no no político. Entendemos por cultura o espaço ou matriz simbolico-comunicacional em cujo seio as relações humanas podem ser gratificantes ou, em todo o caso, não conflituosas, desenvolvam-se quer nos âmbitos restritamente institucionais, quer nos outros, nos não institucionais. Estes, em que predomina o relacionamento próprio da oralidade, foram num início os uns, mas nesta altura [des-]estimam-se e [in-]validam-se desde os institucio­nais, em que a comunicação se desenvolve basicamente mediante a escrita. Dito de maneira equivalente:

saber ler e escrever já não é uma especialização, mas condição prévia a todas as especializações numa sociedade em que todo o mundo é especialista. Nesta sociedade a lealdade destina-se, antes de mais nada, ao meio da alfabetização e ao protetor político. (E. Gellner 1983.1988: 181)

Lembremos que compõem o [sub-]sistema cultural «os criadores e difusores de bens culturais, relacionados entre si por fluência de informação» (M. Bunge 1985: 200).

Cumpre considerarmos inclusos neste apartado não apenas os grandes cultores das letras, das artes ou das ciências, mas também, e antes de mais nada, os laboradores quotidianos da língua, falantes e escreventes, em especial os adscritos ao ensino e aos meios massivos de comunicação. Portanto, é desde essa dimensão cultural e no seu interior que devemos entender e analisar as pro­postas não isolacionistas.

As «isolacionistas», porém, entendem-se sobretudo desde a dimensão política, enquanto destinadas a verificar, também no campo da estrita Cultura, o [sub-]sistema político-nacional espa­nhol, aquele em que se acham integrados os cidadãos fruintes dos direitos políticos reconhecidos na vigente Constitución española (1978) e participantes na «cousa pública» que é o “Reino de Es­paña”.

Se avaliamos com rigor o tratamento «científico» a que entidades académicas espanholas, nomeadamente as autonómicas, estão a submeter o galego, não apenas enquanto idioma, mas sobretudo enquanto Comunidade Cultural, e se examinamos com justeza os preceitos legais, jurisprudência e decisões administrativas correspondentes, promanadas das instituições públicas, teremos de concluir que nesta altura os responsáveis de verificar o projeto nacional espanhol sabem já tratar o «feito diferencial», cujos «representantes», de «boa fé», o entregam a câmbio de promes­sas mais do que realidades.

Particular atenção mereceriam as «boas fés» de entusiastas «normalizadores» isolacionistas do idioma galego, num senso restrito: sem lhes desprezar esforços, sacrifícios até, nego-me a imaginar que nunca tenham matinado sobre o processo pertinazmente marginalizador a que se está a submeter a Comunidade Cultural assentada na Galiza espanhola.

Permita-se-me insistir em que o isolacionismo (não apenas linguístico), que assumem as Instituições espanholas, toma a circunscrição político-administrativa como critério primário para definir o facto de as falas não-castelhanas, realizadas nesse território, constituirem uma denominada língua galega que o art. 5.E § 1 do Estatuto de Autonomía para Galicia declara, ambiguamente, «própria da Comunidade Autónoma» e que, por isso mesmo, continuam a supor, há de estimar-se língua diferente da portuguesa.

Por outro lado, conflituosamente admite-se, com as precisões «científicas» pertinentes, que também o idioma galego se fala nos territórios limítrofes, pertencentes às Comunidades Autónomas do «Principado de Asturias» e de «Castilla-León», em todo o caso, integradas no «Reino de España».

Digo «conflituosamente» e «com as precisões 'científicas' pertinentes» porque de facto, quase simultaneamente à declaração estatutária, se reconheceu a existência de um galego astur [e berziano] e a necessidade de o «subnormalizar», lhe[s] outorgando explicitamente a formalização gráfica correlativa da sua condição de «sub-norma» da «lingua galega», que por sua vez está «sub-normalizada» a respeito da Norma do espanhol comum.

3.- PARA CONCLUIR.

Que cada um tire as conclusões que julgar mais adequadas ou corretas. Dixi.

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[1]­ Permito-me propor aos participantes a estes Primeros Encuentros de la Sociología en Galicia as reflexões que seguem, embora já no espírito e parcialmente na letra foram propostas noutras ocasiões, como no III Congreso Nacional de Sociología (1989) e no III Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza (1990). Assim procedendo, poderei corrigir, pelas observações e objeções que se fizerem, aquilo em que sem dúvida estou errado e, sobretudo, emendar, pelas dilucidações que se me oferecerem, a ignorância que com certeza padeço.

[2]­   Tenha-se, porém, presentes as «classificações» que dão A. Smith (1971.1976: 295-317) e E. Gellner (1983. 1988: 117-141); considere-se também as reflexões de R. Lôpez Suevos sobre o tema (1983: 45-50.85-91).

[3]­ Cerca não apenas o indivíduo; são os grupos, todos, de que o indivíduo pode fazer parte os que padecem com plena imediatez as "exigências" da situação minorizada. Na realidade essa terceira norma restritiva sempre e em exclusivo se aplica aos usos da língua "outra", à não nacional e "regionalizada", embora o indivíduo e os grupos se identifiquem naturalmente com ela. Assim tornam-se em cidadãos minorizados, como a língua, enquanto, submetidos a tratamento jurídico discriminatório, padecem legalmente de insuficiência cultural e comunicacional.

A passagem social e política à "libertação" dessa insuficiência, quando acontecer, é facilmente explicável. Con­tudo, é mais frequente a queda na confusão, na impotência ou na cultura do conflito pelo conflito.

[4]­ Noutro trabalho examino o "modelo koinológico" que elaborou o sociólogo, recentemente finado, Heinz Kloss, e que, para as línguas românicas, reveu o Prof.Zarco Muljacic (1983 e 1986). Há uns anos, Ursula Esser ( 1986) referiu-se, ingenua e elementarmente, a esse modelo sem remeter à reelaboração do Prof. Muljacic. Ultima­mente algum membro do "Instituto de la Lengua Gallega" (H. Monteagudo 1990), desconsiderando que esse "modelo koinológico" tem basicamente caráter tipológico-descritivo, tentou aplicá-lo à "normatización do galego" porque nele (fantaseia) as "propostas isolacionistas" acham a consistência científica de que sempre careceram.

[5]­ É falso, por insuficiente, aquele princípio (e fundamento) da mal denominada "ortografia fonemática", quer se formule simplesmente "há de escrever-se como se fala", quer se reformule, com menos precisão ainda, "a lingua normativa [= escrita] [...] ha de ser continuadora da lingua falada pola comunidade e ha de achegarse canto sexa po­sible a ela".

Antes, a escrita de iure et de facto normatiza as falas, quando os usos linguísticos se acham normalizados e muito mais a própria norma (oral), quando é procurado implementar com seriedade um processo normalizador.

Contudo, se, como propõem os "isolacionistas", o modelo comunicativo a normalizar é o correspondente à oralidade, decerto nunca se conseguirá uma normalização equivalente à vigorada nas sociedades modernas constituidas em Estado-Nação porque nem a Orthographia será instrumento eficiente, nem os elementos da comunicação atingiCrão o estatuto e importância que têm nas situações normais.

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Carta ) HOMENAGEM ( a Manuel Maria

Prof. Dr. António Gil Hernández, da A.A.G-P.

Outubro de 2005

 

CARO MANUEL MARIA, QUE ESTÁS NOS CÉUS:

Permites-me que comece assim esta carta HOMENAGEM, que dato quase no cabodano do teu passamento? Espero que sim, que mo aceites, não apenas porque agora bem conheces a sinceridade da minha admiração por ti, mas sobretudo porque sabes que essa admiração era e é amostra de amizade, de carinho. Sim, carinho, mas carinho quase transcendente... Lembro-me dos momentos das despedidas em que tu, retranqueiro até a singeleza, dizias algo assim como: «Contemplamo-nos. Até já». Eu correspondia: «Até à próxima em que nos contemplemos.»

Decerto conversar contigo era como uma contemplação, muito longe (felizmente) da visio divina, porque era, sem metáforas, contemplação humana plenamente satisfatória: Nunca chegava o tempo de terminar, nunca a conversa parecia acabada. Sempre ficava qualquer cousa a dizer e comentar e lembrar e sobretudo narrar.

(Se havia um copinho de bom vinho, melhor... Com a permissão de Saleta, que tu por vezes furtavas, meu! Picarão!)

Manuel, fazias-te querer sem querer: falavas, narravas, contavas e nunca cansavas... Era como se toda a história, grande por minúscula que parecesse, fosse resvalando da tua palavra, constante e intrigante na sua singeleza.

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NÓTULA SOBRE UNS COMENTÁRIOS

AO REINTEGRACIONISMO DE MANUEL MARIA

N.0.- INGRESSO

Em 2001, a editora Laiovento publicou Manuel María: os traballos e os días, de Camilo Gómez Torres (em adiante CGT 2001). Como o autor explica na «Nota introdutoria»,

      Este libro é un dos capítulos da tese de doutoramento Manuel María: poesía, traballo lingüístico e traballo cultural, presentada na Universidade da Coruña o día 19 de maio do ano 2000. [...]

      Para a súa publicación, introducimos algunhas modificacións sobre a redacción inicial, contextualizada no marco conxunto da análise poética e sociolingüística. Tres foron as razóns dos cambios: en primeiro lugar, actualizar os datos biográficos, pechados no corpo da tese en 1995 e ampliados agora co trienio 1996-98; en segundo lugar, incorporar algunhas suxerencias feitas polo tribunal e precisar algúns datos que desde o tempo de culminación do traballo descubrimos; e, por último, descargar e aliviar de cadros e relatorios culturais, certamente descarnados, as etapas finais da traxectoria vital e socioliteraria do noso poeta. (CGT 2001: 7).

Nesta NÓTULA tento glosar os comentários do autor sobre a concepção que Manuel Maria patenteia pelo só facto de publicar os três poemários —Versos do lume e o vaga-lume (1983), A luz ressuscitada (1984) e Oráculos para cavalinhos-do- demo (1986)—em “galego reintegrado”; também examino como é que Gómez Torres interpreta essa opção. A “incursão” do poeta no reintegracionismo “interior” (sic) é tratada mormente ao longo do GGT 2001 ¶ 7. 1981-1985 e no início do ¶ 8.2. 1986-88. Porém, a relação com o português e a cultura portuguesa (“reintegracionismo” exterior: sic) vinha de longe, dos anos 60 e 70; assim a apresenta Camilo:

      Do 8 ao 16 de xaneiro [de 1972] viaxa por Portugal para presentar a escolma 99 poemas de Manuel María [Razão Actual, Col. Poesia, núm. 3, Porto, 1972] [...]. O día 8 dá un recital no Teatro Universitário do Porto, intervindo tamén no acto o cantante galego Xoán Rubia e o baladista portugués Manuel Freire. O 10, os actos son dous: presenta a escolma 99 poemas na Livraria Leitura, do Porto, e dá un recital na Cooperativa Estudiantil “Unitas”, de Coimbra. Achégase ata Lisboa o día 11, para presentar a escolma, dar un recital e asinar libros de versos na Livraria Ulmeiro; e en Lisboa dá unha conferencia sobre “Os 30 derradeiros anos da poesía galega”, na Sociedade de Língua Portuguesa. O 13, volve a Porto e presenta a escolma na Livraria Ler. E para rematar esta maratón cultural, o 14 dá un novo recital na Associação Cultural “Convívio”, de Guimarães. (CGT 2001: 152)

Assinala pouco mais adiante:

      Lembra ás veces Manuel María que lhe causou unha fonda impresión o comportamento dos estudiantes de Coimbra, cando, nos momentos da presentación do recital na Cooperativa Estudiantil “Unitas”, entrou na sala o profesor Rodrigues Lapa; todos se puxeron en pé, aplaudíndoo garimosamente. Aquela tarde-noite Manuel María coñeceu o mítico profesor portugués, co que sempre mantería unha sincera relación de amizade e admiración. (CGT 2001: 153)

E imediatamente continua:

      A aparición en xuño das Odas nun tempo de paz e de ledicia (1972) na editorial Razão Actual, do Porto, ten tamén ampla repercusión na prensa portuguesa, aínda que nesta ocasión Manuel María non viaxa a Portugal. (Ibídem)

N.1.- OS POEMÁRIOS

Passemos a considerar a prática reintegracionista do poeta, a teor dos comentários de Camilo Torres. Diz este autor:

      Rematado O camiño é unha nostalxa [em 1981] comeza a escribir en xuño un novo libro: Os versos do lume e o vaga-lume, tal como conta nunha entrevista de 1983 [da qual toma, em nota a rodapé, o seguinte:]

N.1.1.- Versos do lume e o vaga-lume

      «O libro escribino no mes de maio, e foi saíndo como unha unidade. Eu escribin uns versos de andar e ver que son unha serie de vaixes que fixen ou que soñei. Eu, moitas veces que vou a un lugar, para recorda-lo escrebo un poema. Rematado iste libro, continuei a serie coa primeira parte dos Versos do lume e o vaga-lume. Esto complétase coa segunda parte que trata, ademais das terras, das cousas máis íntimas, coma pode ser a miña casa natal, a brétema, a cunca... e a carón diste andar e ver xurdiron os outros poemas —“Espelhos”, “Regressos”— do libro» (“Manuel María, hoxe en A Coruña”, por Eva Valcárcel, El Ideal Gallego, A Coruña, 13-I-1983)» (citado em CGT 2001: 217-218)

Desta obra cita-se o poema que se inicia pelo verso «Chamei, de jeito pesado e insistente,...» (CGT 2001: 220), como amostra da paixão, do «inconmesurábel amor vencedor do desalento, o cansazo e as traizóns»:

[...] a finais de novembro [de 1982], está xa nas librarías Versos do lume e o vaga-lume, publicado Galiza Editora, de Ourense. Os corenta e oito poemas aparecen distribuídos en catro partes de doce poemas que nos falan dos lugares e cidades que visitou [Santa Isabel de Outeiro de Rei, Sam Andrés de Teixido, Penas de Rodas, Castro de Viladonga, O Xistral, Santiago de Compostela, O Minho, Dólmen de Dombate, Ribeiro de Ávia, Nossa Senhora da Saleta de Astureses e Fisterra]; é dicir, estamos diante dunha continuación de O camiño é unha nostalxa, aínda inédito neste ano; nas outras tres [«Espelhos», em que os poemas carcem de título; «Fogueiras» e «Regressos»] agrupa, ora cantos melancólicos e intimistas, ora cantos ás cousas próximas, amadas e esenciais [A casa, A gaita, A brêtema, O lume, A cunca, A rosa, O metropolitano ou metrô, Os velhos cafés, A chuva, O mar, O loureiro e Os defuntinhos], ora laios­, reflexións e novas nas que pasado e presente se funden [mormente na quarta seção, em que de novo os poemas não são intitulados]; a carón do textemuño das viaxes reais, físicas, as viaxes íntimas, os regresos, a análise ou reencontro interior na procura das sinais de identidade persoal e colectivas que o tempo pasado foi debuxando na súa total rota vital, na súa loita por vencer o non ser, a morte e o silencio de si mesmo e do colectivo nacional ao que pertence.

      Este poemario aparece grafado en galego reintegrado, como aparecerán tamén nos anos vindeiros A luz ressuscitada (1984) e Oráculos para cavalinhos-do-demo (1986). (CGT 2001: 221-222)

Contudo, cumpre salientar o facto de o texto inicial do poemário e da primeira parte, “Peregrinages”, “Ainda tenho a esperança...”, constituir uma curiosa mistura de esperança no povo da Galiza e de fé na própria voz de poeta, «que apenas poderá roçar / a intimidade choída dos galegos, / estranha tribo incompreensível / feita de treva, vento e cantaria», que culmina no último poema numa confissão de amor a Saleta e, de novo, à Galiza (Versos do lume..., p. 62; grafo à portuguesa a escrita de Manuel Maria em Norma AGAL):

Quando já não haja fugida para nenhures

e chegue a hora do derradeiro acougo

e feche os olhos à beleza do mundo

quisera levar comigo,

para ter algo de companhia no meio

de tanto siléncio e tanta noite,

a tenra luz da olhada de Saleta

e o rumor da brisa

que passa agarimando a minha tribo

pois com estes lumes tam amados

seguiria aquecendo o coraçom.

N.1.2.- A luz ressuscitada

Deste poemário Camilo Gómez Torres diz:

      Sae em novembro [de 1984] o seu máis recente libro de versos, co título de A luz ressuscitada, tamén en galego reintegrado e publicado pola AGAL, entidade organizadora do acto de presentación en Santiago o día 14, coa intervención de Ramón López Suevos e António Gil Hernández [acima coloquei o texto da minha apre­sentação, levemente atualizado], ademais do propio Manuel María. Nel reúne cen poemas en verso libre nos que, segundo recollemos dunha entrevista aparecida na revista Os habitantes do lago (A Coruña, nadal 1984), «intentei reviver un pouco a miña adolescéncia, descovrir as miñas saudades de home maduro e cantar as cousas pequenas e máis familiares que temos sempre ao noso arredor». O corpus poético aparece distribuído en catro partes, cuantitativamente homoxéneas, pero heteroxéneas tematicamente; só a segunda, dedicada a cantar os animais, paxaros e non paxaros é homoxénea. (CGT 2001: 236).

De facto está, por sua vez, dividida em duas partes:

A) Peixes, Cervo, Doninha, O boi, Cam, Gato, Galo, Raposo, Toupa, Vaga-lume, Lobo, e

B) Que nome terá...?, Páxaro, Bolboreta, Pombas, Lavandeira, Andorinha, Corvo, Rola, Rouxinol, Gaivota, Laverca.

A enumeração (quase) caótica de bichos ou, mais bem, a cumulação de poemas de animais, acaso pretenda representar, no imaginário de Manuel Maria, a Natureza da Galiza, multiforme e em aparência desordenada.

Continua Camilo:

      As tres restantes desenvolven grande parte dos campos —que non temas— que a súa poe­sía está a tratar nestes anos: viaxes, denuncia e compromiso social, mundo inmaterial, cousas e máquinas, tempo, física e astros, meteoros, mundo vexetal e agrícola, paso do tempo, a mor a Saleta, vida e morte, urbanismo... O amplo abano de campos e temas tratados fan de A luz ressuscitada un dos poemaios máis representativos dos anos oitenta e noventa, aínda que xa os campos tratados están presentes na súa poesía das décadas anteriores. (CGT 2001: 236-237)

Deveras o poemário, iluminado pelo primeiro poema (acima transcrito) “A Saleta”, percorre em zigue-zague, nada arbitrário, os mundos do poeta. Vejamos:

a) Na primeira seção expõe as origens e as lembranças quer da meninice, quer da adolescência (cronológicas ou afetivas, mas fundas). Dentre os vinte e dous (22) poemas que a integram, talvez o primeiro seja o mais representativo. Tem por título “Fé de vida”; sem paradoxo, inicia-se pela referência, dupla, ao seu corpo («Este corpo meu») e acaba pela última definição do poeta como homem galego: «laio, chio case / imperceptível que quiçá, quiçã, / reconheceria alguém na minha tribo / como senha essencial de identidade.» Outros poemas salientáveis são “O vinho”, “De amicitia” e “Rosas”, que encerra esta seção.

b) Na segunda, subdividida noutras duas seções (assinaladas acima), o poeta oferece a (sua) fauna cordial.

c) Na terceira, a madureza e preocupações sociais, que, por isso mesmo, também são políticas, quer dizer, nacionais galegas; para, na quarta, voltar à intimidade do fim e destino humanos.

N.1.3. Oráculos para cavalinhos-do-demo

Camilo Gómez situa a redação do poemário em 1985:

      1985 é, como moitos outros anos e momentos da vida de Manuel María, o espello dun ideal de vida, sacrificado, xeneroso, dorido, paciente, honesto e, tamén, gozoso. De todo hai nun ano creativamente sobranceiro, culturalmente intenso, politicamente doloroso e humanamente cheo de luces e tamén sombras. Son moitos os camiños peo un só e claro camiñar, definido nuns versos que neste ano escribe:

Entre a ruina dos nossos féveis,

senlheiros coraçons permaneceu

o rescaldo da fogueira que

através dos anos nos quentou.

E alguns de nós ainda agardamos

luz e salvaçom para a nossa tribo.

      Os versos pertencem ao poema que abre o tercero copro poético, «Os mitos e as derro­tas», dun novo e recente libro de versos: Oráculos para cavalinhos-do-demo. A publicación dos dez poemas do corpo segundo «Os cavalinhos-do-demo» no n.º 1, agosto, da revista Follas secas, de Ourense, sitúa em xuño a fronteira da súa redacción. (CGT 2001: 237-238)

Na seção «8.2. 1986-88: Galiza, tarefa inacabada» afirma Camilo:

      Os dous libros de versos escritos en 1985 saen en Ourense en 1986: Oráculos para cavalinhos-do-demo, editado por Caixa Ourense [sendo presidente José Posada], e Ritual pra unha tribu capital de concello, publicado por Follas Secas, editorial que xa anticipara na revista homónima, en 1985, poemas de cada un dos dous libros.

      Oráculos para cavalinhos-do-demo é o terceiro título que aparece en galego reintegrado. Nel recolle setenta poemas en verso libre, distribuídos en cinco partes de vinte, dez, dez, dez e vinte composicións. A primeira, a cuarta e a quinta son tematicamente heteroxéneas (a carón de poemas dedicados ao seu andar Grecia e Italia, atopamos outros campos: mundo inmaterial, mitos e deuses, cousas, tempo, amor a Saleta, palabra poética...), mentres que as dúas restantes son homoxéneas (animais na segunda, e compromiso, denuncia e historia e homenaxes na terceira); na segunda parte recolle dez cantos tan breves como fermosos, delicadas composicións nas que a metáfora (ora visual [«pinga de luz» (1), «laio surdido à luz» (3), «pinga de luz na luz, / mínimo latejo incendiando / de nédio amor ao universo» (5), «Intenso relampo» (7)], ora cinética [«pétalo que vás / sobre as ondas: / navegante solitário» (3), «Mágica, irisada transparência / assombrando e agarimando / ao ar que te tem e te sustém» (5)], ora sentimental [«Sabes que a recta nom é rota / que nos poda levar / à tribo da fantasia sem retorno» (4), «Cavalinho-do-demo: / decoras, ilustras e iluminas / os meus olhos cansos e feridos» (7), «Sinto a tua lonjana soidade como / o rescendo dumha palavra amada / ou a nota mágica dum romãntico / delirante violino que escoa / pálidos mistérios saloucantes» (10)], ora auditiva [«rumor de silêncio» (1), «calada semente» (1), «Claro regueiro, alto de músicas, / de apaixonados assobios mágicos» (2)]) inunda o verso ata converterse na súa canle e no seu caudal discursivo; dedica estes dez cantos aos cabaliños do demo, símbolos da pureza, a delicadez e os soños máis fermosos. (CGT 2001: 251)

Contudo, o poemário é muito mais consistente do que numa primeira vista de olhos pareceria:

A) Em «Espelhos e contra-sonhos» o poeta progride (mais uma vez) desde as suas “Raízes” («... alguém / que luita para vencer tempo e espaço») até “Aos deuses do futuro” («Que conciéncia / terám os deuses de si mesmos!»), através de “Agressom”, “Imagem”, “As cousas”, “As pala­vras”, “Os sonhos”, “As horas”... até ao miolo da existência, dado em “Destino”, “Mito”, “An­seio”, “Ítaca”, “Arcádia”, “Epidaurus” ou “Delfos”, em percorrido fero face ao mundo clássico: “Oráculo” e “Revelaçom”.

Contudo, dous poemas parecem quebrar essa sequência: “Biografia dumha folha” (colocado entre “Anseio” e “Ítaca”) e “Mensage” (entre “Delfos” e “Oráculo”).

O primeiro apresenta-se-nos como símbolo, mais do que metáfora, do percurso vital e literário do poeta. Comprove-se:

Agromou a folha. Nasceu

para olhar com assombro

o universo e para

clarificar à Primavera.

Escutou a música

enfebrecida e delicada

dos pássaros. Tremeu

de desejo e de paixão

c’os agarimos mainos

e subtis da brisa

rescendente e invisível.

Contemplou enviso

a mágica floração

de tudo quanto existe.

Deu-se ao Estio.

Ao chegar o Outono

desprendeu-se da árvore

que a atava e, sem mais,

botou-se mundo adiante.

Conhecida é a ideia bifronte e mesmo paradoxal que Manuel Maria alimentava sobre a morte, facilmente rastejável nestes três poemários.

“Mensage” oferece a definição, a juízo do poeta, da fala ou voz ou, em definitivo, mensagem dos deuses... gregos?, celtas?, judeu-cristãos? Não se perca de vista o cotexto em que o poema se acha entre “Delfos” («onde intui que a nossa fiel / e verdadeira imagem só pode ser / reflectida na pureza da água») e “Oráculo” («Comprovado está que ninguém pode / resistir a chamada dos deuses»). É essa mensagem, manifesta «em alguns sol-pores delicados, / no misterioso murmurar das folhas / dos carvalhos, azevinhos e loureiros / e mesmo na música nua e inefável / de fontes, rios e regatos», a que nos obriga a «seguirmos fielmente / o seu desígnio, em ocasiões, claro e evidente». Manuel Maria, cônscio da sua condição de vate ou profeta do Povo galego, ecoa, secular (e quase pagão), a missão do profeta Elias ( I Rs 19, 11-13), quando experimenta que a revelação divina se faz não desde o vento impetuoso, não desde o tremor da terra, não desde o fogo, mas desde o murmúrio da brisa.

B) Ficou acima comentada a seção «Os cavalinhos-do-demo».

C) «Os mitos e as derrotas» inicia-se por um poema sem título: “Aqui ergueu-se um fogar...”. Dele saliento os dous últimos versos: «E alguns de nós ainda aguardamos / luz e salvação para a nossa tribo.» É desde essa perspetiva que vale ler os seguintes oito poemas, intitulados “Breogán”, “O Medúlio”, “Prisciliano”, “Sam Martinho Dumiense”, “O rei Garcia”, “Roi Xordo”, “Pedro Pardo de Cela”, “Miguel Solis”. O derradeiro da seção, também sem título, “Todo o que nom é futuro...” esclarece o sentido dos poemas precedentes e, a meu ver, de todo o poemário e mesmo da produção poética de Manuel Maria, mais fundamente crítica do que se lhe costuma atribuir:

Tudo o que não é futuro tem de ser

lembrança. Recordos melancólicos

que, em ocasiõs, rematam

em essencial tristura irremediável

que nos leva a escuros

caminhos sem volta nem saída.

Esta é a hora estéril do valeiro,

do nojo e do arrepio, na que um

se pergunta inseguro e angustiado:

terá algo que ver a voz gali-za

com gali-nha? A palavra gal-ego

será ou não será sinónimo

de gal-o ou gál-ico que soa

a poderosa doença e a estrangeiro?

Um leva tanta treva nos seus olhos

que já está incapacitado para chorar.

Como enuncia o título da seção, mitos e derrotas acham-se ligados na história da Galiza por os homens galegos serem cobardes ou por simplesmente procurarem uma estrangeirice doentia. Mereceria a pena analisar o discernimento e mesmo a clarividência dos mitos de que Manuel Maria dá mostra. Deixo-o para outro momento.

D) «Os ódios e as feridas» é seção que inicia —e preside—o poema intitulado “Gris” («Sempre, sempre o mesmo cris / co seu case nom olhar desesperante.») e acaba o intitulado “Pompeia” («Triste Pompeia, muda e morta...») através de “Impureza” e “Ideais”, “Verdade” e”Mentira” e “Carta”, “Florença”, “Assis” e “Roma”. A mensagem do poemário, em regresso esmorecente, esgota-se no gris progressivamente dominante, que o poeta resume em “Ideais”, após o recurso ao tópico «medievalizante» (!) do Ubi sunt?:

Onde os ideais e os muito altos

e ceives sonhos generosos

que eram falcões voando sobre

o nosso viver sobressaltado?

Caíram as folhas do Outono

e vassoiradas foram

c’os refugalhos e os lixos.

Não nos imutamos nem sofremos.

Nós seguimos tam tranquilos,

tristes, medíocres e infelizes.

Sem dúvida cabe a leitura referida ao próprio Manuel Maria, então preocupado com a experiência da velhice que ele sentia próxima (e ameaçante?), mas, se ligarmos a referência às «folhas do Outono» com o poema “Biografia dumha folha” (acima transcrito), prevalecerá —acho— a interpretação social e política, tocante à situação da gente galega e, mormente, dos notáveis da galeguidade.

E) A última seção «Os ocos e os baleiros», bem expressivamente desde o título, culmina (ou abisma) o roteiro sócio-lírico do poemário. A deserção da gente galega fica suprida pela “Entrega” da Terra (a «voz de cada ser», o «sorriso do orvalho», «a sinfonia do dia», «a palavra sacramental dos rios», ...) até o poeta «afirmar c’oa boca cheia: / paisagens, cousas e animais / falam galego. / Só em galego / se pode compreender e possuir / a total plenitude desta terra.»

Esta concepção patenteia-se noutros poemas, sobretudo em “Ressurreiçom” (confira-se com os temas tratados em A luz ressuscitada):

—Não. Não, Tampouco é isso.

Nunca jamais

nos sentiremos vencidos,

derrotados.

                                         Ainda

que falhe a tribo inteira,

que renegue em massa,

que se ódie a si mesma

e se aniquile.

Nós sabemos que, apesar dos

cataclismos e do não ser,

algo transcendente

sempre permanecerá fiel

e auténtico: a TERRA

nua, pura, incorruptível

que faz podrecer

gentes e misérias

e ressucita-os a uma vida

mais funda e verdadeira.

Através dos poemas intitulados “Entrega”, “Outenecendo”, “Plenitude”, “Transverberaçom”, “Caminho”... “Confissom”, “Ressureiçom”, “Pressentimento” e “Morte” Manuel Maria manifesta estados de ânimo em mutação continuada, de esperança no futuro e de experiência trocista da sua tribo «de fume, sombra, medo, / rancor, ódio e inveja», a alimentar «a mediocridade, a deserção, / a domesticação, o entreguismo, / a tristura e o nojo de viver», de modo que «[é] difícil o poder suportar / tanta miséria e mesquinharia», salvo que se tome com humor: «Só um velho, delicado pudor / é quem nos priva / de escacharmos a rir a boca cheia.»

Qual o dominante e definitivo? Haverá quem entenda que o poema “Morte”, a encerrar essa seção e o poemário, é o resumo desesperado da mensagem político-sócio-lírica que Manuel Maria nos deixa. Mas a leitura atenta deste texto deve permitir-nos perceber (não sem paradoxo) a outra face, esperançada e mesmo confiante no destino feliz da Galiza, da Terra e da gente galega:

Suspeito que morrer é

desterrar soidades,

borrar lembranças,

prescindir da paixão,

afogar melancolias,

alonjar para sempre

fantasias, ensonhos,

medos, latejos,

fechar pesadamente

os olhos e ficar

imóvel, frio,

branco e translúcido:

perfeito como a neve.

Fiquemos nas duas palavras plenas do verso final, «perfeito» e «neve», isto é, «que não tem defeito, falha ou erro; completo; total; acabado; que tem todas as características adequadas a determinada finalidade ou função; modelar; exemplar; belo; magistral» (perfeito) e, conotativamente, «branco, puro, desapaixonado, sossegado...» (neve): Será destarte a Galiza ressuscitada?

Pressinto que este poema e, inclusivamente, os três poemários dados a lume em “galego reintegrado” ecoam o conflito entre a História e a Tradição, que de longe determina a própria existência da Galiza, segundo prognostica Castelão no Sempre em Galiza (Livro IV, I), explicação também dos alicerces líricos do poeta Manuel Maria:

[...] Diz Oliveira Martins que na História não há mais do que mortos, e que a crítica histórica não é um debate, mas uma sentença. Mas eu digo e asseguro que os mortos da História são imortais, porque resuscitam e mandam sobre os vivos, como digo e asseguro que a melhor sentença é a que se dá depois dum debate. Por isso ponho a debate a nossa História —não a nossa Tradição—, porque, se bem seja certo que se pode compor uma grande história da Galiza com só recolher as crónicas dos seus grandes homens, também é certo que nenhum deles, nem todos eles juntos, foram capazes de erguerem a intransferível autonomia moral da Galiza à categoria de facto indiscutível e garantido. Por sorte, a Galiza conta para a sua eternidade com algo mais do que uma História, como asinha que foi permitido ver...

      Enquanto a Santa Companha dos imortais se perdeu na espessura duma floresta, vi surgir da terra da nossa Terra, saturada de cinzas humanas, uma infinita multidão de luzinhas e vaga-lumes, que são os seres inominados que ninguém lembra já, e que todos juntos formam os substratum insubornável da pátria galega. Essas ânimas sem nome são as que criaram o idioma, a cultura, as artes, os usos e costumes e, enfim, o facto diferencial da Galiza. Elas são as que, em longas centúrias de trabalho, humanizaram o nosso território pátrio, infundindo-lhes a todas as cousas que na paisagem se amostram o seu próprio espírito, com que pode dialogar o nosso coração antigo e panteísta. Elas são as que guardam e custodiam no seio da terra-mãe os legados múltiplos da nossa Tradição, os germes incorruptíveis da nossa futura História, as fontes enxebres e puríssimas do nosso génio racial. Essa multidão de luzinhas representa o povo, que nunca nos atraiçoou; a energia coletiva, que nunca perece; a esperança celta, que nunca se cansa. Essa infinita multidão de luzinhas e vaga-lumes representa o que nós fomos, o que nós somos e o que nós seremos sempre, sempre.

Apenas chamo a atenção para os substantivos «luzinha» [luz, lume...] e «vaga-lume», que Castelão faz representativos do povo e Manuel Maria reitera nestes poemários, mesmo no título.

N.2. SOBRE O REINTEGRACIONISMO (OU A LUSOFONIA)

É tema em que insiste Camilo Gómez Torres. Vejamos alguns dos seus comentários, que redistribuo para a seguir oferecer uma diferente explicação de partida:

[...] Con esta decisión [de publicar os três livros de poemas em “galego reintegrado”], tenta Manuel María mostrar

[0] que o conflito que se está a vivir entre dúas normativas, a imposta pola Xunta de Galiza, de tendencia españolizante, e a reintegracionista, de tendencia lusista, é artificial e, por mor da situación sociolingüística do galego, negativa para os intereses de Galiza.

[1] Sem polemizar, tenta mostrar, a través da súa propia obra, que o problema do idioma galego non está no uso dunha ou doutra normativa, senón no seu uso social como vehículo de comunicación en todos os ámbitos da vida galega;

[2] e que o debate aberto entre os defensores dunha e doutra normativa non axuda nada á súa restauración e recuperación social, nuns anos nos que o uso do galego está a ser reprimido institucionalmente no ensino e noutros sectores da vida galega. (CGT 2001: 222)

[0] Processo normalizador

Para progredir numa análise, correta e adequada, da situação idiomática na Galiza e das suas consequências nos usos de galego, mormente nos literários, cumpre não desligar os processos habitualmente denominados “normalización” e “normativización”, porquanto o processo normalizador, naturalizador do idioma entre os seus utentes, engloba a formalização e a padronização da norma gráfica da língua (reduzidas abusivamente a simples “normativización”), correlativas, por sua vez, da institucionalização e da socialização dos usos linguísticos, quer orais, quer sobretudo escritos. Veja-se infra, Temas de Política Linguística. Avanço, «Dimensões no processo normalizador ou naturalizador da Comunidade lusófona da Galiza».

Assim sendo, o conflito «entre as dúas normativas» deve entender-se e analisar-se como um aspeto essencial do conflito entre processos “normalizadores” antagónicos, um “espanholizante” e outro lusizante ou, antes, simplesmente galeguizante.

[1] Responsabilidade e dúvidas dos Notáveis galegos

Daí que não me parece que Camilo Gómez Torres acerte com esta interpretação da prática reintegracionista de Manuel Maria:

      Non se posiciona a favor de uns ou doutros, porque considera que tal polémica é artificial e contraproducente, xa que deriva cara a un debate estéril un traballo e uns esforzos que son moi necesarios no campo da problemática social do idioma: a súa normalización. (CGT 2001: 223)

Esta é sem dúvida, desde tempos recuados, a doutrina dominante em bastantes âmbitos do nacionalismo (político) galego. Contudo, cumpre afirmar que «o problema do idioma galego» sim «está no uso dunha ou doutra normativa» que acarreta divergentes usos sociais. A opção pela «tendencia españolizante» contribui, logicamente, à espanholização não só da língua, mas da sociedade galega, quer dizez, facilita a substituição da «lengua propia de Galicia» pela «oficial del Estado», segundo evidenciam os resultados do Mapa Sociolingüístico de Galicia, a que me tenho referido.

Acho que Manuel Maria era consciente desse facto e processo, como pode depreender-se da entrevista, acima citada, que Eva Valcárcel lhe fez:

      Agora penso tamén que cando hai outros problemas máis acuciantes no país non se debe facer unha polémica desto. Eu levo moitos anos escrebendo e teño un hábito que me determina; nembargantes, coido incluso que para preservá-lo idioma témonos que aproximar máis ao portugués que ao español. (Citado em CGT 2001: 223-224)

O poeta confessa o seu caso que era, na altura, o da maioria dos escritores em “galego”: Não foram alfabetizados em português galego durante os anos da sua escolarização, enquanto, nesse periodo, receberam competência mais do que satisfatória na língua nacional do RdE. Apesar de tudo, procuraram, como lhes era possível, cultivar a sua língua; por essa cultivação adquiriram o hábito de escreber no galego demótico, recuperado no séc. XIX, que os determina... Essa situação pessoal não impede a bastantes deles reconhecerem que o “galego” só será galego se o aproximassem do português padrão e não do castelhano.

No «Prefácio» do meu Silêncio ergueito tento dar uma explicação generalizada destas atitudes e usos. Neste lugar apenas assinalo que o conflito social, melhor ou pior descrito e analisado por uns e por outros, se corresponde com o conflito pessoal; ainda mais, é o conflito social interiorizado nos cidadãos galegos e sobretudo nos seus notáveis, mormente nos escritores, o que Manuel Maria está a evidenciar nos seus textos, tanto nos citados por Camilo Gómez Torres, quanto nos poemas cá transcritos.

[2] Aproximação ao português?

Continuo a citação, que explica a precedente:

      Á altura dos oitenta, Manuel María mantén os criterios xa expresados dúas décadas atrás: é necesaria a aproximación ao mundo cultural luso-brasileiro, mesmo adaptando as grafías, mas sempre desde a óptica dunha personalidade diferenciadas das dúas línguas:

      Débe-se facer unha aproximación [ao portugués], claro, mais no se debe forzar. Eu coido que hoxe aínda estamos nunha fase de recuperación do idioma e hai que conseguir que a xente asuma a lingua, normalizar o galego. Logo poderemos pensar en normativizar. Galego e portugués son dous idiomas moi próximos, con fundamentos comúns, e hai que voltar ás orixes. [Entrevista a “Manuel María” por Xoel Gómez, in La Voz de Galicia, 9 de Julho de 1981]

      Manuel María antepón a restauración e normalización do uso a calquera decisión sobre a cuestión normativa. A historia dinos que os idiomas normativízanse sen traumas e sen conflitos se, previamente, están normalizados e o seu uso é universal, sen áreas restrinxidas ou sereservadas a outras linguas. Así acontece co español, co portugués e con todas as linguas que teñen uso universal e non valetado por imposicións imperialistas coas que se defenden e impoñen os privilexios dunha lingua allea.

      Niste intre hai duas tendencias moi claras: a involucionista e a reintegracionista: estos dous grupos, tanto unhos como os outros, están nunhas posicións moi pechas, cada un defende o seu sistema. Eu penso que as dúas alternativas están ahí, son dúas realidades que deberían convivir aínda que creasen un pouco de confusión; e logo o tempo xa iría aclarando todo esto. [“O galego, estado da cuestión” entrevista a Manuel María por Marcial González Vigo, in La Región, 19 de Agosto de 1983] (CGT 2001: 222-223)

Comentarista e poeta estão a reproduzir a doutrina sobre a língua própria, dominante entre os nacionalistas galegos. Contudo, Manuel Maria propõe práticas, talvez ideais, mas negadas pelas atuações ulteriores da principal organização nacionalista, em que ele militava.

Seja como for, acontece que, nem a doutrina do nacionalismo («primeiro, normalizar; depois, normativizar») nem a correção proposta por Manuel Maria («dúas realidades —a involucionista e a reintegracionista— que deberían convivir») foram efetivadas, porquanto a história, a que Camilo remete, nada tem a ver com a «história clínica do galego», que dizia o Prof. Carvalho Calero. Antes, foi «por imposicións imperialistas» (para defender e impor «os privilexios [da] lingua allea»?) que a Real Academia Galega e o Instituto da Lingua Galega «normativizaram», em 1982, o “galego” não apenas antes de qualquer «restauración e normalización do uso», mas talvez para ocultar que nunca será nem restaurado nem normalizado. Diria mais: foi justamente «o debate aberto entre os defensores dunha e doutra normativa» o que ajudou e mesmo precipitou o acordo ou NOMIGa 2003, aliás, apresentado como respeitoso com a história do “galego” e procuradamente “lusizante” (enquanto foi possível...).

De facto hoje já se dá por conseguido o acordo (evidenciado nas NOMIGa 2003) ou «pax linguistica» entre o nacionalismo político, que vinha declarando-se reintegracionista, e os partidários da “normativa” «imposta pola Xunta de Galiza, de tendencia españolizante» (institucionalizada sob aparência legal desde o 20 de Abril de 1983, embora desde o início da «transición a la democracia» o fosse de facto, nos âmbitos da “Administración española”, principalmente nos do ensino).

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Acabo com estas palavras de Manuel Maria, que também cita Camilo (CGT 2001: 237), altamente esclarecedoras:

Penso que iste é o camiño [publicar os textos redigidos em português galego]. Eu estou máis identificado coa cultura portuguesa que coa española. Galego e portugués son a mesma língua, con algunha variante. Por outra parte, os escritores galegos aínda que nos traduzan ó español non seremos lidos, mentres, deste xeito, temos unha grande cantidade de leitores potenciais.

(Quer dizer: «Penso que este é o caminho [publicar os textos redigidos em português galego]. Eu estou mais identificado com a cultura portuguesa que com a espanhola. Galego e português são a mesma língua, com alguma variante. Por outra parte, os escritores galegos, ainda que nos traduzam ao espanhol, não seremos lidos, mentres, deste jeito, temos uma grande quantidade de leitores potenciais.»)

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(Comentários sobre um texto do Prof. José Enrique Gargallo Gil)  

 

 

 

    Prof. Dr. António Gil Hernández, da A.A.G-P.

 

22 de Março de 2002

 

 

 

LUSOFONIA: PRINCÍPIO E FIM

 

Como resposta a LusogRafia.org pensei enviar, reescritas, umas velhas reflexões minhas a que pus o cabeçalho «As minhas razões para acreditar na Lusofonia». Ecoam o livro que Rodrigues Lapa intitulou, castelanianamente, As minhas razões. Memórias de um idealista que quis endireitar o mundo... (Coimbra Editora, 1983).

 

No meu texto, que foi publicado em Cadernos do Povo. Revista Internacional da Lusofonia (núm. 5-14, 1988-89, pp. 17-19), começava expor a minha concepção de Lusofonia para delinear as tarefas que hão-de cumprir-se e as condições para a verificar.

 

Desse texto apenas cito aqui alguns trechos, os que julgo estritamente precisos, e que acomodo:

 

1. Entendo por Lusofonia a comunidade integrada por aqueles que podem exprimir-se na língua portuguesa e assim o fazem habitualmente. Porém, a Lusofonia pressupõe determinada concepção da unidade que anima os lusófonos e sobretudo implica o discurso legitimador dessa concepção unitária, que alguns diriam "sentimento". É com a afirmação da unidade que se constrói a unidade; é com a procura de motivações unificantes e não precisamente uniformadoras que o processo de unidade acabará tomando corpo de firmeza. Portanto, condições decisivas para verificarmos a Lusofonia são: quer a vontade, também política, de a realizar, quer a assumpção generalizada do discurso da unidade. Caberia resumir ambas as vessantes numa expressão como «queremos ser lusófonos porque já os somos, apesar das diferenças e por elas mesmas».

 

2. Dentre as Tarefas possíveis assinalo as de reconhecimento, as de ideação e as de organização.

 

Relativamente às primeiras, entendo que o património da Lusofonia reside naqueles grupos que, independentemente da sua adscrição "nacional", quer dizer, estatal, aprofundam e promovem os valores tradicionalmente transmitidos na língua portuguesa, que, aliás, denomino sentimentalidade intencionalmente eficaz, universalidade sempre particularizada e persistência esperançadamente disponível. «Lirismo», «saudade», «descobertas», «retranca»... satisfazem esses valores.

 

Relativamente às tarefas de ideação considero que, perante as tentações de eficácia imediata, de particularização individualista, de disponibilidade veleidosa, a cultura lusófona pode e deve incidir nos valores tradicionais e "inoculá-los", como vacina confortante por doses apropriadas, nas novas gerações, não apenas da Lusofonia, mas também nas integrantes doutras comunidades linguísticas.

 

Relativamente às tarefas de organização, preciso que os cidadãos da Galiza hão-de compreender que, nas circunstâncias atuais, a condição de administrados espanhóis não contradiz, no seio da União Europeia, a sua radical nacionalidade cultural lusófona. A comunicação consciente e medidamente procurara pelos cidadãos dos Sete (mais um) e com eles, o conhecimento ou reconhecimento da história e a ideação de tradições renovadas libertarão da ignorância e da inconsciência, hoje generalizadas, os cidadãos da Galiza como corresponde e estes tempos de rotura de fronteiras.

 

3. Reduzo a duas as condições que possibilitarão o cumprimento dessas tarefas. Uma é a atividade cívica, não precisamente institucional. Hoje as instituições e autoridades, enquanto tais, acham-se indecisas quando não confusas e até desacertadas. É a consciência cívica dos cidadãos, de todos e dos melhores, a construir e organizar plenamente a Lusofonia. Outra condição consiste na definição do instrumento identificador da Comunidade Lusófona, que tem de ser unificador, a manifestar-se numa Ortografia precisamente unificada.

Datava esse escrito em Acrunha, em Dezembro de 1988.

 

CAMINHO ESGRÉVIO, DIVERGENTE SÓ EM APARÊNCIA

Não vou continuar pelos campos da Lusofonia extensa e útil. Porém, examinarei os "eidos" duma paradoxal "galegofonia", cujos cultores, por palavras do Prof. Gargallo Gil que abaixo cito, «no creen viable un reintegracionismo del gallego al portugués», mas buscam praticar um curioso "reintegracionismo a la inversa", a teor do qual umas falas fronteiriças de Cáceres são variedade da língua galega  só, e não da portuguesa. Caberia qualificar de "nacional español" esse "reintegracionismo galegofónico", porquanto sustém que apenas falas "galegas" inclusas no "Reino de España" podem realizar uma mesma  e só língua "española". As outras falas, sem dúvida igualmente "galegas", por se acharem além fronteiras, verificam consequentemente uma língua "estrangeira". Contudo, há um facto que mesmo abala esse suposto "nacional": É o facto de esses mesmos cultores da "galegofonia  española" fornecer a cada grupo de falas, que eles dizem "homogéneas" normas gráficas diferentes. Não é certo que a diversidade [ortográfica] evidencia a diversidade de línguas ou idiomas?

 

ACTAS CURIOSAS DUM CONGRESO SOBRE «A FALA»

Não preciso insistir em que hoje (2002) continuo a opinar como ontem (1988), e ainda mais esclarecidamente, sobre a Lusofonia e sobre as "galegofonias" artificiosas por hoje o caldo de cultura de concepções estranhas ser muito mais espesso.

Com efeito, o movimento denominado "reintegracionista", que outrora parecia procurar a convergência das falas galegas com as portuguesas mercê da adopção da escrita padrão e histórica conservada no português, hoje nos factos está a opor-se progressivamente à Lusofonia, enquanto parece confluir, pelo menos na prática, mais cada vez com os pressupostos em que alicerçam os "reintegracionismos inversos" acima assinalados.

Seja como for, acho que bastantes dessas concepções estranhas se contêm nas Actas del I Congreso sobre A Fala (21 y 21 de mayo de 1999. Eljas, San Martín de Trevejo, Valverde del Fresno), Estudios y documentos sobre A Fala, Tomo VI, Coordinadores: Antonio Salvador Plans, Juan Carrasco González, María Dolores García Oliva, Editora Regional de Extremadura, Mérida, 2000.

Enviou-mas José Enrique Gargallo Gil, professor na Univerdade Autónoma de Barcelona, estudioso de falas «fronteiriças». Agradeço-lhas e, como prova do meu agradecimiento (mas não só), vou comentar tanto algumas dessas concepções estranhas, quanto o caldo de cultura que as abriga, referindo umas e outro à situação da Lusofonia galaica atual.

 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

A impressão imediata, e global, que me produziu a leitura da «Lección inaugural», de Alonso Zamora Vicente, assim como a das sete «ponencias», pode resumir-se nos seguintes pontos:

1. Sobre qualquer outra prevalece o facto de todos os intervenientes no Congresso respeitarem (e acatarem) a ordem, constitucional, estabelecida no "Reino de España". Num Congresso como este não sería, à partida, aceitável uma declaração "institucional" crítica com essa ordem e, menos ainda, oposta a ela. Contudo, dos professores universitários participantes, tomados conjunta ou individualmente, caberia esperar alguma análise, mais ou menos pormenorizada, de todos os factores em presença (ou em ativo), dentre os quais não é menor a [ordem] política e administrativa, principalmente a atual, mas também os sucessivos desde a "origem" em que uns e outros "põem" essas falas "galegas" ou "galaico-portuguesas", que são os que marcaram as fronteiras e, factualmente (pelo menos), suscitaram o nascimento (ou a amortização) destas "falas fronteiriças".

 

2. Sobretudo, as «ponencias» quarta, quinta e sexta evidenciam respeito quase reverencial dessa ordem, justamente porque para (quase) nada referem a situação da "fala" à estabelecida no "Reino de España": Idêntico proceder no estudo (e valorização) das "falas galegas" na «Galicia española».

3. É curioso que, sem quase matizações, a atual ordem administrativa se transponha à distribuição idiomática atual e inclusivamente à precedentes. Sós a sua «ponencia», do amigo e Prof. Gargallo Gil, dum ponto de vista amplamente filológico (de agradecer), e a da Prof.0 García Oliva, do ponto de vista histórico, procuram situar nos parámetros esperáveis o "problema", que na realidade se espalha em problemas de abundantes incógnitas ao longo do tempo, mas que no presente se está reduzindo a quase curiosidade folclórica.

4. Diverte o facto de os partidários da galeguidade da "fala" não colocarem com alguma precisão documental nem no tempo da longa duração, nem menos ainda nalguma mais curta, as falas e/ou línguas em presença ou em litígio ("galego", português, "leonês", castelhano?; medievais, ulteriores, presentes?), simplesmente parecem fiar-se de apreciações não excessivamente fundadas e sobretudo exprimidas sem precisão, dado que "galego" é utilizado não como termo, mas como referência, mais ou menos vaga, a realizações arcaizantes da língua portuguesa que não é raro materializar nas "falas" galegas atuais, também por parte de estudiosos do galeguismo.

Também não dilucidam a denominação atribuível a cada uma das línguas citadas (por ex., "español", meridional septentrional), sempre a respeito da "fala".  

SÓ QUESTÃO DE NOME?

Apesar de tudo ou pelo mesmo, surpreende a importância concedida ao nome pelos autores das «ponencias» quarta, quinta e sexta e, simultaneamente, a sua fugida certa a nenhures para acabarem denominando confusamente o que, aliás, se deu por esclarecido. Eis um exemplo, tirado da nota 11 (p. 151), que compendia o Prof. Carrasco González:

Así lo expreso [gallego medieval aquí trasplantado] recogiendo una doble sugerencia que me hace el Prof. Fernández Rei en el transcurso de las sesiones del Congreso. Por un lado, refiriéndome al >gallego medieval=, o >antiguo= (y no al >galaico-portugués=) no sólo respondo a una perspectiva histórica determinada (que es lícita  y propia de los gallegos), sino que nos permite señalar con claridad el origen específico de los repobladores de Jálama y, por lo tanto, nos da la explicación de las características de estas hablas. Por otro lado, la imagen de que las hablas de Jálama, más que una >tercera rama= del bloque galaico-portugués, fueron una pequeña rama que se cortó del gallego antiguo y se trasplantó a tierras extremeñas, donde pudo sobrevivir autónomamente, nos permite una visión más próxima a la realidad de los hechos históricos que la más tradicional del árbol genealógico de Schleicher.

Seria admissível o uso da denominação «galego», se previamente forem fixadas a conformação do idioma, os limites do território, as condições das gentes, das culturas ou dos costumes, a que corretamente se deva atribuir esse nome e de facto se atribui. Mas «galego» não é denominação exclusiva da Galiza interior atual; também pode referir-se tanto ao território e à gentes da antiga «Galaecia» quanto aos de «Lusitania», por exemplo.

Seja como for, quem preferir aplicar tal denominação a essas falas, hoje da "Extremadura española", há-de se submeter à obriga de precisar o significado e os referentes, a "intensão" e a "extensão" do vocábulo «galego».

 

FACTOS PROVADOS OU QUAE PRO QUIBUS?

Talvez o princípio e fundamento de todo o «descubrimento» (que lhe diz Fernández Rei; em adiante FR.) e de todo o enleio ulterior seja o "achado", longamente perseguido, da "prova" definitiva, por experimental, que justificaria a tese isolacionista. Basta com ler as «ponencias» de Costas (em adiante C.) e do citado FR. para perceber o gozo "científico" que ressumbram.

 

Lembro que à partida sustinham a "tese" indiscutível (>desagregação-diassistémica, em línguas "históricas" diversas das falas "galegas" a respeito das restantes falas da Lusofonia) baseando-se apenas na realização oral: A fala "diferente" implica e explica a língua "diferente".

Porém, cedo advertiram (acho) a fraqueza do argumento, porquanto, se o critério (consideremo-lo tal) fosse "cientificamente" válido, por simples congruência haveria de admitir-se, pelo menos, que a maioria (ou todas) as línguas hoje assim estimadas são na realidade conglomerados não de dialetos, mas de línguas, que, por sua vez, poderiam (e deveriam?) ser "normadas" como línguas independentes. (Como acima indiquei, dessarte procedem os cultores do isolacionismo com os diversos conjuntos de falas "galegas". Declarados previamente homogéneos).

Se a dificuldade teórica é grave, mais grave é a prática. Se "galego" e português são línguas "diferentes" porque se falam "diferente", o mismo deve dizer-se do castelhano e do "andalú" e do "canario" e do "extremeño"..., com o qual a ciência linguística entraria em confrontação aberta com a história política e sobretudo com a ordem constitucional do «Reino de España».

Por esse motivo (e com esse fundamento), os cultores do isolacionismo inverteram a andaina e alicerçaram na história política e na ordem jurídica do «Reino de España» a divergencia oral de "galego" e português. Disseram-nos (e acaso se disseram eles antes): «Como os respetivos falantes pertencem a Estados diferentes e percorreram histórias políticas diferentes, é "vero" ou, pelo menos, "ben trovato" que os identifiquemos como falantes de línguas diferentes».

A incongruência desta inversão no processo argumentativo patenteia-se, sobretudo se temos em conta que a «Escola Filolóxica de Compostela» é filha legítima da «Escuela Española de Filología», da qual foi fundador e patrão D. Ramón Menéndez Pidal. Este Pai da Filologia Românica em diversos escritos de diferente época e público destinatário nega que as fronteiras quebrem de facto ou tenham de quebrar de iure a unidade da língua. Decerto, quando enuncia tal princípio, está a referir-se à «lengua española»; mas, se essa doutrina, também filológica, é válida para o "español", deve sê-lo para qualquer outra língua, incluído o português na Galiza.

Enquanto o caminho da oralidade terminava sempre num beco sem saída, os cultores do isolacionismo excogitaram aquilo do «galego, lingua por elaboración». Tentavam basear-se, parcelarmente, nas reflexões sociológico-classificatórias de Heinz Kloss e nas subseguintes do romanista (e sociolinguísta) Zarco Muljacic. Mas não advertiram (ou sim) que, procedendo por esse caminho, prescindiam do caráter pragmático das classificações de ambos os professores. Estes exprimiam o que era; apenas sob hipótese referiam-se ao que devia ser e menos ainda forneciam algum critério para mudar a classificação vigente das línguas da Europa e das românicas sobretudo. De facto o Prof. Muljacic coloca o "galego" em dous quadrinhos que se correspondem com as duas correntes em lida: o "galego" como forma de português  e o "galego" como língua isenta.

Se umas falas se fazem corresponder com uma determinada «ortografía» que, à partida, foi "elaborada" divergente da ortografia que se utiliza para a língua à qual aquelas falas se vinham adscrevendo, e, além disso, se essa ortografia divergente se toma como evidência da diversidade entre as línguas matriz e a "elaborada", decerto "cumpre" concluir que tais falas se tornam "cientificamente" em língua "diversa".

Por outras palavras, diretas: Se, à partida, os cultores do isolacionismo decidem que as falas "galegas" constituam uma língua distinta da matriz portuguesa e colocam esta condição na divergência gráfica, vale-lhes "elaborarem" uma grafia "divergente" para que as falas "galegas" mecanicamente se "tornem" em língua diversa, segundo dizem, «de seu».

Ora, quem assim procede, pratica o erro lógico denominado tradicionalmnte petitio principii ou círculo vicioso, nada científico com toda a certeza.

 

Como sem dúvida tais cultores terão advertido (acho) que se achavam incursos nesse erro lógico, anticientífico, procuraram ultrapassar a fraqueza do argumento, que intitulavam (como disse) "galego, lingua por elaboración", mercê de um "círculo virtuoso" que construíram sobre o achado de falas "galegas" na «Extremadura española», a seu ver, experimental e portanto definitivamente probatório. Interpretam que, pelo acusado (ou atribuído) arcaísmo e mesmo por serem "dislocadas" do seu território de origem, devem tomar-se como evidência lídima de o "galego" fruir a condição, imemorial e fontanária, de língua isenta relativamente ao português.

 

A "fala", prova definitiva da "isenção galaica"?

Examino, como se fosse observador inocente, esse achado. Antes de mais, invadem-me várias dúvidas, razoáveis, além da apontada acima sobre o conceito e extensão do apelativo "galego". Concedo que a "fala" da «Extremadura española» é "galega", mas a seguir questiono os factos aduzidos por não suficientemente provados:

1. A "fala" foi transferida em tempos remotos (séculos XII e XIII), durante os reinados de Fernando II (1137-1186) e Afonso IX (1171-1230) de Leão. Mas cabe determinar com alguma aproximação a data da translação ou translações?

2. Se fosse possível assinalar uma data, poderia fixar-se a procedência ou as procedências dos portadores da "fala"? Ambos os dados são preciosos para conhecer os traços da "fala" original de modo a compará-la com os atuais tanto da "fala" de «Extremadura» quanto das correspondentes da Galiza.

3. Além disso, indubitavelmente, apesar do isolamento (ou mercê dele), a "fala" evoluiria não necessariamente no mesmo sentido que as originárias. Como é que poderíamos estabelecer os procedimientos adequados para comprovar e comparar as respetivas evoluções ou «derivas naturais», que dizem os isolacionistas?

4. Tanto a "fala" de «Extremadura» quanto as "falas" da Galiza terão «derivado» submetidas à influência do castelhano oficial que os "falantes" receberiam, muito desigualmente, durante os sete ou oito séculos... Mas por que procedimento poderia medir-se essa influência singularmente em cada  momento da história?

5. Pelo seu lado, a "fala" de «Extremadura», dada a situação, terá recebido influência desigual do português e do castelhano (e do leonês), sobretudo da realização oral desses idiomas nos lugares vizinhos. Cabe supor que um e outro (e outro) têm incidência equivalente na «deriva natural» a qual, desse modo, ficaria interrompida ou deturpada? Como valorizaremos essa interrução ou deturpação?

6. Além disso, supõe-se que a "fala" também receberia a influência, mais ou menos indireta, do português padrão. Até que ponto essa influência pôde "torcer" a «deriva natural» da "fala"? Como poderia medir-se quantitativa e qualitativamente a sua intensidade?

7. Desde que foi implantado o serviço militar obrigatório, que influiria na "fala" dos varões, e desde que a escolarização foi obrigada, como pode caraterizar-se a inflexão do castelhano oficial, escrito, sobre a oralidade dos "falantes"? Ainda mais, qual pôde ser a incidência dos meios massivos de comunicação na «deriva natural? da "fala"?

Em soma, muitos foram os factores que puderam reconduzir a «deriva» da "fala", que sem dúvida a reconduziram. Mas como e quanto, ao longo do tempo?

 

TRAÇOS FACTUAIS

A meu ver, o mais razoável não é deambular por hipóteses mais ou menos prováveis, mas se estear nos factos, nas realizações atuais da "fala", nas orais, que haverá de comparar com as realizações orais, tanto galegas estritas (?) quanto portuguesas, próximas aos "lugaris" e mais longínquas.

 

Com efeito, segundo apontei acima, não há constância indubitável nem da origem das gentes que repovoassem esses "lugaris", nem, menos ainda, se conhecem com certeza as realizações orais das falas de aquelas gentes. Por outro lado, segundo faz FR., haverão de comparar-se com o português padrão, não só, mas também e sobretudo com o castelhano (ou «español»), oral e escrito ou normativo, porquanto o contato (?) ou, mais bem, a imersão dos "falantes" na língua nacional do «Reino de España» tem sido regra desde que se tornaram obrigados o serviço militar e a escolarização.

Essa comparação conduzirá as explicações adequadas e ajudará a extrair as consequências pert­nentes para falsar a [hipó-] tese isolacionista.

À partida, considero válidos os factos de fala que expõe FR. no apartado 3., "Trazos galegos das falas de Xálima", da sua «ponencia». Permito-me comentá-los pontualmente.

3.1. "Trazos comúns á xeneralidade das falas galegas", entre os quais, por sua vez, distingue:

[3.1.1.] "comúns á xeneralidade dos actuais falares galegos e portugueses", quer dizer, cuja «deriva natural», de todos eles, não foi divergente. Entendo que são «trazos» não diferenciais ou distintivos, de modo que nada provam -são, digamos, a maior abundamento para evidenciar que a "fala" não tem origem singular, mas comum, galaico-portuguesa.

FR. cita, parece que como ejemplos, sem procurar a exaustividade:

a) "a ausencia de ditongo" /ué/, /ié/, que não identifica com a abertura da vogal não ditongada /o/, /e/;

b) "a presencia de ditongos decrecentes" em que cumula o de evolução comum ou > oi: outro > oitro, pouco > poico e o de evolução particular da "fala" eu> ei: eu> ei, meu >mei.

Se me for permitido abusar da via probatória que FR. transita, esse traço provaria mais bem a portuguesidade da "fala" e não a sua galeguidade.

c) "o mantemento de F- latino".

d) "a perda de -L- e de -N-", que exemplifica com vozes que, na maioria das "falas" galegas (tenha-se isto bem presente), foram substituídas pelas castelhanas (coellu / conexo; ceal / cenar).

Quer dizer, é traço que se explicaria tanto por arcaísmo quanto por base portuguesa.

e) "a reducción das xeminadas -LL- e -NN-".

f) "resultado [] dos grupos -LJ-, -KL- e -G=L-".

Se a realização fosse a que diz FR, este traço provaria mais uma vez a portuguesidade da "fala" mais do que a "galeguidade", porquanto o "galego" atual (pode generalizar-se) é "yeista", sem dúvida por pressão, direta o indirecta, do castelhano "normativo".

[3.1.2.] "Outros fenómenos [...] son caracterizadores das falas galegas" e das portuguesas septentrionais. Por essa parte, continuamos na dúvida da procedência dos supostos repovoadores.

a) "inexistencia da oposición fonolóxica entre a bilabial /b/ e a labiodental /v/".

b) "mantemento da africada prepalatal [t]".

c) "terminación -eu, -ea" en adjetivos y substantivos.

d) "terminación -o [u] na P3 dos perfectos fortes".

e) "radical fag- de formas verbais".

f) "a forma impersoal hai de haber".

g) "radical viñ- no tema de perfecto de vir".

[3.1.3.] "[...] fenómenos da rexión de Xálima que son propios do galego fronte ó portugués, incluídos os falares septentrionais". Entendo que é afirmação excessivamente atrevida. Os traços que FR. cita como exclusivos do "galego" são comuns nas "falas" septentrionais até ao Porto (e ainda mais).

a) "ausencia de fonemas vocálicos nasais".

 

Ao caso digo mais: Os supostos fonemas nasais não se podem atribuir, como distintivos, ao português padrão. Segundo Jorge Morais Barbosa e Antonio Quilis devem fonologicamente analisar-se como "vogal + elemento nasal"; mas essa é análise que corresponde às vogais nasaladas tanto nas falas "galegas" quanto inclusiva ou principalmente nas falas do castelhano do sul (ou «español»), quer andaluzas, quer muitas americanas.

b) "existencia do fonema nasal velar" (nh).

c) "alomorfo lo(s), la(s) en sintagmas como agarralo cabalo, propio da maioría dos falares galegos".

d) "contraccións ó, ós resultantes do encontro da preposición a e o artigo, xerais en galego".

3.2. "Xálima, >maqueta= do galego dialectal":

Por fim FR. coloca-nos perante os fenómenos reduzidamente "galegos" e "dialectais" da "fala". Vejamos a força probátoria. Lembro que a hipótese de partida é que a "fala" realiza o diassistema linguístico galego, o qual, à partida, se tem apresentado como diverso idiomaticamente do diassistema português.

[3.2.1.] "Fonética"

a) "en Valverde hai un sistema semellante ó dos falares galegos non seseantes que é o maioritario no galego oral".

Quer dizer, o sistema consonântico medieval reduziu-se tanto na Galiza quanto nestes "lugaris". Esse é facto indiscutível, mas deve referir-se a outro facto, também indiscutível: O sistema de sibilantes historicamente é o mesmo do castelhano, até ao ponto de que tanto em galego quanto na "fala" surge um som (ou fonema?) estranho, o castelhano atual e "normativo" /x/. Em consequência, será possível negar que foram a escola e a milícia, espanholas, os factores decisivos na reorganização estrutural desse subsistema consonântico "galego"?

Topamo-nos com o fenómeno da "gheada", mais ou menos avançado, que os isolacionistas fundamentam ideologicamente na evolução interna, improvável, da língua e não na observação e interpretação do estado social e político em que, no «Reino de España», se acham os falantes de "galego" desde o século XVI sobretudo. Valverde, diz-se-nos, é o lugar menos isolado ou mais submetido à influência do castelhano oral e escrito.

b) "Nas Ellas e en San Martín hai un sistema arcaico de sibilantes que lembra, en certo modo, o de falares galegos da Limia Baixa ourensá e o de Hermisende nas Portelas de Zamora": /¥/, //, "oposición característica do portugués moderno fronte ó galego".

c) "A interdental" desaparece sempre en posición implosiva final nos tres lugares. [...] "O fenómeno xa fora salientado por Maia (2001) ó referirse conxuntamente á perda de -s (ou -z) final de palabra", sem dúvida "por influência dos vizinhos falares espanhóis da Extremadura". Fernández Rei assinala que deveriam distinguir-se ambos fenómenos, já que "[n]o galego zamorano de Porto e en puntos espallados de Ourense rexístranse for­mas sen -z  (vo, no, cru, capá, rapá)".

d) "Hai solucións de Xálima que son características do galego oriental, particularmente de puntos do Bierzo e  das Portelas de Zamora, así como de zonas de Ourense próximas".

FR. exemplifica: cutelo, escutar, truta e luta, que reconhece "semellante[s] á[s] portuguesa[s]". Melhor seria que reconhecesse que são as do português patrão ou comum.

[3.2.2.] "Morfoloxía nominal e pronominal"

a) "No plural das palabras oxítonas rematadas en -n [...] rexístrase a solución -ns do galego occidental [...] en Valverde (ladróns, razóns, folgazóns) e a solución -s do galego central nas Ellas e en San Martín (lairós, radós, folgazós)".

Bom: até aí nada de particular. Contudo, acontece que infere de mais, com desconhecimento ou precisão dos factos dialetais do português, não só continental ou europeu, mas também do americano e do africano. O próprio FR. é cônscio de tal excessiva inferência quando, depois de afirmar "esta formación de plural á galega (e non á portuguesa)", corrige: "que non son descoñecidas dalgúns falares trasmontanos", sem dúvida portugueses.

 

b) "Nas palabras polisílabas en -l a solución xeral é -is en Xálima (animais, papeis, cuadís, españois, azuis/ aduis), como en portugués e galego estándar".

Não me resisto a apontar que FR. joga com duplo baralho ou com as cartas marcadas, ao seu arbítrio. Entendo que à partida ele (e otros isolacionistas) se propunham demonstrar o facto de "fala" de «Extremadura» ser "galega" e não portuguesa, quer dizer, que os fenómenos distintivos da "fala" os são também de "falas" de territórios interiores ou exteriores à «Comunidad Autónoma de Galicia», mas, em todo o caso, integrantes do «Reino de España». Para provar essa [hipó-] tese, dizem comparar, uns e outros, com os traços distintivos das "falas" portuguesas.

Portanto, não é teoricamente nem correto nem consequente (ou lógico) referir factos de fala (mais do que "fenómenos") com preceitos pontuais da norma padrão, tanto portuguesa quanto "galega". Pertinente, neste aspeto, é a observação imediata de FR:

"No galego dialectal [= nas "falas" galegas] esta solución [en -ais] só é propia de falas orientais"

(e nem isso, já que nestas é frequente -ás en connivencia con -ales.)

Se os isolacionistas fossem cientificamente lógicos, tomariam esse facto de fala como o que deveras é, como prova do processo, comum à "fala" e às falas galegas, de castelhanização progressiva, que, imediatamente, contrastariam com a não-castelhanização das falas portuguesas. Corrobora-o a informação com que acaba o parágrafo: "Así e todo, rexístrase cuais nun texto valverdiano de comezos de século (Costas 1992 b: 91)."

c) O apontado sobre as terminações -anu, -ana nem prova nem "desprova" a hipótese de partida. Pôde poupar o parágrafo.

d) "Nos pronomes átonos non hai distinción te e che propia da maioría das falas galegas".

Curioso: O facto provaria que a "fala" evoluiu como as falas do Portugal contíguo. Mas é que o facto não é distintivo das falas galegas, como reconhece FR, mas do «galego estándar», que só em segundo termo caberia considerar.

Mais curioso ainda: "O teísmo de Xálima [...] ten un correlato nas formas sen palatalizar le, les." Não vale explicar o "fenómeno" desde o referido processo de castelhanização manifesto na "fala"?

[3.2.3.] "Morfoloxía verbal" etc.

Sobeja continuar. Os fenómenos apresentados como distintivos provam, um a um e em conjunto, tão pouco a exclusiva galeguidade da "fala" que tornam ocioso o exame mais democrado.

 

ALGUMA CONCLUSÃO?

Na parte conclusiva da sua «ponencia», FR. cita um texto de C. (1999 a: 88):

«Tanto Frías coma nosoutros estamos convencidos da "galeguidade" innegable destas falas, galeguidade por orixe e galeguidade de as compararmos cos resultados actuais das variedades galegas do sueste do noso dominio lingüístico. Gargallo Gil, gran estudioso das falas arraianas da península, acabou por admitir que efectivamente, dentro da singularidade das mesmas, a vinculación coas falas galegas é moito máis evidente que coas portuguesas, por máis que formen parte todas do mesmo diasistema lingüístico. Para Carrasco González, profesor de portugués na Universidade de E[x]tremadura, estas falas son unha póla á parte dentro do galego-portugués, a terceira póla da familia.»

A meu ver, C. e FR. não repararam na importância da expressão "forman parte todas del mismo diasistema lingüístico", que, crítica ou acriticamente considerada, desvirtua a [hipó-] tese de "galego" e português, desde os tempos medievais, serem línguas diversas. Dessarte se permitem pôr o Prof. Gargallo Gil como testemunha em prol dessa [hipó-]tese.

 

É por isso que, nas linhas que seguem, me permito percorrer o contributo do Professor ao Congreso sobre A Fala para comprovar que, filologicamente, a presunção de C. (e FR.) joga com médias certezas, inaceitáveis (ou impresentáveis?) onde quer que se procure algum grau de cientificidade. Na «ponência» que comento o Prof. Gargallo Gil escreve:

«Y vuelvo a la cuestión )Se habla gallego en Extremadura? Ese título he dado a otro trabajo mío (Gargallo 2000), donde sopeso las razones de quienes pretenden que sí. Razones históricas (repoblación medieval con colonos mayoritariamente gallegos) y razones basadas en la afinidad con el gallego propiamente dicho. Y no deja de sorprenderme que quienes no creen viable un reintegracionismo del gallego al portugués, practiquen en cambio este curioso "reintegracionismo a la inversa", según el cual no es el gallego la misma lengua que el portugués, pero sí es una variedad de la lengua gallega (y no de la portuguesa) este "gallego" de Cáceres.»

 

TRÊS PROBLEMAS OU VESSANTES

Nesse contributo ao Congreso sobre A Fala o Professor aborda sucessivamente três problemas ou vessantes relativos à questão em lida: «)Pode considerar-se "galego" a "fala" da «Extremadura española»? Metodicamente parece-me correto esse proceder, que vou seguir:

  «

1. QUE "GALEGO"?

Acertadamente começa perguntando:

«)"Gallego" o "variantes/variedades [também prefiro "variedades"] del antiguo gallego-portugués"? No me parece que lo uno y lo otro sean lo mismo. Porque son variedades resultantes del antiguo gallego-portugués tanto el portugués como el gallego actuales y ambos romances constituyen sin duda para Costas (y otros filólogos gallegos) idiomas por separado» (pp. 56-57)

Parece-me acertado, digo, mas também convém tomar como ponto de partida o factor, a meu ver decisivo, que venho assinalando: É a ação envolvente e institucional do «castellano» não tanto sobre as falas galegas e «extremeña» (que também), mas sobre os sujeitos transmissores e sobre as condições sociais, culturais, económicas e políticas em que as transmitem. Rodrigues Lapa, num determinado momento, chegou a dizer que o galego evoluido livremente é o português atual. Eu não chego a tanto. Singelamente assinalo o facto de as falas galegas e «extremeña» terem sido por séculos para os seus utentes apenas falas, sem língua de cultura própria, excepto a castelhana, idiomaticamente alheia, enquanto as falas portuguesas sempre dispuseram de língua de cultura própria, mais ou menos intensamente presente, mas sem solução de continuidade, nem no período filipino sequer.

Esse facto duradoiro autoriza o investigador a inferir que o resultado, num caso e noutro, devam ser línguas diversas? Acho que não. Seja como for, o que o filólogo ou linguísta (não digo o sociólogo da língua ou o sociolinguísta ou o "glotopoliticista"), se procura alguma consistência teórica, teria de fazer antes de emitir essa conclusão é analisar comparativamente umas e outras falas, insisto, as realizações orais.

Quem assim as analisar talvez conclua (só inicialmente?) que as falas galegas não constituem uma «lingua de seu», mas que, ao longo dos séculos, percorreram o trajeto que vai de ser expressão de autonomia idiomática à crioulização factual entre a língua de origem, galaico-portuguesa, e a envolvente, castelhana ou, antes, «española». Ainda mais, essa crioulização, por sua vez, dada a situação, perceptível em bastantes falas e falantes, é trânsito, também factual, à dialetalização ou simples variedade sinstrática da língua nacional do «Reino de España».

Cumpre acrescentar, à margem, que a "normalización" tanto de corpus, elaborada pelos isolacionistas, quanto de status, abrigada sob as instituições «españolas»Junta de Galicia», «Diputaciones», «Ayuntamientos», ...), não evita esse processo, mas, tudo o contrário, está a promovê-lo em progressão geométrica.

 

2. SENTIMENTO DOS "FALANTES"

 

O Prof. Gargallo continua (p. 57), como se respondendo as perguntas «Que opinam os "falantes", sujeitos diretamente implicados?» Quer dizer: «Qual é o sentimento dos utentes sobre a sua "fala"?, consideram que falam "galego"?».

"[...] no estoy tan convencido de que una buena parte de la población de los tres lugares respondiera afirmativamente (y sin matizaciones) [...]. Tampoco puedo asegurar que compartieran con gran entusiasmo el aserto de Costas (1999: 84) de que el valle en que reposan los tres lugares «[...] é coñecido como Aa Galicia estremeña@».

O "argumento" do sentimento dos falantes teria, para o caso da "fala", a mesma pertinência que os isolacionistas, citados, lhe atribuem para alicerçar a sua [hipó-] tese da diversidade idiomática de "galego" e português.

Com efeito, os isolacionistas toman, como fundamento cientificamente válido para inferir a diversidade idiomática de "galego" e português, o sentimento (ou «conciencia») dos falantes de falas galegas que sentem o facto, aliás evidente, de não falarem português, em particular, português padrão.

Em consequência, se estimam válido esse "argumento" para justificarem a "não-dependência" do "galego" a respeito do português, teriam de validar com igual força probatória o sentimento dos falantes da "fala" da «Extremadura» para não a tornar dependente do "galego". Mas, ao não procederem com essa lógica, evidenciam, também por este lado, a inconsistência teórica do isolacionismo que sustentam com unhas e dentes talvez, mas com escassa ciência.

 

3. FALAS DO BLOCO ROMÂNICO GALEGO-PORTUGUÊS

Coincido com o Professor Gargallo Gil em afirmar que vale tomar este como argumento filológica ou cientificamente válido, a ponderar com adecuação e prudência. Como a sua exposição me parece determinante (embora comedida: demais?), sigo-a, levemente comentada pela minha parte. Começo pela citação de uma passagem extensa:

      Es indudable [...] que dichas hablas forman parte del bloque románico gallego-portugués. En eso creo que (casi) todos los filólogos que nos hemos ocupado de ellas [...] estamos de acuerdo. De la profesora portuguesa Clarinda de Azevedo Maia, y concretamente de su modélico estudio sobre Os falares fronteiriços do concelho do Sabugal e da vizinha região de Xalma e Alamedilla [1977], extraigo una cita, referencia clave para el desentrañamiento de la entidad lingüística de nuestro enclave [...]. Ahí va la cita, tantas veces socorrida. (p. 58)

[...] a linguagem essencialmente galega dos foros de Castelo Rodrigo e dos falares da região de Xalma teriam a sua origem e explicação nos repovoadores galegos da região nos séculos XII e XIII [...]

Aunque entreverada de leonesismos, la antigua lengua de los Foros, como la actual de Xalma, respondería a una hechura esencialmente gallega. Las hablas de San Martín, Eljas y Valverde serían, pues, una prolongación de aquel tipo de lengua rayana, traída a la región por un contingente de repobladores en su mayoría gallegos.

Tal es, en esencia, el argumento histórico que esgrimen ahora quienes, con Costas, sostienen la galleguidad de mañego, lagarteiro y valverdeiro. Ahora bien, este histórico argumento entiendo yo que se habrá de contextualizar en la conjunta (y secular) historia del bloque románico gallego-portugués, que invita, según mi parecer, a otros argumentos.

Argumentos que no tienen por qué excluir aquél, pero que lo matizan y enriquecen. Para empezar, creo que una cosa será la procedencia de un tipo de gallego antiguo, y otra (bastante otra), que lo que hoy se habla en el valle sea (tout court) gallego. [...]

No sólo habría que considerar las razones históricas [...]. Al argumento histórico vale la pena sumarle el de la afinidad actual entre el romance gallego (del noroeste peninsular) y estas otras hablas romances (del noroeste extremeño). Leamos lo que escribe Costas [...] al respecto (p. 59):

Tanto Frías coma nosoutros estamos convencidos da "galeguidade" innegable destas falas, galeguidade por orixe e galeguidade de as compararmos cos resultados actuais das variedades galegas do sueste do noso dominio lingüístico [...]


Su convicción de tan innegable galleguidad lingüística, por origen y por actual afinidad, la comparto sólo a medias, con los matices que (a mi modo de ver) impone la contemplación de todo el complejo lingüístico gallego y portugués, en su dimensión histórica y actual. [...]

Y esto último es lo que sigo creyendo. Que unas y otras hablas (gallegas, mañega, lagarteira y valverdeira) forman parte del mismo mundo lingüístico gallego-portugués ("diasistema", lo llama aquí Costas). Y persisto asimismo en creer que nuestro enclave extremeño muestra en conjunto más afinidades con el gallego que con el portugués inmediato. Y admito de buena fe lo que Costas (buen conocedor de lo gallego) advierte sobre la especial afinidad con el sudeste de su dominio lingüístico gallego. (p. 60)

A meu ver, o Professor assinala vessantes não apenas adscrevíveis à Linguística estrita, desde os quais se deve encarar a questão, enunciada no título da «ponencia»: «)Se habla gallego en Extremadura? y otras cuestiones, no menos delicadas, sobre romances, gentes y tierras peninsulares de frontera (con sus nombres)».

Com efeito, é antes de mais «cuestión delicada», pelo particular nominalismo em que militam os cultores do isolacionismo, de que se gabam e com que contagiam extensamente até aos mesmos "lusistas". Mas também lhes serve de ecran ou de máscara e disfarce para ocultarem as vessantes pertinentes, que, porém, devem ser tratadas com seriedade, porque se acha em jogo não a prolongação de uma «lingua de seu», mas a identidade cultural e pessoal de numerosos cidadãos, hoje europeus, menos submetidos (idealmente) à "moderna" ditadura dos limites administrativos e mais livres para estabelecerem as relações humanas que preferirem.

Comento já a citação:

a. Diz: «Es indudable [...] que dichas hablas forman parte del bloque románico gallego-portugués.» Este me parece que tem de ser o ponto de partida: O filólogo sério teria de começar por remeter as diversas realizações orais em lida à língua histórica que hoje conhecemos pelo nome de português, à margem de os utentes serem cidadãos da República portuguesa ou do «Reino de España» e, neste, da «Comunidad Autónoma de Galicia», do «Principado de Asturias», de «Castilla y León» ou de «Extremadura».

Se o filólogo alcançar a certeza enunciada pelo Professor, o lógico será que aplique a essas falas o critério de correção idiomática universal nestas partes da Europa, nomeadamente à falas que indiscutivelmente se adscrevem ao castelhano-«español» ou ao português.

b. Continua: «Aunque entreverada de leonesismos, la antigua lengua de los Foros, como la actual de Xalma, respondería a una hechura esencialmente gallega. Las hablas de San Martín, Eljas y Valverde serían, pues, una prolongación de aquel tipo de lengua rayana, traída a la región por un contingente de repobladores en su mayoría gallegos.» Já me referi acima à repovoação indubitável, imprecisa. Por isso a observação que a seguir faz o Prof. Gargallo Gil é pertinente: «este histórico argumento entiendo yo que se habrá de contextualizar en la conjunta (y secular) historia del bloque románico gallego-portugués».

Opino, como acima apontava, que, segundo o Professor insiste (p. 61), a «cuestión crucial» não apenas «para el gallego moderno», mas para a "fala" é «la de su status con respecto al portugués.» O isolacionismo sustenta que «desde unha perspectiva sociolingüística e socioliteraria [...] na actualidade galego e portugués son dous idiomas afíns, pero diferenciados».

Cabe concordar com que as razões fornecidas, que acima esbocei, são filológica e linguísticamente válidas? Se a «perspectiva sociolingüística e socioliteraria» se impõe à «realidade dun continuum lingüístico de Ortegal ó Algarve» (que na mesma p. 61 se cita de FR), cumpre esclarecer a real natureza dessa perspetiva, que o Professor explica (talvez com alguma retranca) umas linhas abaixo, quando se refere à localização administrativa de Hermisende (Zamora):

"si esta localidad hubiera permanecido en Portugal (como hasta 1640), si siguiera aún hoy del lado portugués de la raya, )habrían llegado a considerar gallega el habla de Hermisende quienes actualmente la tienen por tal?"

E continua imediatamente:

 

Es evidente que la pertenencia a uno u otro lado de la raya (Portugal / Galicia o Zamora [desculpe-se-me, a oposição correta e adequada é: «Portugal / España+, como o Professor reconhece na nota 18]) se erige en argumento de gran peso [yo diría "definitivo"] a la hora de encuadrar, del lado gallego o del portugués, hablas bien afines, inmersas en un continuum romance (del Ortegal al Algarve) mucho más homogéneo sin duda que el comprendido entre Fisterra y el Véneto italiano. (pp. 61-62)

 

A conclusão que o Prof. Gargallo alcança e que faço minha é inabalável:

 

Para quien contempla el conjunto de lo gallego y lo portugués con talante integrador (o reintegracionista), es bizantina cuestión, por innecesaria, la de si Valverde, Eljas y San Martín hablan gallego o portugués. Portugués o gallego, aun si la afinidad es mayor con éste que con aquél, todo forma parte de la misma lengua (gallego-) portuguesa (p. 62).

 

Preencho essa conclusão com outro trecho seu, da p. 63, em que comenta, questiona ou se surpreende:

 

«si el habla de nuestros tres lugares es (más o menos) gallega, )debería escribirse a la gallega, según la normativa del gallego oficial? La propuesta normativa de Costas [...] iba por ese camino. Por el de reintegrar (en la forma escrita) la fisonomía del "gallego de Extremadura" a la del gallego común. Desde la perspectiva (lejana) de mi naciente peninsular, contemplo con cierta curiosidad (y hasta a veces con un tanto así de perplejidad) la pretensión de un nuevo reintegracionismo. No se trata del ya conocido, que procura la comunión lingüística con lo portugués, sino de una suerte de "reintegracionismo a la inversa". Según este otro planteamiento, no pertenecen a la misma lengua (gallego-portuguesa) las hablas que quedan al norte y al sur del Miño/Minho, por más vecinas que unas de otras sean, por más afines que llegaran a considerarse las unas y las otras. Y en consecuencia han de escribir distintamente su(s) lengua(s) los hablantes "miñotos" de ambas riberas. Pero sí son del mismo idioma gallego tanto el habla compostelana como las de San Martín, Eljas y Valverde. Y se habría de perseverar en que mañegos, lagarteiros y valverdeiros acabaran (o acaben) por escribir de acuerdo con una normativa afín a la del gallego oficial. (p. 63)

 

Umas últimas (derradeiras) precisões:

 

1.0 No «Reino de España» nenhuma das «lenguas españolas» tem ortografia oficial, ditada por Decreto ou Lei. É distintivo da Hispanofonia, de que o «Reino» é cabeça e antemural, face, por exemplo, à Lusofonia e à Francofonia. Se esse facto se tivesse em conta por uns (isolacionistas, incluida a «Junta de Galicia») e por outros ("luso-reintegracionistas"), a «pax graphica» seria também facto, realidade respeitada por todos, a começar pelas diversas autoridades competentes do «Reino de España».

 

2.0 Disse acima "luso-reintegracionistas", mas com alguma licença pela minha parte. Hoje existem, dentro do chamado "reintegracionismo", duas tendências e práticas diferentes e por vezes, de mais, divergentes: A dos que, desde uma «perspectiva sociolingüística» e «socioliteraria» até, sustêm que o português não pode ser utilizado na «Comunidad Autónoma de Galicia» e a dos que entendemos que não apenas se usa sem existir rechaço social, excepto o dos "muito informados"". Acrescentamos: Que quanto mais se demorar o seu uso mais dificuldades haverá para o "reintegracionismo" se [re-] naturalizar entre a gente galego-utente.

 

3.0 Penso que os tempos são chegados para entendermos e explicarmos os factos linguísticos da Galiza mais precisamente. Com efeito, acham-se confrontadas duas propostas muito desiguais: Uma, institucionalmente imposta, cujo objetivo (único?) se reduz a que as falas galegas não sejam "transcritas" a meio da ortografia portuguesa (que é a galega histórica e tradicional) e outra, extra-institucional, que, como acabo de dizer, a prática divide, ainda que alguns estimem teoricamente unida.

Mais nada por agora. Um abraço, se lograste chegar aqui.